Poder da milícia move a trama da série "Um dia qualquer"
Trama estreia no canal pago Space, com cinco episódios, a partir desta segunda-feira
A realidade dos subúrbios cariocas - que espelha elementos comuns a outras localidades brasileiras - é a fonte de inspiração de “Um dia qualquer”, série que estreia nesta segunda-feira (17), às 22h, no canal de TV por assinatura Space. Tráfico, corrupção, a presença das igrejas evangélicas e o avanço das milícias em espaços onde o poder público é omisso costuram a trama, que se passa ao longo de 24 horas, entrecortada por flashbacks.
O seriado é uma coprodução com a Elixir Entretenimento e Com Domínio Filmes, com direção de Pedro von Krüger e produção de Denis Feijão. Serão exibidos cinco episódios diários, de 25 minutos cada, sempre no mesmo horário, até a sexta-feira. No sábado, o canal transmite uma maratona completa, a partir das 18h.
Repleta de fortes emoções, a obra mostra como o cotidiano aparentemente calmo de uma comunidade pode esconder violências diárias. Através de Penha, personagem da atriz Mariana Nunes, o público acompanha o desespero de uma mãe em busca do paradeiro de seu filho, mais uma possível vítima do poder paralelo instaurado naquela região. A história encontra conexões com tantos casos recentes de jovens negros mortos em ações policiais no Brasil.
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“Estamos aqui para jogar uma luz sobre temas complexos da contemporaneidade. Queremos gerar uma discussão na sociedade. Quando a gente escreveu o roteiro, botamos um miliciano querendo ser candidato a vereador e hoje temos o Escritório do Crime (milícia carioca) sendo discutido em âmbito federal. O Rio de Janeiro está exportando esse sistema para o País, o que precisa ser travado urgentemente”, comenta Pedro, em coletiva de imprensa virtual promovida pelo Space.
O personagem mencionado pelo diretor é Quirino. Decepcionado com a eficácia da segurança pública, o ex-policial passa a desempenhar o papel de Estado em sua vizinhança, seguindo suas próprias leis. Para interpretar o miliciano, o ator Augusto Madeira conta que procurou não exercer juízo de valor. “A primeira coisa que move esse homem, mesmo que de uma forma torta, é o senso de justiça. Eu tentei fazê-lo muito cansado, porque imagino que, depois de tanto tempo impondo esse regime à base de violência, ele carrega um peso muito grande nas costas”, afirma.
Por vezes, a narrativa volta no tempo, em um retrospecto de 10 anos, para mostrar a origem dos seus protagonistas. Conhecemos o passado de Penha e seu marido, Seu Chapa, líder do tráfico local, que acaba perdendo espaço (e a vida) para o projeto de poder de Quirino. Jefferson Brasil conta que relutou em aceitar o papel de traficante.
“Como já tinha feito muitos tipos com esse mesmo estereótipo, fiquei com um pé atrás. Mas depois vi a importância de defender esse personagem. Vejo o Seu Chapa como vítima de uma elite branca que vem há tempos anulando a nossa história. O envolvimento dele com o crime se dá na hora que ele vê o desespero de ter uma família para sustentar e não ter oportunidades. A gente vê o povo preto sendo massacrado e, através desse papel, posso falar sobre isso com as famílias do Brasil”, aponta.
“No caso da Penha, há o lugar da mãe, com emoções muito fortes e um ar trágico, mas também outras questões. Sabemos as relações que ela teve antes da maternidade, o que mudou na vida dela e o que ela teve que fazer para sobreviver. Em outros personagens que já vivi na TV, não tive tantas camadas assim para trabalhar”, analisa Mariana.
O elenco ainda conta com atores como Vinicius de Oliveira, Willean Reis, Juan Paiva, Eli Ferreir, Samuel Melo, Tainá Medina e Gabriel Leal. As cenas foram gravadas em 2018, em locações na Zona Norte do Rio. O projeto prevê, além da série, o lançamento de um filme. A estreia do longa-metragem nas salas de cinema, que estava prevista para fevereiro deste ano, foi adiada graças à paralisação no repasse de verbas do Fundo Setorial do Audiovisual. A obra, no entanto, já percorreu alguns festivais nacionais e internacionais.