BC mantém juros em 15% ao ano desde junho. Quando a taxa vai cair? Analistas opinam
Após comunicado sem grandes novidades, economistas acreditam que Copom não mostrou abertura para uma discussão sobre corte de juros
O Banco Central decidiu manter a Taxa Selic em 15% ao ano no Comitê de Política Monetária (Copom) de ontem, com apoio unânime da diretoria liderada por Gabriel Galípolo. A taxa já havia ficado estável na última reunião, em julho. O nível dos juros básicos é o maior em 19 anos, desde julho de 2006.
Em um comunicado com poucas novidades, o BC pregou cautela e reforçou que deve manter a taxa atual por “período bastante prolongado”. Segundo economistas, o Copom não mostrou abertura para uma discussão sobre corte de juros, e as chances de uma redução ainda este ano se tornam menos prováveis.
'Dedo não está no gatilho'
Para Daniela Lima, economista da Kinea Investimentos, pela comunicação da autoridade monetária, não dá para descartar que só ocorra uma redução em março de 2026:
— É um BC que não está com o dedo no gatilho. Está com dedo bem longe do gatilho — afirmou.
Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, concorda que o comunicado do Copom foi bastante duro, sem dar espaço para discussão de início do processo de queda da Selic:
— Ainda temos um cenário base de corte em dezembro, que fica mais distante com esse comunicado, que não dá abertura para discussão de flexibilização, mesmo com a melhora no cenário externo, que se reflete no câmbio.
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'Cenário externo incerto'
Já a economista da gestora Principal, Marcela Rocha, afirma que a comunicação do Copom reforça a expectativa de que o ciclo de queda de juros deve começar em janeiro. Ela destaca que, apesar de a conjuntura desde a última reunião ter mostrado evolução favorável, com expectativas de inflação caindo e câmbio se valorizando, o BC não “comemorou”.
“Para o Copom, o cenário externo seguiu incerto, o crescimento econômico mostrou desempenho conforme o esperado e, mais importante, a sua projeção de inflação ficou estável em 3,4%”, portanto acima da meta, afirmou em nota.
Expectativa confirmada
A decisão de manutenção dos juros era largamente esperada pelo mercado financeiro, devido à comunicação do Copom no encontro passado. Na ocasião, o Comitê já havia indicado uma “continuação na interrupção no ciclo de alta de juros”.
Desta vez, o BC retirou essa frase, mas frisou que vai continuar avaliando se a “manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta”. A meta é de 3%, com limite de tolerância de 1,5% a 4,5%. Atualmente, o BC prevê que o IPCA alcance 3,4% no primeiro trimestre de 2027, prazo com o qual trabalha para colocar a inflação na meta.
“O cenário atual, marcado por elevada incerteza, exige cautela na condução da política monetária. O Comitê seguirá vigilante, avaliando se a manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta”, afirmou o BC em seu comunicado.
O Copom também enfatizou que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado” — ou seja, novas altas não estão descartadas.
Depois de um ciclo “rápido e firme” de elevação da Selic, que totalizou 4,5 pontos percentuais em nove meses, o BC tem adotado uma postura cautelosa diante de um ambiente de elevada incerteza. O Copom vem indicando que é necessário que os juros permaneçam em “patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado.”
Recentemente, as expectativas de inflação começaram a dar sinais mais consistentes de que o trabalho do BC tem surtido efeito, sobretudo nos horizontes mais longos, como 2027 e 2028, embora as projeções ainda estejam longe da meta de 3%. Até a reunião anterior, a redução nas expectativas se concentrava principalmente em 2025.
Os dados mais recentes do IPCA, mesmo com a deflação de 0,11% em agosto, mostraram que os preços de serviços ainda inspiram cuidados, sobretudo com o mercado de trabalho bastante aquecido e a desaceleração gradual da economia. Em relação a esse ponto, o BC também manteve uma avaliação conservadora.
Diferencial de juro com EUA
Um alívio para o BC é o início do processo de queda de juros pelo Federal Reserve, nos Estados Unidos (leia mais abaixo). Isso aumenta o diferencial de juros entre os dois países, o que deve atrair mais dólares para cá, tirando pressão do câmbio e, consequentemente, da inflação.
Mas o Copom ressaltou que o tarifaço do presidente americano, Donald Trump, ainda traz muita incerteza para o cenário global. E manteve o tom duro, afirmando que “o ambiente externo se mantém incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos.”

