Produtores reagem à cobrança do MinC contra Kleber Mendonça Filho
Profissionais do cinema criticam decisão do Ministério da Cultura, que cobra R$ 2,2 milhões ao cineasta. O valor se refere a edital conquistado em 2009
O anúncio que o Ministério da Cultura (MinC) está cobrando R$ 2,2 milhões ao cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho chamou a atenção de profissionais pernambucanos ligados ao cinema. O valor seria relativo a uma verba de um edital de baixo orçamento para o filme "O som ao redor", conquistado em 2009, que, segundo o MinC, foi vencido de maneira irregular.
Para o produtor João Vieira Jr., da Carnaval Filmes, responsável pela produção de filmes pernambucanos como "Baixio das bestas" (2007), de Cláudio Assis, "Tatuagem" (2013), de Hilton Lacerda, e "Joaquim" (2017), de Marcelo Gomes, esse caso corresponde a uma exceção.
"Captar recursos em diferentes editais é comum. Mas isso depende das regras de cada edital. Pelo conhecimento que tenho, o edital para filmes de baixo orçamento impedia outros recursos federais. E, neste caso, o recurso complementar que Kleber captou era estadual. Então acho que não existe nenhuma incoerência", diz o produtor.
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"Acho muito grave essa prática. Não tenho conhecimento de outros casos assim. A Ancine aprovou esse redirecionamento do novo valor do projeto. Então é como se a instituição estivesse revendo algo que já tinha sido aprovado anteriormente", comenta João Jr..
"Não entendo como se volta a um processo administrativo para análise depois de a captação ter sido autorizada. Acho que o ponto é esse: Kleber foi autorizado pela Ancine, há cinco anos. Rever ações anteriores assim é uma exceção, e isso é grave. Não consigo fazer uma projeção imediata de como isso vai repercutir com projetos no futuro. Mas acho que me parece ser uma exceção, e todas as exceções são perigosas", ressalta.
"É uma postura arbitrária e inaceitável", opina Carla Francine, produtora e membro da sociedade civil do conselho gestor do Fundo Setorial Audiovisual, lembrando que Kleber ganhou notoriedade quando apresentou o filme "Aquarius" (2016) no Festival de Cannes, ocasião em que, no tapete vermelho, protestou contra o impeachment de Dilma Rousseff.
"Isso é certamente motivado pelas divergências políticas, pela manifestação feita em Cannes e pela essência do filme. É uma perseguição. Para mim, isso se configura como uma retaliação. É inaceitável", ressalta. "Até porque a gente sabe que vários filmes de baixo orçamento pelo Brasil captaram outras verbas", comenta Carla.
É uma situação que chama a atenção de produtores pelo precedente que abre. "Conversei ontem (21) com Emilie [Lesclaux, produtora de 'O som ao redor'] e ela me falou que na época fez consultas tanto com o MinC quanto com a Ancine, em relação a possibilidade de legalidade, e os dois órgãos responderam que não tinha nenhum impedimento. Então não pode chegar uma nova gestão e desfazer uma consulta feita à época", argumenta.
"É um precedente terrível de insegurança para todo audiovisual. Se você não pode confiar nas decisões tomadas a cada governo, como continua a produção nesse ambiente de insegurança jurídica? Eles [Kleber e Emilie] tiveram a resposta que estava tudo ok, e agora anos depois passam por isso", reflete.
Nota do MinC
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