Scorpions voltam ao Brasil em tour, 40 anos após primeiro Rock in Rio
Banda alemã, que vem ao país desde a primeira edição do festival carioca, em 1985, tem shows em Brasília, São Paulo e Rio para celebrar os 60 anos de fundação do grupo
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Eloquentes e bem-humorados em seu inglês com forte sotaque alemão, os três senhores de preto sentadinhos em um estúdio em Hanover, na Alemanha, não parecem fazer jus à fama de maiores bagunceiros do primeiro Rock in Rio, em 1985.
Talvez porque ele tenha ocorrido há 40 anos.
"Foi histórico!" empolga-se Klaus Meine, de 76 anos, cantor dos Scorpions desde 1969, em entrevista via Zoom.
"São lembranças que ficarão conosco para sempre, daqueles shows no verão do Rio e de bandas como Queen e AC/DC no mesmo palco que nós. Adoramos voltar ao festival em 2019 e ver que segue firme e forte. Mas aquela primeira edição foi inesquecível"
Frequentadores do Brasil há quatro décadas, portanto, os Scorpions estão de volta ao Brasil (hoje em Brasília; em São Paulo no sábado, no festival Monsters of Rock; e no Rio na segunda-feira, no Qualistage), com mais efemérides na manga.
Maior diversão
Além dos 40 anos de Rock in Rio, comemorados em janeiro, eles festejam os mesmos 40 do disco “Love at first sting” (que tecnicamente já completou 41, em fevereiro passado) e as seis décadas da fundação da banda.
"É impressionante como o tempo voa" diz o guitarrista e compositor Rudolph Schenker, também de 76 anos, único remanescente da primeira formação da banda, que iniciou na adolescência, na mesma cidade de Hanover.
"Eu me diverti muito ao longo desses 60 anos. Lembro-me de quando tinha 24 e as pessoas mais velhas me perguntavam: “Tá, mas e quando você tiver 30 anos, vai fazer o que da vida?” (gargalhadas germânicas)"
Rudolph e Klaus se uniram no fim dos anos 1960 e começaram a tocar os Scorpions, que à época soavam diferente do hard rock que os consagrou.
"Fazíamos música baseada nas guitarras, ouvindo ídolos nossos como os Beatles, The Who, os Stones e o Led Zeppelin, e compondo em inglês, mesmo sem dominar bem a língua" lembra o cantor.
Depois das tradicionais mudanças na formação que acompanham uma jovem banda que não ganha o suficiente para viver — com passagens, inclusive, de Michael Schenker, irmão de Rudolph e virtuose das guitarras, conhecido pelo trabalho com bandas como o U.F.O. —, ali pelo fim dos anos 1970 começaram a surgir os Scorpions que conquistariam o mundo, com discos como “Lovedrive” (1979) e “Animal magnetism” (1980).
Em 1982 veio “Blackout”, e, em 1984, “Love at first sting”.
"Foram esses discos que nos estouraram nos Estados Unidos" diz Rudolph. "O hard rock era a música que tocava nos supermercados, era muito popular"
“Love at first sting” é aquele disco que algumas bandas têm, os que emplacam praticamente todas as músicas.
No caso, “Rock you like a hurricane” e “Still loving you” são duas das mais conhecidas.
A balada (no gênero “power ballad”, um dos carros-chefes do hard rock, aquele bem açucarado em que as guitarras pegam um pouco mais pesado no refrão), inclusive, entrou no disco por insistência de Rudolph, que a compôs, com letra de Klaus.
"Eu já tinha feito a música uns sete anos antes, e ninguém na banda dava a mínima!" lembra ele, sempre rindo.
"Um dia, quando voltamos da turnê de “Blackout”, comecei, em um ensaio, a tocar o dedilhado. Herman, nosso baterista da época, veio me acompanhar, e finalmente a banda aceitou gravar a música. Às vezes é preciso ter paciência. A própria letra do Klaus começa com “Time, it needs time” (“Tempo, é preciso tempo”)".
Incluída na trilha sonora da novela “Corpo a corpo”, da TV Globo, “Still loving you” já estava estourada no Rock in Rio de 1985, impulsionando a popularidade dos Scorpions no Brasil.
Nesses 40 anos, a banda já veio ao país uma dezena de vezes (nem sempre passando pelo Rio).
Apesar de mais conhecida pelas músicas divertidas, com pitadas sexuais, e pelas baladas românticas, os Scorpions se aventuraram pela política em “Wind of change” (1989), que se tornou seu maior sucesso.
"Não somos uma banda política" começa Klaus. "Mas, na época da queda do Muro de Berlim, do fim da Guerra Fria, estávamos vendo a História acontecer na nossa frente. Foi inevitável"
Quando começou a guerra na Ucrânia, a banda mudou parte da letra da música para “Agora ouça meu coração/ Ele diz ‘Ucrânia’/ Esperando a mudança no vento”.
"Já nos apresentamos muitas vezes na Ucrânia, assim como na Rússia" diz o cantor.
"E achamos que não fazia sentido, no momento da invasão, romantizar a Rússia com versos como “Sigo o Rio Moscou até o Parque Gorki”. Alguns de nossos fãs reclamam por falarmos de política, dizem que é coisa de artistas americanos, mas acho que foi a atitude certa"
Nada de despedida
Depois de sete datas pela América do Sul, em junho os Scorpions partem para uma extensa turnê pela Europa.
Em agosto, têm uma temporada marcada em Las Vegas, com cinco shows previstos no Planet Hollywood. A residência seria em fevereiro, mas um problema de saúde do baterista Mikkey Dee adiou os planos.
"Ele teve uma sepse, coisa séria" conta o guitarrista Matthias Jabs. "Mas em fevereiro já estava se recuperando, em sua casa, na Suécia, e agora está na estrada com a gente"
Houve até um papo de turnê de despedida, quando a banda lançou o disco “Sting in the tail” (2010), mas não se fala mais nisso.
"Foi há 15 anos, já esquecemos!" diz o pândego Rudolph. "Nossos fãs brasileiros não deixariam"