Thainá Duarte será Geni em filme "Geni e o zepelim", inspirado em canção de Chico Buarque
Dirigido por Anna Muylaert, longa terá ainda Seu Jorge como o comandante do Zepelim
“Joga pedra na Geni”: é possível que mesmo quem nunca tenha escutado a canção “Geni e o zepelim”, de Chico Buarque, conheça este trecho.
A heroína amada pelos oprimidos e odiada pelos poderosos surgiu pela primeira vez como parte do musical “A ópera do malandro”, lançado nos palcos em 1978.
Mas a música ganhou vida para além da peça e agora vai surgir nas telas de cinema. No próximo mês, o filme “Geni e o zepelim” começa a ser rodado em Cruzeiro do Sul, no Acre.
Para interpretar uma das mais famosas personagens da MPB foi escolhida a atriz Thaina Duarte, informação até então guardada a sete chaves pela produção e antecipada em primeira mão pelo Globo.
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Conhecida pelos trabalhos em “Aruanas” e “Cangaço novo”, a atriz contracenará com Seu Jorge, que assume a responsabilidade de dar vida ao comandante do zepelim. A direção é de Anna Muylaert, de “Que horas ela volta?” (2015).
"Geni é uma personagem que vive no imaginário coletivo de muitos" diz Thainá, de 28 anos.
"Participar de uma releitura de uma das músicas que são parte da trilha da minha vida é uma grande alegria. Ser dirigida por Anna e contar essa história na Amazônia torna tudo ainda mais especial e potente.
A menos de um mês para o início das filmagens, a atriz conta que tem feito testes de penteado e figurino, além de estar se dedicando à preparação com ensaios conduzidos por Fátima Toledo e Bruno Danuia.
"Dentro de cada mulher existe uma Geni, estamos buscando o que essa terá para dizer ao mundo" afirma a atriz.
"Vai ter o zepelim?"
A ideia de adaptar “Geni e o zepelim” para as telonas nasceu de um insight do filho adolescente de Iafa Britz, produtora conhecida por hits de bilheteria como “Se eu fosse você” (2006) e “Minha mãe é uma peça” (2013).
Durante a pandemia, trabalhando de casa, ela desenvolveu a rotina de ouvir músicas com os filhos, e Chico Buarque era nome onipresente na trilha sonora da família.
Determinado dia, ao ouvirem “Geni”, um dos filhos falou: “Essa música dá um filme perfeito.” Foi então que Iafa decidiu escutar a canção que amava com outros ouvidos.
E concordou: afinal, há ali uma história com início, meio e fim, com heróis e vilões, com intrigas e reviravoltas. Decidiu então procurar Chico Buarque.
"Chico ficou animado e foi muito aberto à ideia de fazermos o filme. É uma adaptação livre. Desde o início, propus que déssemos um novo final para Geni, que está há 50 anos só levando pedrada. E ele gostou" lembra Iafa.
"Foi uma conversa interessante. Chico trouxe as referências que ele teve para a canção, que foi um conto chamado “Bola de sebo”, de Guy de Maupassant. Foi gentil e não fez exigências, a única coisa que perguntou foi: “Mas vai ter o zepelim, certo?”"
Iafa confirma que o zepelim está mais do que garantido na tela. Ela aponta que o material destacado por Chico ajudou muito no desenvolvimento da produção.
Após a conversa, ela tratou de imaginar quem poderia ser a pessoa responsável por dirigir o projeto. E logo o nome de Anna Muylaert veio à cabeça.
Coração da floresta
A cineasta, conhecida por dirigir suas próprias histórias originais, nunca tinha adaptado uma trama de outro autor.
Ela conta, no entanto, que a admiração por Chico Buarque a fez romper essa barreira e se abrir ao projeto. Ela só tinha uma ideia da qual não abriria mão: filmar na Amazônia.
"Anna teve esse insight muito rápido de tirar a Geni desse lugar mais previsível que poderia ser a Lapa (no Rio de Janeiro) e dar essa dimensão maior" diz Iafa.
"Tudo fez sentido depois que ela sugeriu isso, mas eu quase caí para trás. É um trabalho grande de logística, uma engenharia levar toda a equipe para o Acre. Foi assustador, mas está sendo muito bom"
Na trama do filme, Geni é uma prostituta de uma cidade ribeirinha, localizada no coração da Floresta Amazônica.
Em meio a uma guerra por terras, ela vê o local ser invadido por tropas lideradas por um tirano comandante, que chega voando em um imponente zepelim.
Com um projeto predatório para a região, ele se encanta por Geni, que percebe que talvez ainda exista uma chance de virar o jogo.
Anna diz que, mesmo a canção não falando expressamente em uma guerra, estava claro para ela que havia um conflito existente na trama, algo que ficou mais claro ao estudar as referências de Chico.
O conto de Maupassant, datado do final do século XIX, se passa durante a guerra franco-prussiana.
"Fui entendendo por que a ideia da Amazônia veio tão forte. O Brasil tem suas guerras. E a maior delas é a ambiental" conta Anna ao Globo via videoconferência diretamente do Acre, onde trabalha na busca por locações.
"E vejo a floresta como essa mulher forte, mas também indefesa. A música fala muito sobre o feminino e a misoginia. Como a mulher aos olhos do patriarcado, a floresta é considerada um grande nada aos olhos do capitalismo"
Entre eles
A cineasta, também responsável pelo roteiro, espera transportar para o cinema tudo o que está na letra: o machismo, a política, o conservadorismo e a hipocrisia.
Ela conta como foi definir a intérprete para viver a protagonista.
"É uma personagem difícil. Ela tem uma força grande, mas, ao mesmo tempo, como diz a letra, é “tão coitada, tão singela”. Ela tem esses dois lados. Thainá trouxe isso de forma muito forte. Ela fez um teste incrível. E ela tem essa cara, esse corpo muito brasileiro. Nos apaixonamos por ela" lembra Anna.
Para interpretar o comandante, a diretora convocou Seu Jorge, com quem havia trabalhado em “A melhor mãe do mundo” (filme exibido no Festival de Berlim e com estreia prevista para agosto no Brasil).
"O comandante é uma mistura afro, indígena, militar, totalitarista e capitalista. Ele representa toda essa força maligna do patriarcado" explica a diretora.
Acredito que vamos ter uma ótima química entre esses dois personagens"
Além de Thainá e Seu Jorge, a produção do filme abriu seletiva para atores do Acre, com o objetivo de deixar a história e o elenco com a “cara da região”.
"Geni e o zepelim" conta com produção da Migdal Filmes e coprodução de Paris Entretenimento e Globo Filmes.
As filmagens acontecem entre os meses de maio e junho. Ainda não há previsão de lançamento.