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O adeus sereno de Leonard Cohen
O cantor e poeta canadense já vinha anunciando aos fãs, em discos e shows, que sentia sua partida cada vez mais próxima
Leonard Cohen sabia que o fim estava próximo. O cantor canadense, que morreu, na noite da última quinta-feira, em Los Angeles, aos 82 anos, de causas não divulgadas, havia acabado de lançar “You Want It Darker”, seu 14º e último disco de inéditas. O tom do disco é de despedida. Na faixa-título, ele canta: “Estou pronto, meu Senhor”.
Doente e fraco, Cohen nem saiu de casa para gravar. Gravou na sala, com a ajuda do filho, Adam, produtor do disco. Sua voz nunca esteve tão grave, áspera e sussurrada, o que colabora para o clima confessional e íntimo que domina o trabalho. “You Want It Darker” é um dos melhores discos de Cohen e encerra com brilhantismo uma carreira de 49 anos, iniciada em 1967 com o LP “Songs of Leonard Cohen”.
A carreira musical de Leonard Cohen começou tarde. Ele já tinha 33 anos quando lançou o primeiro disco, com músicas que se tornariam clássicas de seu repertório, como “Suzanne”, “So Long, Marianne”, “Sisters of Mercy” e “That’s No Way to Say Goodbye”. Até então, era conhecido por um pequeno grupo de fãs como um poeta e romancista de talento.
Mas a literatura não pagava as contas. Cohen vivia como um beatnik, frequentando cafés e saraus literários em Montreal e Nova York. No início dos anos 1960, viveu na ilha grega de Hydra, onde conheceu Marianne Ihlen, uma linda norueguesa que inspiraria canções como “Bird on the Wire” e “So Long, Marianne”.
Foi depois de conhecer os primeiros discos de Bob Dylan, seu grande ídolo musical, que Cohen percebeu ser possível fazer música pop com um texto de alta qualidade. A música também prometia mais dinheiro que a poesia, e por isso ele resolveu arriscar uma carreira de compositor. Seus primeiros discos foram inspirados pelo folk de Dylan e de outro músico cujas letras admirava, o cantor country Hank Williams (1923-1953).
Desde o primeiro LP, Leonard Cohen mostrou-se obcecado por três temas: sexo, amor e espiritualidade. Um judeu que estudou Cabala, flertou com a Cientologia e no fim da vida virou monge budista, Cohen era um homem profundamente espiritualizado e escreveu muitas letras sobre os mistérios da fé e dos livros sagrados. Sua canção mais famosa, “Hallellujah”, de 1984, menciona trechos da Bíblia e foi regravada cerca de 300 vezes, incluindo versões de Jeff Buckley, k.d. Lang e John Cale. Até o filme “Shrek” usou a canção.
“Hallellujah” também é um exemplo do método de composição perfeccionista e obsessivo de Cohen, que costumava levar meses burilando uma letra até se dar por satisfeito. A canção teve cerca de 80 versões e levou quase cinco anos para ficar pronta.
Mulheres
Mais que a fé, o tema que realmente dominou a obra de Leonard Cohen foi o amor. Ele teve uma vida amorosa das mais intensas e frequentemente descreveu-a em canções.”The Gypsy‘s Wife” (1979) fala do fim de seu relacionamento com Suzanne Elrod, mãe de sua filha, Lorca, e de seu filho, Adam.
“Chelsea Hotel # 2” (1974) narra uma noite de sexo com uma amante, que Cohen, num raríssimo ato de indiscrição, revelou ser a cantora Janis Joplin (1943-1970). Outra cantora famosa que caiu de amores por ele foi Joni Mitchell. Nos anos 1990, Cohen teve um romance com a atriz Rebecca De Mornay.
Leonard Cohen era um compositor dos compositores. Nunca fez sucesso comercial, mas era cultuado por seus pares. Suas canções foram regravadas por Nick Cave, Johnny Cash, R.E.M., Pixies, Willie Nelson, Nina Simone, Neil Diamond e muitos outros. Kurt Cobain o homenageou na letra de “Pennyroyal Tea”, do Nirvana. Mas a maior homenagem talvez seja a do cantor country Kris Kristofferson, que pediu para ter o refrão de “Bird onthe Wire” (1969) impresso em sua lápide: “Como um pássaro no fio / como um bêbado em um coral da meia-noite / eu tenho tentado, a meu modo, ser livre”.
Em 1994, Cohen se aposentou da música e foi para um monastério budista na Califórnia. O retiro durou cinco anos. Por volta de 2004, descobriu que sua empresária havia roubado quase todo seu dinheiro. Ele a processou, mas precisou voltar aos palcos para recuperar suas finanças. O trambique da empresária foi péssimo para Cohen, mas um verdadeiro delírio para seus fãs: em 2008, já com 74 anos de idade, voltou aos palcos depois de quase 15 anos, fez 387 shows em todo o mundo (exceto no Brasil!) e gravou sete discos, sendo três de estúdio e quatro ao vivo.
Na verdade, Leonard Cohen vinha se despedindo de seu público há algum tempo. Em 5 de outubro de 2012, subiu ao palco do Palacio de Deportes de Madri, vestido impecavelmente de terno e chapéu, e disse: “Amigos, não sei quando voltaremos a nos encontrar. Por isso, vamos fazer dessa noite um momento especial. Vamos dar a vocês tudo que temos”. E fez um show de 33 músicas e 4h15 de duração, que terminou com 15 mil pessoas chorando e jogando flores no palco. Foi a última vez que ele se apresentou na Espanha, terra de seu poeta favorito, Federico Garcia Lorca.
