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Os outros ângulos de David Lynch são expostos em documentário

Filme, em cartaz no Cinema do Museu, deixa de lado os mitos que envolvem o cineasta para revelar o homem por trás da obra

David Lynch, cineastaDavid Lynch, cineasta - Foto: Fênix Filmes/Divulgação

Quando se fala na obra de David Lynch, é comum associar pesadelos, surrealismo e sequências perturbadoras. Mas, ao contrário do que possa parecer, o cineasta norte-americano, responsável por filmes como “Veludo Azul” e a série de TV “Twin Peaks”, leva uma vida extremamente zen e teve a infância e a juventude dos sonhos. Seus anos de formação são mote do documentário “David Lynch: A Vida de um Artista”, que continua em cartaz no Cinema do Museu (Casa Forte), a partir desta terça-feira (5).

Os fãs casuais do cineasta devem ser avisados. Não há qualquer menção aprofundada aos filmes de Lynch pós-“Eraserhead” (1977), produção experimental que levou cinco anos para ser produzida, e foi seu primeiro trabalho no cinema. Também não espere ver o cineasta, já conhecido por valorizar a interpretação do espectador, recusando-se sempre a explicar suas obras, entrar em detalhes sobre os próprios filmes. De forma curiosa, o David Lynch que vemos na tela é mais pintor, carpinteiro e músico do que cineasta.

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O material é contado sob a narrativa do próprio artista, ao longo de três anos de entrevistas. Figuras como a família do cineasta são retratadas apenas em imagens e material de arquivo. A única a contracenar com Lynch é a pequena Lula, sua filha de cinco anos.

Lynch descreve com nostalgia sua infância em Missoula, Montana, na área central dos Estados Unidos. É possível perceber como a paixão pelo “sonho americano”, ou a idealização da vida perfeita virou tema recorrente em seus filmes, como o próprio “Veludo Azul” (1986) e “Cidade dos Sonhos” (2001). No mundo Lynchiano, entretanto, essa aparente normalidade é apenas uma capa para a sordidez escondida por baixo da aparente normalidade.

As sequências mais interessantes do documentário são quando David descreve seus primeiros projetos nas artes visuais, especialmente a pintura. Foi do desejo de ver “as pinturas se movendo” que o cineasta buscou se aproximar do cinema, no início dos anos 1970.

Ao contrário de documentários biográficos como “De Palma” ou “Hitchcock/Truffaut”, “David Lynch: A Vida de um Artista” não busca desmistificar o universo particular de seu protagonista, mas em momentos sutis, é possível perceber quebras na relutância do cineasta em se referenciar, proporcionado vislumbres, mesmo que curtos, de quem é de fato o homem por trás da obra.

O início
“A Vida de um Artista” culmina com o início da produção de “Eraserhead”, seu primeiro longa, filmado entre 1972 e 1975, lançado em 1977. O filme é até hoje referência para o cinema marginal e a temática surrealista, que influenciou até nomes de peso como Stanley Kubrick, que exibiu o filme para sua equipe antes das gravações de “O Iluminado” (1980).

Série chega ao fim

Mais recente trabalho de Lynch, a terceira temporada da série “Twin Peaks”, de volta à TV após 25 anos, teve os dois últimos episódios disponibilizados nesta segunda-feira (4) pela Netflix brasileira. Nos Estados Unidos, a série é exibida pelo canal pago Showtime. A produção marcou o fim do hiato de 10 anos desde o último filme do diretor. Muitos fãs aguardam que Lynch decida realizar uma quarta temporada.

Cotação: Bom

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