Televisão

Jesuíta Barbosa é alçado à vilania em 'Verão 90'

Depois de séries densas, ator pernambucano interpreta o vilão Jerônimo na novela das sete

Jesuíta Barbosa é Jerônimo em 'Verão 90'Jesuíta Barbosa é Jerônimo em 'Verão 90' - Foto: Divulgação/TV Globo

Até pouco tempo, Jesuíta Barbosa poderia passar despercebido em qualquer lugar. Com “jeitão” meio tímido e tipo franzino, o ator sempre se misturou na multidão. E parecia não se enquadrar no “physique du rôle” para interpretar os personagens principais das novelas da Globo. Tanto que o início de sua trajetória profissional se voltou mais para projetos experimentais.

Na televisão, começou em séries e, pouco a pouco, foi conquistando a simpatia do público, dos autores e diretores da emissora. Depois de chamar atenção em projetos como “Amores Roubados”, “O Rebu”, “Justiça” e “Onde Nascem Os Fortes”, ele foi alçado ao posto de antagonista com o Jerônimo Guerreiro, de “Verão 90”. “Eu sou feliz por ser artista, ter estudado e me dedicado. Mas não quero colocar a televisão e a novela nesse lugar de ser o último degrau a ser alcançado”, pondera.

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Na história escrita por Izabel de Oliveira e Paula Amaral, o personagem de Jesuíta é detestável. Filho mais velho de Janaína, papel de Dira Paes, ele é invejoso em relação ao irmão e é capaz de tudo para ficar rico e famoso. Sob o pseudônimo de Rojê, se alia a Vanessa, de Camila Queiroz, para cometer as maiores barbaridades no Rio de Janeiro.

Apesar de dar vida ao grande vilão da novela, o ator não limita seu personagem apenas às características normalmente destinadas aos malvados dos folhetins. Na verdade, ele enxerga várias possibilidades cênicas. “São tantas nuances. Acho que tem muitos desafios para se cumprir. É uma novela que dura muitos meses, tem muita coisa para acontecer e quero que aconteçam sempre coisas diferentes”, torce.

Confira entrevista com Jesuíta:

Como o antagonista de “Verão 90”, com o que você percebe que o público mais se identifica em relação ao seu personagem?
Acho que com algumas maldades que se confrontam com a personalidade das pessoas. Tem muitas maldades que a gente nega ter e acho que a vilania está nesse lugar. As pessoas se identificam com o que elas querem fazer e não podem.

“Verão 90” marca sua estreia nas novelas. Quais expectativas você criou em relação a esse trabalho?
As melhores de todas. É uma novela alegre, divertida. E a gente pode brincar e entender que o personagem pode se modificar, sair do vilão e virar outra coisa. O bom de novela é isso, mas eu estou aprendendo a fazer ainda.

Ao longo dos capítulos, Jerônimo praticamente assumiu três personalidades. Como é para você buscar essas diferenças dentro de um mesmo papel?
Na verdade, meu personagem vem como uma persona. Esse é um trunfo do personagem que eu gosto: o fato de ele inventar alguém. Jerônimo é um cara que começa a se portar de outro jeito, mas, de vez em quando, ele escorrega. Estou fazendo um registro que eu nunca tinha feito antes.

Como assim?
Às vezes, Jerônimo ainda imprime um pouco de drama, que é essa coisa carregada que eu tenho. Mas, quando surge o Rojê, o personagem se torna aberto, solar e brincalhão. Tem pessoas em que eu me inspiro muito, como na Cláudia Raia. Eu fico olhando e querendo brincar um pouco com isso.

E como tem sido sua preparação para viver este vilão?
Para novela, é preciso ser tudo mais instantâneo, mas estou me divertindo. É bom poder trabalhar de um outro jeito, sem ter de debater questões tão intensas. A gente precisa também de um respiro. Ao mesmo tempo, acredito que a novela traga questionamentos.