Doente e fraco, Cohen nem saiu de casa para gravar. Gravou na sala, com a ajuda do filho, Adam, produtor do disco. Sua voz nunca esteve tão grave, áspera e sussurrada, o que colabora para o clima confessional e íntimo que domina o trabalho. “You Want It Darker” é um dos melhores discos de Cohen e encerra com brilhantismo uma carreira de 49 anos, iniciada em 1967 com o LP “Songs of Leonard Cohen”.
A carreira musical de Leonard Cohen começou tarde. Ele já tinha 33 anos quando lançou o primeiro disco, com músicas que se tornariam clássicas de seu repertório, como “Suzanne”, “So Long, Marianne”, “Sisters of Mercy” e “That’s No Way to Say Goodbye”. Até então, era conhecido por um pequeno grupo de fãs como um poeta e romancista de talento.
Mas a literatura não pagava as contas. Cohen vivia como um beatnik, frequentando cafés e saraus literários em Montreal e Nova York. No início dos anos 1960, viveu na ilha grega de Hydra, onde conheceu Marianne Ihlen, uma linda norueguesa que inspiraria canções como “Bird on the Wire” e “So Long, Marianne”.
Foi depois de conhecer os primeiros discos de Bob Dylan, seu grande ídolo musical, que Cohen percebeu ser possível fazer música pop com um texto de alta qualidade. A música também prometia mais dinheiro que a poesia, e por isso ele resolveu arriscar uma carreira de compositor. Seus primeiros discos foram inspirados pelo folk de Dylan e de outro músico cujas letras admirava, o cantor country Hank Williams (1923-1953).
Desde o primeiro LP, Leonard Cohen mostrou-se obcecado por três temas: sexo, amor e espiritualidade. Um judeu que estudou Cabala, flertou com a Cientologia e no fim da vida virou monge budista, Cohen era um homem profundamente espiritualizado e escreveu muitas letras sobre os mistérios da fé e dos livros sagrados. Sua canção mais famosa, “Hallellujah”, de 1984, menciona trechos da Bíblia e foi regravada cerca de 300 vezes, incluindo versões de Jeff Buckley, k.d. Lang e John Cale. Até o filme “Shrek” usou a canção.
“Hallellujah” também é um exemplo do método de composição perfeccionista e obsessivo de Cohen, que costumava levar meses burilando uma letra até se dar por satisfeito. A canção teve cerca de 80 versões e levou quase cinco anos para ficar pronta.
Mulheres
Mais que a fé, o tema que realmente dominou a obra de Leonard Cohen foi o amor. Ele teve uma vida amorosa das mais intensas e frequentemente descreveu-a em canções.”The Gypsy‘s Wife” (1979) fala do fim de seu relacionamento com Suzanne Elrod, mãe de sua filha, Lorca, e de seu filho, Adam.
“Chelsea Hotel # 2” (1974) narra uma noite de sexo com uma amante, que Cohen, num raríssimo ato de indiscrição, revelou ser a cantora Janis Joplin (1943-1970). Outra cantora famosa que caiu de amores por ele foi Joni Mitchell. Nos anos 1990, Cohen teve um romance com a atriz Rebecca De Mornay.
Leonard Cohen era um compositor dos compositores. Nunca fez sucesso comercial, mas era cultuado por seus pares. Suas canções foram regravadas por Nick Cave, Johnny Cash, R.E.M., Pixies, Willie Nelson, Nina Simone, Neil Diamond e muitos outros. Kurt Cobain o homenageou na letra de “Pennyroyal Tea”, do Nirvana. Mas a maior homenagem talvez seja a do cantor country Kris Kristofferson, que pediu para ter o refrão de “Bird onthe Wire” (1969) impresso em sua lápide: “Como um pássaro no fio / como um bêbado em um coral da meia-noite / eu tenho tentado, a meu modo, ser livre”.
Em 1994, Cohen se aposentou da música e foi para um monastério budista na Califórnia. O retiro durou cinco anos. Por volta de 2004, descobriu que sua empresária havia roubado quase todo seu dinheiro. Ele a processou, mas precisou voltar aos palcos para recuperar suas finanças. O trambique da empresária foi péssimo para Cohen, mas um verdadeiro delírio para seus fãs: em 2008, já com 74 anos de idade, voltou aos palcos depois de quase 15 anos, fez 387 shows em todo o mundo (exceto no Brasil!) e gravou sete discos, sendo três de estúdio e quatro ao vivo.
Na verdade, Leonard Cohen vinha se despedindo de seu público há algum tempo. Em 5 de outubro de 2012, subiu ao palco do Palacio de Deportes de Madri, vestido impecavelmente de terno e chapéu, e disse: “Amigos, não sei quando voltaremos a nos encontrar. Por isso, vamos fazer dessa noite um momento especial. Vamos dar a vocês tudo que temos”. E fez um show de 33 músicas e 4h15 de duração, que terminou com 15 mil pessoas chorando e jogando flores no palco. Foi a última vez que ele se apresentou na Espanha, terra de seu poeta favorito, Federico Garcia Lorca.
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