Reverência e gratidão: Danilo Caymmi lança disco em homenagem a Tom Jobim
“Danilo Caymmi canta Tom Jobim” resgata 11 músicas do compositor carioca
No início dos anos de 1950, Dorival Caymmi ouviu o novato Tom Jobim pela primeira vez no bar carioca Boca do Veloso (hoje conhecido como Garota de Ipanema) e ficou encantado com o talento de alguém tão jovem. “Já amava o Dorival quando escutava a rádio Mayrink Veiga. Ele cantava aquelas canções sobre o mar e eu, que era garoto, ficava perplexo diante de tanta beleza. Assim, fiquei admirando Dorival”, disse Tom sobre o episódio poucos meses antes da sua morte, em 1994, em entrevista ao jornalista Carlos Calado, para a Folha de São Paulo.
O fascínio imediato mútuo se tornou uma amizade de compadres anos mais tarde, que foi cristalizada no álbum “Caymmi visita Tom”, de 1964. A iniciativa do produtor musical Aloysio Azevedo buscava explorar a relação quase familiar entre os dois após o retorno de Jobim dos Estados Unidos. Reforçando o clima íntimo, Caymmi levou os filhos Nana, Dori e Danilo para abrilhantar a visita, oferecendo ao caçula, Danilo, sua primeira incursão no mundo da música.
“Eu era muito novo ainda, adolescente, foi até um convite inesperado por parte da minha família e do produtor Aloysio. Eu estava mais preocupado com a prova de química do que com a própria música. Acho que isso ajudou muito porque não projetei o tamanho do negócio que era gravar com Tom e papai, além de outros grandes músicos, a banda era feita dos melhores”, relembra. O músico tocou flauta no álbum e, por meio do instrumento, entrou para a Banda Nova de Tom Jobim em 1983, na qual tocou até o fim da vida do maestro, em 1994.
Para homenagear os 90 anos que o carioca teria feito, se vivo estivesse, o herdeiro de Dorival lançou “Danilo Caymmi canta Tom Jobim”, em que resgata 11 músicas do compositor. “Fui chamado por Paulinho Jobim para tocar na Banda Nova como flautista e nos ensaios ele falou para eu cantar uma música ou outra. Como um gênio da sensibilidade ele me descobriu como cantor. Eu cantava dois solos durante os shows: ‘Samba do Avião’ e ‘A Felicidade’. Ele era muito generoso”, comenta. Danilo também construiu sua carreira individual em paralelo e hoje já é nacionalmente conhecido pela voz grave de barítono.
Curiosamente, nenhuma das duas canções que o ajudou a se descobrir como cantor faz parte do repertório do disco, que traz faixas como “Luiza”, “Água de Beber” e “Ela é Carioca”, criteriosamente escolhidas a partir da relação afetiva do músico com as composições. “Entrei em transe no estúdio, na hora de gravar. Esse disco era algo que me cobravam há algum tempo e é especial porque vem do meu entendimento das músicas dele, que gostava muito de mim como intérprete. Essa chancela foi muito importante”, observou ele, sobre a aprovação de Tom, conhecido pela sua exigência.
As escolhas de Danilo fogem da obviedade não só por trazer títulos poucos explorados, como “As Praias Desertas” e “Derradeira Primavera”, como também por se arriscar em arranjos sem piano, um dos habituais companheiros de Tom, e bateria. “Não fiquei inseguro de não botar piano, foi uma coisa que aconteceu naturalmente, quando a gente viu estava sem. É um disco focado na interpretação”, explica Danilo, que usa apenas flauta e violão na maioria das faixas. O violoncelo surge ocasionalmente nos temas mais intensos, como em “Querida”.
Aos 68 anos de idade, o flautista ainda canta com a voz firme e aveludada em todo o disco e é acompanhado pela norte-americana Stacey Kent na alegre “Estrada do Sol”. “O mais importante para mim foi que minha irmã (Nana Caymmi) gostou, porque ela é uma grande cantora. Vê-la chorar de emoção ouvindo um disco novo meu é o maior prêmio”, concluiu, satisfeito com o trabalho.
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