Argentina: entenda as razões para o atraso do acordo do país com o FMI
Segundo chefe de gabinete do governo, objetivo não é cumprir regras impostas pelo Fundo sem questionamentos. País vive expectativa para o anúncio de novas medidas econômicas
O chefe do Gabinete de Ministros e candidato à vice-presidência da Argentina pela frente União para a Pátria, Agustín Rossi, afirmou neste sábado (22) que o objetivo do governo não é cumprir as regras do acordo com o Fundo Monetário Nacional (FMI) sem questionar as exigências da instituição.
A postura, segundo Rossi, seria a justificativa para o atraso em se chegar a uma solução final.
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"O que deve ser dito sobre o acordo é que existe uma maneira muito fácil de alcançá-lo: aceite o que o Fundo diz. Se hoje está demorando é porque nossos negociadores não vão à loja com o manual do lojista; vão defender os interesses de todos os argentinos", afirmou em entrevista à rádio AM 750.
Depois disso, Rossi voltou a apontar o governo anterior de Mauricio Macri como responsável pela situação atual que o país enfrenta, marcada por uma inflação e juros elevados.
A Argentina atravessa forte crise econômica, o que levou o país a aderir ao chamado Mecanismo de Financiamento Ampliado, programa do FMI ao qual governos recorrem quando enfrentam problemas de balanço de pagamentos. Atualmente, o país está na quinta quinta revisão dos termos do acordo.
Rossi afirmou que é um fato herdado e disse que o objetivo que a chapa, formada com o ministro da Economia Sergio Massa, terá nas eleições de outubro, será “pagar 100% da dívida”.
À espera de novo pacote de medidas
O país vive a expectativa por um novo pacote de medidas econômicas que podem ser anunciadas nas próximas horas, como parte da negociação com o FMI. Elas incluiriam um dólar mais alto para a agricultura e a criação de um novo imposto para importações.
Rossi contextualizou as dificuldades do governo frente à seca, que afeta as reservas em dólares.
"Também está claro que quando faltam 20 bilhões de dólares que você tinha que ter, isso faz com que você administre uma situação de falta de reservas. E quando você gerencia essas características, você tem que tomar decisões criativas e que tendem a garantir que os efeitos estruturais negativos da economia argentina, não gerados pela gestão, mas por eventos externos, prejudiquem a economia real e os salários o menos possível", afirmou.
Ao explicar as idas e vindas que mantêm com o Fundo, Rossi destacou que a instituição recomenda ações com base em um ideal de economia.
"Temos que governar a economia real da Argentina, que é como resultado de uma situação que não decidimos como gestão: não decidimos que o Fundo deveria retornar, não decidimos continuar, não decidimos sobre a guerra [na Ucrânia]", ressaltou.
Negociações emperram
Fontes próximas a Massa indicaram que as negociações com o FMI continuam neste fim de semana e que as comunicações entre o ministro e seus funcionários e o Fundo "são periódicas".
Uma delegação de autoridades argentinas permanece em Washington e não está descartado que neste sábado as conversas com a entidade continuem na embaixada da capital americana, onde o anfitrião será o embaixador Jorge Argüello.
As negociações nos Estados Unidos começaram na terça-feira com a presença do vice-ministro Gabriel Rubinstein e do vice-presidente do Banco Central, Lisandro Cleri, juntamente com o diretor daquela entidade, Jorge Carrera.
Nos últimos dias especulou-se que o próprio Massa viajaria no fim de semana para fechar o acordo, mas as negociações endureceram na reta final e a viagem do ministro a Washington foi suspensa.
Neste contexto, o Presidente Alberto Fernández revelou ontem ter mantido uma conversa telefónica com a diretora do FMI, Kristalina Georgieva, e afirmou que o governo está “a trabalhar a todo o vapor para chegar a um acordo”.