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DESPEDIDA

Ozzy Osbourne toca pela última vez com Black Sabbath em festival na Inglaterra

Aos 76 anos, a lenda do metal subiu ao palco com os integrantes originais de sua banda em Birmingham, sua cidade natal, na noite deste sábado (5)

Ozzy Osbourne Ozzy Osbourne  - Foto: Divulgação

“Olhem para todo esse amor pelo heavy metal”, disse James Hetfield, guitarrista e vocalista do Metallica, ao contemplar a multidão no Villa Park, um estádio de futebol em Birmingham, na Inglaterra, neste sábado (5).

Sua banda foi a última a se apresentar em um dia repleto de shows de grandes nomes do metal, incluindo veteranos e artistas que moldaram o gênero, antes da entrada do homenageado da noite e herói da cidade: Ozzy Osbourne.

O evento, um festival de um dia chamado Back to the Beginning (De volta ao começo), foi concebido como uma homenagem e também como a despedida de Osbourne, que se afastou das apresentações ao vivo devido a problemas de saúde, incluindo mal de Parkinson e enfisema.

Em Birmingham, ele fez seu primeiro show solo em sete anos e, pela primeira vez desde 2005, reuniu-se com o guitarrista Tony Iommi, o baixista Terence “Geezer” Butler e o baterista Bill Ward, os outros três integrantes originais do Black Sabbath, sua revolucionária banda dos anos 1970, para um set de quatro músicas.

Ambas as apresentações foram anunciadas como as últimas da carreira do roqueiro. O festival foi transmitido mundialmente com duas horas de atraso.

“O Metallica está imensamente grato por ter sido convidado para estar aqui, ver os rostos lindos de vocês todos e celebrar a banda Black Sabbath, porque sem eles não haveria Metallica”, continuou Hetfield. “Obrigado, rapazes, por nos darem um propósito na vida! Obrigado, Black Sabbath!”

A gratidão foi um tema constante ao longo do festival. Os artistas não apenas citaram Black Sabbath como inspiração musical, mas também atribuíram à banda o mérito de ter fomentado uma subcultura global.

“Preciso dizer o quanto isso tudo é bonito, porque não importa quanta loucura e divisão exista lá fora, aqui dentro, tudo é muito simples”, disse William DuVall, vocalista do Alice in Chains, à plateia. “Somos todos apenas um bando de malucos balançando a cabeça e apaixonados por riffs.”

No espírito das antigas turnês Ozzfest, organizadas por Osbourne, a escalação do festival refletiu a natureza poliglota da comunidade do metal hoje, ilustrando uma espécie de árvore genealógica viva do gênero, com Black Sabbath como raiz.

Apresentaram-se nomes do thrash metal dos anos 1980 (Metallica, Slayer, Anthrax), do grunge e do rock alternativo dos anos 1990 (Alice in Chains, Tool, Billy Corgan, dos Smashing Pumpkins) e da sonoridade mais pesada produzida do século XXI (Mastodon, Lamb of God, Gojira).

Também subiram ao palco alguns contemporâneos do Sabbath (Steven Tyler, do Aerosmith, Sammy Hagar, ex-vocalista do Van Halen, e Ronnie Wood, guitarrista dos Rolling Stones). Entre os shows, a transmissão incluiu calorosas homenagens de fãs ilustres como Dolly Parton, Cyndi Lauper e Elton John.

O ator Jason Momoa, fã orgulhoso e vocal do metal, foi o anfitrião do evento, fazendo apresentações empolgadas das bandas e se jogando alegremente na roda-punk durante o show do Pantera.

Cada artista interpretou pelo menos uma música do Sabbath ou da carreira solo de Osbourne, além de canções próprias. Em diversos momentos, formaram-se supergrupos, com músicos se juntando para tocar clássicos. Uma formação improvável — composta por Morello, Corgan, os integrantes do Tool Adam Jones e Danny Carey, o ex-guitarrista do Judas Priest K.K. Downing e o baixista Rudy Sarzo (da banda de Osbourne nos anos 1980) — mostrou o alcance da influência de Osbourne e do Sabbath.

Embora o show tenha parecido uma mixtape com alguns dos maiores riffs do metal e do hard rock — “Master of Puppets”, do Metallica, “Angel of Death”, do Slayer, “Walk”, do Pantera, “Paradise City”, do Guns N’ Roses, “Blood and Thunder”, do Mastodon e “Forty Six & 2”, do Tool — nenhum deles pareceu tão monumental quanto os do próprio catálogo do Sabbath.

O assombro e a alegria ao reproduzi-los estavam estampados no rosto de veteranos do metal como Scott Ian, guitarrista do Anthrax, cuja banda tocou a espiralante e ameaçadora “Into the Void”, e Phil Anselmo, vocalista do Pantera, que cantou a segunda versão da noite da psicodélica e inquietante “Electric Funeral”.

O grand finale do próprio Sabbath serviu como um lembrete de que nenhum outro grupo de metal conseguiu reproduzir os grooves viscosos que Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward desenvolveram no final dos anos 1960 e início dos 1970 — músicos tão imersos no blues, no jazz e no R&B quanto no então nascente hard rock.

Depois de uma reunião prometida com Ward, em 2011, que não se concretizou, o Sabbath gravou e fez turnês com outros bateristas, tornando o show de sábado um retorno muito aguardado — e que correspondeu às expectativas.

A banda começou de forma um pouco hesitante com “War Pigs”, mas encontrou seu ritmo em “N.I.B.” e “Iron Man”, culminando com o encerramento em “Paranoid”, exibindo o balanço arrastado e a fluidez improvisada que tornaram o grupo um padrão-ouro para os aficionados do peso vintage. Assim como fez na cerimônia do Hall da Fama do Rock & Roll no ano passado, Osbourne se apresentou sentado em um trono negro ornamentado, com caveiras e asas de morcego. Ele demonstrava um prazer visível tanto com a performance dos colegas quanto com o entusiasmo da plateia.

Falando ao público antes de “Paranoid”, Osbourne expressou profunda gratidão: “Infelizmente, chegamos à nossa última música… De todos os tempos”, disse ele, após uma pausa, com um tom levemente melancólico.

“Quero apenas dizer a vocês, em nome dos rapazes do Black Sabbath e de mim mesmo, que o apoio de vocês ao longo dos anos tornou possível vivermos o estilo de vida que temos. Obrigado, do fundo do meu coração. Eu amo vocês, nós amamos vocês.”

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