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Sem ir além de uma boa ideia em O Contador

Escolhas confusas reduzem o impacto do filme “O Contador”, que reúne elementos de ação, espionagem e drama

Senador Armando Monteiro Neto (PTB)Senador Armando Monteiro Neto (PTB) - Foto: Ana Luisa Souza/Divulgação

 

Alguns filmes surgem de boas ideias que acabam não sendo bem executadas. Há algo de muito bom em “O Contador”, filme com Ben Affleck que estreou nesta semana: as experiências com os gêneros de ação, espionagem e drama e a construção de um personagem complexo, um bruto de poucas palavras que demonstra sentimentos através de ações. Mas há também certas opções confusas e ruins, que diminuem o impacto do filme.
Ben Affleck interpreta Christian Wolff, um contador autista com enorme capacidade matemática, além de uma brutal e sofisticada habilidade para matar pessoas. Ele analisa o balanço econômico de criminosos poderosos, o que atrai a curiosidade do policial Ray King (J.K. Simmons), que encarrega a agente Marybeth Medina (Cynthia Addai-Robinson) de descobrir a identidade e as motivações desse homem misterioso.
Christian recebe trabalhos através de uma rede não identificada, uma voz feminina que liga e oferece contratos em empresas não inteiramente dentro da lei. Em uma dessas chamadas, ele é convocado para investigar um erro de milhões no orçamento de uma instituição de tecnologia. Antes de perceber os detalhes do crime, o contador é demitido e passa a ser perseguido por assassinos de aluguel, assim como a jovem que descobriu o erro, Dana (Anna Kendrick).
“O Contador” é composto por pequenos núcleos narrativos que parecem não funcionar de forma orgânica quando unidos; a história de Wolff se relaciona de forma truncada com as de um policial, um criminoso e uma jovem contadora inocente. A ligação entre esses pontos do roteiro parece forçada, como se diferentes enredos previamente criados tivessem sido unidos em uma experiência não exatamente bem-sucedida em um laboratório de roteiros. O diretor do filme é Gavin O’Connor, que parece não demonstrar marcas decisivas de autoria.
O ponto forte do filme é a maneira interessante como regras tradicionais do cinema de ação e espionagem se misturam em um clima estranho de suspense e drama. Affleck parece interpretar esse personagem complexo com certa sutileza, usando silêncio e gestual obsessivo como indícios de tumulto interno. Há sugestões de dramas da infância, o abandono da mãe, as obsessões de um pai militar que tenta transformar os filhos em máquinas de briga, informações que são repassadas de forma difusa, sem detalhes.

A certa altura do filme, no entanto, enquanto a tensão cresce de forma explosiva e gradualmente complexa, há uma cena que desfaz todo esse mistério: um personagem faz um longo monólogo esclarecendo tudo o que era ambíguo, enquanto flash­backs desvendam pequenos segredos que faziam os personagens se comportarem de forma intrigante. É uma cena que explica de forma clara e didática tudo o que permanecia estranho e interessante no filme. Depois dessa aula, “O Contador” se torna um trivial longa de ação - com boas cenas de tiroteio, mas sem aquela ambiência peculiar que parecia elevá-lo.

 

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