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Os últimos poemas de Moraes Moreira

Em suas últimaa postagens nas redes sociais, o cantor e compositor divulgou trabalhos que chamou de "Sombra" e "Quarentena"

Moraes usava o tempo livre para escreverMoraes usava o tempo livre para escrever - Foto: Reprodução Instagram

Moraes Moreira fez a sua última postagem no Instagram no dia 18 de março. Àquela altura, o cantor e compositor já sofria com a solidão do isolamento social por causa da pandemia do novo coronavírus. Como estava em grupo de risco, aos 72 anos, o músico sentia a falta do contato presencial com família e com os amigos. O baiano aproveitou o tempo para escrever, uma das coisas que fazia de melhor. "Oi, pessoal, estou aqui na Gávea, entre minha casa e escritório que ficam próximos, cumprindo minha quarentena, tocando e escrevendo sem parar. Este cordel nasceu na madrugada do dia 17, envio para apreciação de vocês", revelava, assim, um dos seus últimos poemas.

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Nos versos, Moraes fala do medo do coronavírus, de bala perdida e ressalta a sua fé na ciência. "Eu não queria essa praga/Que não é mais do Egito/Não quero que ela traga/O mal que sempre eu evito,/Os males não são eternos/Pois os recursos modernos/ Estão aí, acredito", diz trecho do cordel. E Moraes segue falando de questões como machismo e preconceito.

No dia 28 de março, no entanto, Moraes voltou às redes, desta vez ao Facebook, e fez mais uma postagem, com um poema que chamou de "Sombra". "Uma poesia sempre traz um alento nesses momentos", sentenciou o músico. Leia os dois textos completos:



Quarentena (Moraes Moreira)

Eu temo o coronavirus
E zelo por minha vida
Mas tenho medo de tiros
Também de bala perdida,
A nossa fé é vacina
O professor que me ensina
Será minha própria lida

Assombra-me a pandemia
Que agora domina o mundo
Mas tenho uma garantia
Não sou nenhum vagabundo,
Porque todo cidadão
Merece mas atenção
O sentimento é profundo

Eu não queria essa praga
Que não é mais do Egito
Não quero que ela traga
O mal que sempre eu evito,
Os males não são eternos
Pois os recursos modernos
Estão aí, acredito

De quem será esse lucro
Ou mesmo a teoria?
Detesto falar de estrupo
Eu gosto é de poesia,
Mas creio na consciência
E digo não a todo dia

Eu tenho medo do excesso
Que seja em qualquer sentido
Mas também do retrocesso
Que por aí escondido,
Às vezes é o que notamos
Passar o que já passamos
Jamais será esquecido

Até aceito a polícia
Mas quando muda de letra
E se transforma em milícia
Odeio essa mutreta,
Pra combater o que alarma
Só tenho mesmo uma arma
Que é a minha caneta

Com tanta coisa inda cismo....
Estão na ordem do dia
Eu digo não ao machismo
Também a misoginia,
Tem outros que eu não aceito
É o tal do preconceito
E as sombras da hipocrisia

As coisas já forem postas
Mas prevalecem os relés
Queremos sim ter respostas
Sobre as nossas Marielles,
Em meio a um mundo efêmero
Não é só questão de gênero
Nem de homens ou mulheres

O que vale é o ser humano
E sua dignidade
Vivemos num mundo insano
Queremos mais liberdade,
Pra que tudo isso mude
Certeza, ninguém se ilude
Não tem tempo,nem idade

 

Sombra (Moraes Moreira)

Nem tudo aquilo que assombra
À escuridão nos reduz
Ouvi dizer que onde há sombra
É certo que haverá luz

Iluminar esses cantos
Será o nosso desejo
Pra revelar os encantos
Daquilo que eu nunca vejo

E mesmo que a sujeição
Se torne um mal que não fito
Teremos sim afeição
Pra combater o neófito

Apesar da nossa sede
Nesses momentos de dor
Fique reparando a rede
Não vai pro mar pescador 

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