Economia

Algodão, soja e café avançam e seguram perdas do agronegócio

Apesar de todos os problemas vividos pelo setor agropecuário com a greve dos caminhoneiros, em maio, o PIB da agropecuária se manteve estável no segundo trimestre

Produção de algodãoProdução de algodão - Foto: Reprodução/Agro Advisor

O algodão entrou em definitivo no radar do produtor, ganhou espaço nas lavouras, teve produtividade e produção aumentadas nas safras recentes e já começa até a influenciar positivamente o PIB (Produto Interno Bruto). A avaliação mensal que o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) faz das lavouras brasileiras de grãos apontou, em julho, um aumento de 24,5% na produção de algodão deste ano, em relação à do anterior.

Apesar de todos os problemas vividos pelo setor agropecuário com a greve dos caminhoneiros, em maio, o PIB da agropecuária se manteve estável no segundo trimestre, em relação ao imediatamente anterior -o desempenho do agronegócio no período ficou exatamente em zero.

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Algodão, café e soja impediram uma queda a taxa de crescimento do Brasil de abril a junho. Nesses meses, um dos setores mais afetados foi o de carnes, devido à paralisação dos transportes e, na sequência, pela indefinição na tabela de preços do frete. Milho, arroz e mandioca, com clima desfavorável e queda de produtividade, também afetaram negativamente o resultado PIB agropecuário do segundo trimestre.

O agronegócio vinha sendo uma espécie de carro chefe da recuperação. Agricultura e pecuária foram decisivas para o crescimento do PIB ao longo do ano passado. Por que o setor de algodão agora desperta tanto interesse no país? A resposta é simples: é a matéria-prima que traz o melhor rendimento no momento. Supera de 2,5 a 3 vezes a renda obtida com soja, a líder nacional em área cultivada nos campos brasileiros.

A rentabilidade líquida da soja, sem considerar a remuneração da terra, foi de R$ 1 mil a R$ 1,2 mil por hectare no município de Sorriso (MT) na safra colhida na virada de 2017 para 2018, segundo algumas consultorias. A cultura do algodão, contudo, não é para amadores. O produtor gasta de R$ 9 mil a R$ 10 mil de custos para desenvolver apenas um hectare de lavoura.

Para um aproveitamento melhor do investimento, é recomendável que o produtor tenha pelo menos 2 mil hectares de plantio. Na média, os que se dedicam a essa atividade cultivam 10 mil hectares. É uma cultura que exige planejamento de pelo menos cinco anos antes de se iniciar nela, diz Alexandre Schenkel, presidente da Ampa (Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão), estado líder em produção no país.

Os cuidados vão desde a preparação contínua do solo, que pode demorar vários anos, ao maquinário a ser utilizado. Uma colhedora de algodão custa de R$ 3,5 milhões a R$ 4 milhões e é suficiente para o cultivo de uma área de 2.000 hectares por ano. Além disso, são necessários plantadeiras e pulverizadores adequados. Os produtores maiores investem ainda em beneficiadoras, que exigem grandes investimentos.

O produtor tem de ter fôlego financeiro ou um bom fornecedor de crédito. Após o plantio, o algodão só será colhido 180 dias depois. A maior parte dos plantios é feita logo após a colheita da soja. Esse esforço, porém, compensa, segundo Arlindo Moura, presidente da Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão).

O país avançou na qualidade do produto e o algodão brasileiro passou a ser aceito em todos os mercados, até nos maios exigentes. A produção brasileira deve ficar próxima de 2,1 milhões de toneladas de algodão pluma neste ano, e o consumo interno é de 700 mil toneladas.

O restante vai para o mercado externo. "O que o Brasil produzir vende", diz ele. O mercado externo está muito favorável, com preços bons e demanda aquecida. Os chineses, pouco participativos nos anos recentes, voltaram às compras com avidez porque os seus estoques caíram. Chegaram a pedir ao Brasil a reserva de 500 mil toneladas do produto da próxima safra, a que vai ser plantada no final de ano.

É um volume que o país não poderá atender porque 50% da safra 2018/19 já foi comercializada antecipadamente. Os números do algodão são impressionantes no Brasil. No início dos anos 2000, os produtores obtinham uma produtividade inferior a mil quilos por hectare. Neste ano, o volume é 1.700 quilos, bem acima da produtividade americana, que é de 930 quilos.

Em 2010, o algodão movimentava R$ 4,8 bilhões no país. Neste ano, o Valor Bruto de Produção, medido pelo Ministério da Agricultura, deverá atingir R$ 33 bilhões. Uma das recentes lutas dos produtores é com a qualidade do produto. E a preocupação se estende à capacidade de investimentos dos produtores atuais e dos novos participantes desse mercado.

Sem investimentos adequados em máquinas e no controle de solo e de pragas, o algodão poderá ter um rendimento industrial pior, o que compromete a imagem do país no exterior. A área de plantio não para de crescer. Moura, da Abrapa, estima um avanço de 18% a 20% no espaço que será dedicado ao algodão na próxima safra, a de 2018/19. Se essa área for confirmada e a produtividade média mantida, o país dobrará o volume produzido em apenas três safras, segundo ele.

O presidente da Abrapa acredita que o Brasil é a bola da vez no algodão porque as áreas de produção dos Estados Unidos, líder mundial em exportações, são limitadas. Com uma safra só por ano, os americanos têm de optar entre algodão ou outra cultura de grãos. A Índia tem uma produtividade muito baixa (450 quilos por hectare) e a capacidade de competir do país fica limitada.

A África também tem potencial para crescer, mas o algodão dos países da região não tem a qualidade que tem o produzido no Brasil. Boa parte do algodão indiano é colhido a mão e contém muita impureza. Na outra ponta, o mundo tem a volta dos chineses ao mercado para repor seus estoques reguladores. Em 2014, a China tinha 12 milhões de toneladas em estoque. Neste ano, está com 5 milhões.

O Brasil vive um bom momento. Crescem produção e rentabilidade. Os tradicionais problemas do custo Brasil, porém, continuam presentes, segundo Moura. Distância dos portos, fretes e custos dos insumos limitam os ganhos, afirma.

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