O mea culpa do Oscar?
Ao contrário de edições anteriores, a lista deste ano tem a presença de atores negros e obras com temática racial
A indústria de cinema hollywoodiana tem uma dívida histórica com a representação negra. No entanto, ela parece estar em busca de redenção e a presença de filmes com a temática racial no Oscar deste ano é um dos motivos que nos levam a crer nisso. Dentre os 20 filmes indicados para as principais categorias, cinco deles estão concorrendo à estatueta e trazem consigo protagonistas negros. Dentre os destaques estão “Moonlight: sob a luz do luar”, com oito indicações, e “Cercas”, com quatro indicações.
Historicamente, a presença tanto de atores negros, quanto de filmes com temática racial indicados ao Oscar era inexpressiva. Em 2015 e 2016, a premiação não nomeou nenhum ator negro entre os 20 concorrentes para as categorias de atuação. Mas os números são ainda mais assustadores: nos 88 anos de história do Oscar, apenas 14 negros ganharam a estatueta nas categorias que julgam as melhores interpretações e apenas 5 ganharam o prêmio de melhor ator ou atriz, que foram Sidney Poitier, Denzel Washington, Halle Berry, Jamie Foxx e Forest Whitaker.
Este ano, além de filmes que tratam objetivamente sobre questões raciais, vimos surgir produções que vão além e abraçam outras causas sociais. “Estrelas além do tempo”, de Theodore Melfi, traz um poderoso discurso feminista ao contar a história de três mulheres que foram decisivas no programa espacial norte-americano durante a Guerra Fria, mas ficaram reclusas aos bastidores dos grandes fatos por serem mulheres negras. A película tem indicações para Melhor Filme, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Roteiro Adaptado.
“Moana: um mar de aventuras”, da Disney, que está concorrendo para melhor animação, também é uma produção que mostra o tema do feminismo racial, apontando para uma redenção da produtora com a tématica depois do fracasso de “A princesa e o sapo”, de 2009. No filme, Moana é uma jovem negra que lidera uma aventura em busca de descobrir a origem de seus antepassados e ajudar a sua tribo, o que explicita o empoderamento da protagonista.
Outro filme que destaca a força da mulher negra em meio ao machismo familiar é “Cercas”, dirigido por Denzel Washington - indicado para Melhor Ator. Viola Davis, com uma atuação poderosa, carrega o filme nas costas na pele de uma dona de casa responsável por ser o pilar que sustenta sua família que vive em conflitos por causa do patriarca, Troy (Denzel). A atriz foi indicada para a categoria de Melhor Atriz Coadjuvante, na qual também foram nomeadas Octavia Spencer, de "Estrelas além do tempo" e Naomie Harris, de "Moonlight: sob a luz do luar". Essa é a primeira vez na história que três atrizes negras são indicadas na mesma categoria. Octavia, inclusive, é a primeira atriz negra a voltar a concorrer ao Oscar após vencer - ganhou Melhor Atriz Coadjuvante, por "Histórias Cruzadas". Outra importante indicação foi a de Ruth Negga, para Melhor Atriz, por “Loving”, um drama sobre um casal interracial nos Estados Unidos segregacionista dos anos 1960.
Além do feminismo, o segmento LGBT também foi contemplado este ano. “Moonlight: sob a luz do luar”, de Barry Jenkins, conta a história de um rapaz gay e negro, expondo todas as relações que interseccionam sexualidade e raça em sua vida. A importância do filme se finca principalmente no fato de não se ater a estereótipos comumente vistos em produções cujos protagonistas são homossexuais, como a comedialização de trejeitos afeminados, sexualização da relação homoafetiva ou dramatização excessiva de dilemas da vivência LGBT.
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