Oscar 2020 mostra que a diversidade ainda não atingiu o patamar necessário quando o assunto é cinema
Presença feminina entre os diretores indicados ao prêmio foi escassa, mas o escritor Stephen King, um dos jurados, declarou que a diversidade não é um critério a ser levado em conta. Problema acontece também na produção cinematográfica do Brasil e de Pern
A cerimônia do Oscar 2020 acontecerá apenas no dia 9 de fevereiro, mas o mundo todo aguarda ansioso pelos resultados - inclusive os brasileiros, que serão representados pelo documentário "Democracia em vertigem", de Petra Costa. Petra é uma das poucas mulheres que participam da cerimônia, além das indicadas ao título de melhores atrizes. Contrariando uma tendência de mercado (em 2019, procurando dar um pouco mais de espaço à representatividade, 12% dos cem filmes de maior bilheteria foram dirigidos por mulheres), a presença feminina entre os diretores indicados ao prêmio foi escassa.
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Mas isto não é novidade, já que nos últimos dez anos, dentre 50 possibilidades de indicação, apenas uma mulher esteve entre os candidatos da maior categoria individual: justamente Greta, com "Lady Bird", em 2018. Na semana passada, a novidade (ou não) foi a declaração do escritor e roteirista Stephen King, um dos jurados do Oscar, de que não se preocupa com diversidade quando se trata de indicar obras à premiação. "Eu nunca consideraria a diversidade, apenas a qualidade", afirmou ele, que indicou obras para melhor filme, melhor roteiro adaptado e melhor roteiro original. A afirmação gerou polêmica nas redes sociais, com respostas como a da diretora negra AvaDuVernay, que postou que quando acorda e "vê um tuíte de alguém que você admira e é tão atrasado e ignorante", sua vontade é "voltar para a cama".
Para a coordenadora de cinema da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Ana Farache, o cinema, nos Estados Unidos e no resto do mundo, inclusive no Brasil, "se instituiu com a presença majoritária de homens brancos, originalmente de classe média, com participação feminina inicialmente quase que exclusivamente no elenco das produções". "Ainda estamos no começo de um longo percurso que a mulher precisa percorrer para ocupar seu espaço devido e merecido no audiovisual", pontua Ana.
Traçando um paralelo com a produção brasileira e pernambucana, pode-se perceber, como destaca Kalor Pacheco, que o acesso à produção e à formação ainda está centrado na branquitude e no gênero masculino. "As coisas vêm andando, muito como resposta aos movimentos sociais, às lutas, à implementação das cotas nas universidades públicas, que vêm dando acesso a uma parcela da população que não tinha acesso a elas. A guerra é acirrada. O incentivo público à produção audiovisual aqui em Pernambuco existe há uns quinze anos, mas só há três começou a haver ações afirmativas de gênero e de raça", afirma Kalor.

Ana Farache diz que historicamente o cinema foi construído com a presença majoritária de homens brancos de classe média - Crédito: Kleyvson Santos/Folha de Pernambuco
As duas citam o exemplo da cineasta mineira Adélia Sampaio: negra e filha de uma empregada doméstica, ela ousou filmar o longa-metragem "Amor Maldito" (1984), que traz um casal de lésbicas. Foi o primeiro filme nesse formato feito por uma mulher negra no Brasil. "As exceções à regra sempre existiram, mas a porta precisava ser arrombada com os dois pés", analisa Kalor.

Paula Fiuza acredita que a igualdade nas produções de cinema pode ser construída através de grupos de suporte e políticas de apoio à diversidade - Crédito: Divulgação
Para Paula, no universo do cinema, "que a princípio devia ser por natureza mais criativo e menos preconceituoso", persistem sérias discriminações e diferenças. "É preciso construir uma igualdade e isso se faz com grupos de suporte e políticas de apoio à diversidade", descreve.
Autora do longa-metragem "Sobral, o homem que não tinha preço" (2013) e da série "Pra onde corre o Rio" (2020), ela é irônica ao analisar quem é contrário à necessidade de se ter múltiplos olhares tanto na hora de produzir, como de atingir o público do cinema. "Falando na linguagem que algumas pessoas entendem melhor, que é a do dinheiro, é bom lembrar que as pesquisas mostram que quem decide qual filme assistir é a mulher do casal", brinca.
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