Mas algum vilão da teledramaturgia serviu de referência para você?
Vários são referência. Hoje em dia, é tudo tão picotado. Eu tento achar esses lugares de “Vale Tudo”, que foi um sucesso. Eu sempre quis fazer novela que tivesse cara de novela e apareceu essa oportunidade. Acho que elas estão se modificando e acredito que “Verão 90” pode ser uma das últimas que tenha esse formato. Para mim, tem sido um processo de desapego muito grande e de improviso também.

Quais as dificuldades que você tem encontrado por atuar em uma trama mais leve, coisa quase inédita na sua carreira?
Em “Verão 90”, a gente precisa trabalhar com improviso, além de aprender a ter confiança em quem está perto e nos diálogos que a gente recebe dos roteiristas. Com quem está em cena, é como a vida. São oito meses, são relações que se criam naturalmente com as cenas e a gente vai propondo. E a gente quer que o conjunto da obra se una cada vez mais para fazermos um trabalho bom. Quando o grupo está junto, tudo dá certo.

Quando você olha para trás, como você avalia a sua trajetória?
Eu sou feliz por ser artista, ter acreditado que eu poderia fazer, estudado, me dedicado, encontrado pessoas que me deram força e que eu pude estudar junto. Mas eu não quero colocar a televisão e a novela nesse lugar que a gente sempre coloca como se fosse o último degrau a ser alcançado. Eu preciso trabalhar muito ainda, estudar e fazer tanta coisa. Só estou começando, eu comecei a fazer isso tem pouquíssimo tempo. Eu continuo em Fortaleza, trabalhando com as pessoas de lá, que são meus amigos, continuo fazendo cinema, e é daí para frente. Mas não é o último degrau, é mais uma experiência.

“Verão 90” é exibida de segunda a sábado, às 19h30, na TV Globo.

Ator Jesuíta Barbosa

Ator Jesuíta Barbosa - Foto: Divulgação/TV Globo

Leveza do ser
Na televisão, Jesuíta Barbosa se acostumou a viver tipos densos, em tramas mais obscuras como “Amores Roubados” e “O Rebu”. Mas, em “Verão 90”, apesar de o ator interpretar o grande vilão da história, ele precisa encontrar um lugar novo para dar vida a Jerônimo. O humor é uma importante ferramenta nesse processo. “A graça dele vem junto com a personagem da Camila Queiroz. Os dois se enganam o tempo todo e têm uma relação de amor e ódio”, explica.

Por outro lado, a relação do personagem com a mãe, Janaína, de Dira Paes, é bem mais complicada. Nada faz Jerônimo se dar bem com a mãe. Em contrapartida, nos bastidores, o clima entre Jesuíta e Dira é dos melhores. “Desde pequeno, eu conheço ela do cinema. Nessa novela, eu aprendo muito com a Dira”, garante.

Eterno aluno
Natural de Salgueiro, no sertão de Pernambuco, Jesuíta Barbosa se sente orgulhoso em poder representar o povo nordestino na teledramaturgia brasileira. E mais ainda por ter a chance de entreter a sua avó com o seu trabalho. “Ela fica com raiva de mim e assiste à novela dizendo: ‘sai daí, menino ruim’”, conta, aos risos.

Para ele, que construiu toda a sua base no teatro de Fortaleza, para onde se mudou aos 10 anos, a tevê ainda é um lugar relativamente novo, principalmente novela. Por isso, todo dia é um aprendizado diferente. “Essa linguagem de novela está atingindo minha memória para decorar texto de um dia para o outro, coisa que eu não sabia que poderia fazer. Mas estou conseguindo e me surpreendo comigo mesmo. Isso vai me dar cacife para sair daqui e fazer qualquer coisa”, imagina.

Instantâneas
# Jesuíta Barbosa começou a ter contato com a interpretação em grupos de teatro na escola.
# O pai do ator queria que ele estudasse Medicina ou Direito.
# Jesuíta atuou no filme “Cine Holliúdy”, em 2013.
# Em 2014, o ator revelou ser bissexual.

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