Às vésperas da visita de Lula, agricultores franceses pressionam Macron a barrar Mercosul-UE
França lidera grupo de países europeus reticentes em assinar o acordo comercial
Agricultores e deputados pediram nesta quarta-feira ao presidente francês, Emmanuel Macron, que mantenha a pressão contra o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, na véspera da visita do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva a Paris.
A França lidera o grupo de países europeus reticentes em assinar o acordo, mas a pressão cresce dentro da União Europeia para que ele seja aprovado como uma medida para aliviar o impacto da guerra comercial desencadeada pelas tarifas de Donald Trump.
— Ainda há tempo e é agora que devemos dizer não. A visita do presidente Lula não deve mudar o rumo — afirmou Jean-François Guihard, presidente da associação francesa de produtores de carne bovina e ovina Interbev.
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Para o dirigente desse setor simbólico na França, Macron deve, ao contrário, aproveitar a ocasião para expressar sua “firmeza” diante de Lula e “reafirmar seu compromisso com um comércio internacional baseado em normas justas e sustentáveis”.
— Nós, o que esperamos, é sermos recebidos (...) por nosso presidente para reiterar o que dizemos aqui, inclusive com Lula— acrescentou Alain Carre, presidente da associação de produtores de beterraba e açúcar.
A Comissão Europeia, que negocia em nome da UE, alcançou um acordo comercial em dezembro com Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, e ainda precisa definir qual mecanismo adotará para sua aprovação e ratificação do lado europeu.
Caso seja ratificado, a UE, principal parceira comercial do Mercosul, poderia exportar com mais facilidade automóveis, máquinas e produtos farmacêuticos, enquanto o bloco sul-americano poderia vender mais carne, açúcar, soja, mel, entre outros, para a Europa.
A França enfrenta a firme oposição de seu setor agropecuário — protagonista, nos últimos anos, de fortes mobilizações — e exige que as exportações do bloco sul-americano cumpram as mesmas normas de produção que as da UE.
Enquanto aguarda-se a definição do método de ratificação, a França — onde a Assembleia Nacional se opôs por unanimidade, em janeiro, ao acordo alcançado — busca aliados na UE para formar uma minoria de bloqueio do texto.
“Estamos nos aproximando pouco a pouco do objetivo”, mas “ainda não o alcançamos”, declarou o deputado centrista e ex-ministro da Agricultura, Stéphane Travert, durante uma reunião com representantes do setor e outros parlamentares.

