Quando a escalação de elenco não funciona em uma novela
Escolhas incoerentes e falta de sintonia entre atores podem omprometer credibilidade das produções
Escalar o elenco de uma novela é uma tarefa complexa. Autores, diretores e produtores de elenco dividem o fardo respeitando a coerência com a história, apelo popular dos protagonistas e a sintonia de trabalho com alguns atores, a famosa “panelinha”. Com o público cada vez mais atento aos detalhes, muitas produções se perdem por se afastarem demais da realidade ao escalar atores de idades semelhantes para viverem pais e filhos ou ainda fugirem completamente do propósito da trama só para terem algum nome de peso no elenco. Na praiana “Sol Nascente”, Walther Negrão quis fazer do folhetim uma homenagem aos costumes orientais, no entanto, causou estranheza a presença de Giovanna Antonelli como mocinha e Luís Melo no papel de um patriarca nipônico. A escalação de Melo, inclusive, ficou ainda mais “forçada” com a passagem da primeira para a segunda fase da novela, já que o personagem, Kazuo, foi vivido pelo ator de origem japonesa Daniel Uemura. “Trabalhamos com a questão dos traços. A gente até procurou atores descendentes nipônicos para o papel, mas o personagem era muito importante para colocar alguém iniciante e sem tarimba. Melo está fazendo um trabalho maravilhoso”, defende Negrão.
Com um banco de talentos cada vez mais reduzido, a Record sofre para manter o mínimo de regularidade em suas novelas bíblicas. E em vez de escalar outros atores, acaba recorrendo a truques de maquiagem e figurino para os deixar mais velhos. O desastroso resultado da “economia” pode ser visto nos capítulos finais de “Os Dez Mandamentos”, por exemplo.
O total descompasso entre os atores na construção de um personagem também foi um dos “calos” da atual “Velho Chico”. Protagonista da história de Benedito Ruy Barbosa, o jovem Afrânio vivido por Rodrigo Santoro teve atuação intensa e nada óbvia. No entanto, quando o personagem passou para as mãos de Antonio Fagundes, ficou totalmente caricato e parecido com os outros coronéis já interpretados pelo veterano. “Confesso que eu e Rodrigo não estudamos o papel juntos e isso foi intencional. Afrânio foi impedido de viver da forma que queria, ele mudou mesmo, se tornou um crápula e tem orgulho disso. Fiquei com a parte ‘podre’ do personagem”, explica Fagundes.