Agronegócio

Alimentos saudáveis ainda são desafios para as metrópoles

Dados apontam que cerca de 68% da população das capitais brasileiras não consome frutas, legumes e verduras regularmente. Baixa ingestão está ligada a doenças crônicas

Alimentos ricos em gordura e pobres em carboidrato são a base da dieta cetogênicaAlimentos ricos em gordura e pobres em carboidrato são a base da dieta cetogênica - Foto: Freepik

Recife, Curitiba e São Paulo são capitais brasileiras com perfis bem diferentes entre elas, mas quando o assunto é alimentação apresentam dados que as unem: mais da metade dos habitantes das três cidades registram baixo índice de consumo diário de alimentos saudáveis enquanto os ultraprocessados estão cada vez mais presentes na rotina deles.

Recifenses, curitibanos e paulistanos também vivem com pelo menos uma doença crônica não transmissível (DCNT), como as cardiovasculares e as respiratórias, câncer e diabetes em decorrência disso. 

Ao levar em conta dados como esses, o Instituto Escolhas e a Cátedra Josué de Castro de Sistemas Alimentares Saudáveis e Sustentáveis – vinculada à Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP), elaborou o policy brief intitulado “Promoção da saúde e a produção de alimentos nas cidades”.

No documento, defende-se que a produção de alimentos em­­ centros urbanos deve compor o rol de estratégias públicas para frear a atual tendência de adoecimento por DCNT e promover a saúde da população. A publicação traça um panorama da saúde e do consumo alimentar das populações de seis capitais: Recife, Belém, Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba.  

O policy brief traz, entre outras coisas, recomendações para uma relação eficaz entre produção local de alimentos e estratégias de promoção da saúde por meio da alimentação saudável. Os dados mostram que entre 63% e 68% da população das capitais brasileiras não consomem frutas, legumes e verduras regularmente – isto é, cinco ou mais dias da semana.

Baixo consumo

O percentual de pessoas nas capitais que não atingem a ingestão recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) – 400g/dia/pessoa – é ainda mais alto: de 78%, segundo a pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) de 2023. Esse baixo consumo está, muitas vezes, vinculado ao preço dos alimentos in natura, especialmente nos segmentos sociais em situação de vulnerabilidade. 

“A produção nas áreas urbanas tem um enorme potencial para atacar essa questão, colaborando para a redução dos custos de transporte e comercialização”, explica a gerente de portfólio do Escolhas, Jaqueline Ferreira. Estudos anteriores do Escolhas, resgatados no policy brief, mostram que o potencial para fortalecimento e a ampliação da produção de alimentos no Recife, por exemplo, é de 5.215 toneladas de legumes e verduras em 80 hectares de espaços ociosos na capital e abasteceria 252.424 pessoas por ano.

Quanto à questão do preço, moradores de áreas periféricas também enfrentam a baixa presença de locais que vendem produtos in natura, predominando os que comercializam ultraprocessados. 
“Pesquisas científicas não deixam dúvidas de que a ingestão adequada em quantidade e frequência de frutas e vegetais é protetora da saúde, reduzindo o risco de DCNTs. Em contrapartida, o consumo frequente de ultraprocessados é um importante fator de risco para doenças”, analisa a pesquisadora da Cátedra, Nadine Marques.

Recomendações
O policy brief chama a atenção para a responsabilidade da gestão pública, a quem cabe não apenas fomentar a produção de alimentos nas cidades, mas também implementar ações para que eles cheguem aos consumidores, especialmente àqueles em situação de vulnerabilidade.

Um exemplo é a cessão de áreas ociosas, como lotes vazios e áreas sob linhas de transmissão, para coletivos de agricultores e associações. Hortas escolares, equipamentos públicos como hospitais e unidades prisionais também podem ser espaços de produção.

Outra recomendação é a aquisição de alimentos da agricultura urbana via compras públicas institucionais, em especial para equipamentos de segurança alimentar (restaurantes populares e cozinhas solidárias). “A produção de alimentos pode transformar as cidades de forma radical, melhorando a qualidade de vida”, defende Marques.

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