Parceria

Penélope Cruz: 'Almodóvar e eu vamos ficar juntos para sempre'

Atriz estrela o novo filme do diretor, "Mães Paralelas", que chega ao Brasil em fevereiro

Penélope Cruz em "Mães Paralelas"Penélope Cruz em "Mães Paralelas" - Foto: Divulgação

Quando ainda era uma menina em Madri, Penélope Cruz assistia aos filmes de Pedro Almodóvar, esperando que um dia o diretor arrumasse um lugar para ela em seu mundo colorido e ousado. Ela sonhava tanto que, quando ele telefonou pela primeira vez, parecia que os dois já se conheciam. Esse laço foi confirmado mais tarde quando Almodóvar a convidou para uma leitura de cenas em seu apartamento. Penélope, uma atriz novata - era 1992 e os dois primeiros filmes dela, “Jamón Jamón” e “Belle Epoque” tinham acabado de sair - sentiu que a conexão entre os dois era natural.

"É difícil explicar sem soar estranho, mas nós nos conhecemos e lemos os pensamentos um do outro", diz a atriz de 47 anos, estrela do novo filme de Almodóvar, “Mães paralelas”, com estreia brasileira prevista em 18 de fevereiro. A sétima parceria entre os dois já rendeu a ela prêmios no Festival de Cinema de Veneza, da Associação e Críticos de Los Angeles e da Associação Nacional de Críticos de Cinema dos EUA. Penélope ainda pode conquistar sua quarta indicação ao Oscar. Ela levou o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante em 2009 por “Vicky Cristina Barcelona”, Woody Allen.

Pedro Almodóvar diz que o poder da convicção de Penélope foi a chave da relação dos dois. "Ela tem uma fé cega em mim. Está convencida de que sou um diretor e um roteirista melhor do que realmente sou. Essa fé me dá confiança para pedir qualquer coisa a ela. Ao mesmo tempo, a confiança que ela tem em mim a permite fazer coisas durante as filmagens que talvez não ousasse com outros diretores. Penélope sabe que a estou observando com mil olhos".
 

Almodóvar falou pela primeira vez a Penélope sobre “Mães paralelas” em 1999. Os dois tinham feito “Carne trêmula” e “Tudo sobre minha mãe”, nos quais ela interpretava gestantes. Teria sido a terceira personagem grávida seguida, mas ele engavetou o projeto. Quando finalmente entraram no set, Penélope , que interpreta a fotógrafa Janis, uma das duas mulheres que se descobrem grávidas nos difíceis anos do franquismo na Espanha, contava os dias para as cenas mais difíceis.

"Eu sabia que haveria adrenalina, talvez a filmagem mais intensa desde sempre, e foi", diz ela, que, devastada depois de uma dessas cenas precisou ser amparada por Almodóvar. "Quando eu olho para trás, não lembro como um sofrimento porque foi para ela, para Janis, ou para todas as mulheres que poderiam estar na mesma situação, perdendo o que amam mais. Para mim, ela estava viva, é uma criatura real que ele criou", explica.

Por isso quando Penélope diz que “Mães paralelas” é o filme mais difícil que já fez, ela o diz de uma maneira boa. Embora ela e a personagem sejam parecidas, interpretar Janis levou a atriz para longe de si mesma. "Ela me deu muito e me fez me sentir viva criativamente. Eu estava emocionalmente exausta, mas ao mesmo tempo, aproveitando cada segundo".

Quem conhece a atriz costuma usar um adjetivo em relação a ela: teimosa. Mas o que a faz tão determinada e segura de si? Talvez o fato de ser taurina ou alguma outra coisa da infância, quando estudou balé clássico durante anos, algumas vezes ensaiando quatro horas por dia. "Toda a minha vida ouvi que sou teimosa. Não sei se é porque sou taurina. Mas o sentimento de ter os dedos sangrando e continuar sorrindo é algo que forma você".

Quando sua carreira começou a esquentar e os filmes americanos a chegar, ela continuou a sorrir mesmo que Hollywood algumas vezes a fizesse ficar na ponta dos pés. Diretores de língua inglesa nem sempre sabiam o que fazer com Penélope, que era chamada para papéis de “interese amoroso de alguém”, como em “Terra de paixões”. Alguns desses filmes decolaram, como “Vanilla sky”, mas foi só quando ela voltou para Almodóvar, em “Volver”, filme de 2006, que Penélope conseguiu sua primeira indicação ao Oscar, além de ter mostrado a Hollywood a atuação que poderia entregar.

“Vicky Cristina Barcelona” veio dois anos depois, seguido por outra indicação ao Oscar pelo musical “Nine”. Desde então, Penélope tem alternado grandes filmes de Hollywood, como a ação “As agentes 355”, atualmente em cartaz no Brasil, e filmes mais humanos na Espanha. De tempos em tempos, ela sempre se reúne com Almodóvar, que está sempre disposto a levá-la a outro patamar.

"Em seus papéis espanhóis é mais fácil testemunhar seu crescimento e extraordinária versatilidade. Mesmo que eu soubesse que Hollywood se interessaria por ela, Penélope não desenvolveu sua capacidade máxima nos papéis em inglês", diz o diretor, para quem o melhor papel americano de da atriz até hoje foi na minissérie de 2018 “O assassinato de Gianni Versace”, em que ela interpretou Donatella Versace. "Mas o melhor de Penélope no mercado americano ainda está por vir", diz.

Penélope, que é mãe de Leo e Luna, do casamento com oator Javier Bardem, diz que a maternidade a fez entender os dilemas de sua personagem em “Mães Paralelas”. "Muitas pessoas me dizem, 'eu sei que ela tem esse dilema moral, mas o que faz não é muito ético', e eu pergunto: 'você é pai ou mãe?' Porque se for, talvez imagine a situação".

Em dezembro, quando Penélope foi homenageada no Museu de Arte Moderna de Nova York por sua carreira , Almodóvar mandou um vídeo: “Você me disse que, quando eu ficasse velho, tomaria conta de mim. Ainda não estou, mas espero que cumpra a sua promessa. Quando eu for velho, espero que você venha e se torne, nesse caso, minha mãe”, disse ele.

"Pode me imaginar vendo esse vídeo antes de ter de falar? O que é engraçado é que ele não me diria isso pessoalmente", diz a atriz, que lembra da conversa a qual Almodóvar se referiu. "Ao mandar a mensagem, ele não está apenas pedindo algo, mas me colocando num lugar valioso em sua vida. É uma maneira de dizer 'Eu quero que nós fiquemos conectados para sempre'".

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