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Brasil deve liderar cortes de juros no mundo em 2026, avalia Citi

País tende a reduzir a Selic mais que outras economias, após ter elevado taxas enquanto o restante do mundo afrouxava a política monetária

O economista Leonardo Porto  disse ainda que 2025 surpreendeu pela resiliência da economia globalO economista Leonardo Porto disse ainda que 2025 surpreendeu pela resiliência da economia global - Foto: Divulgação/Citi Brasil

O Brasil deve ser o país que apresentará maior corte na taxa de juros em 2026. A avaliação é de Leonardo Porto, economista-chefe do Citi Brasil, durante o evento “Macro em Perspectiva”, realizado nesta terça-feira, em São Paulo.

Segundo ele, esse movimento se explica, em parte, porque o país elevou a taxa básica num momento em que grande parte das economias reduzia juros.

— Pouquíssimos países vão apresentar corte de taxa de juros e o Brasil certamente é o que vai mais cortar taxa de juros no mundo. Uma das razões é porque, neste ano, o Brasil foi um país que subiu a taxa de juros desde o final do ano passado, enquanto o resto do mundo estava em um ciclo de corte de taxa de juros.

Porto disse ainda que 2025 surpreendeu pela resiliência da economia global. O Citi projeta crescimento do PIB mundial de 2,8% em 2025 e de 2,7% em 2026, números acima do que se estimava há um ano.

Os motores dessa resiliência foram, principalmente, Estados Unidos e China, cujas economias continuaram avançando.

Um dos fatores que explicam essa força é a diferença de desempenho entre setores. Globalmente, os serviços têm crescido de forma consistente acima da indústria, explica Porto.

O setor de serviços é intensivo em mão de obra, ao contrário da indústria, que depende mais de capital e tecnologia. Assim, quando os serviços puxam o crescimento, a demanda por trabalhadores aumenta, o mercado de trabalho se aquece e a renda avança.

Esse mesmo fenômeno ajuda a explicar a resiliência da economia brasileira, que continua crescendo mesmo após um período prolongado de juros elevados.

— É comum falar que a resiliência da economia brasileira é por conta do fiscal. O fiscal é uma explicação, mas não é suficiente, porque a gente está vendo no mundo também.

Sobre o impacto das tarifas impostas pelos Estados Unidos no último ano, Porto disse que elas contribuíram para alguma pressão inflacionária, mas o efeito foi limitado. Por isso, o Citi acredita que o Fed deve iniciar os cortes de juros até março de 2026.

No Brasil, o economista afirma que o cenário inflacionário vem melhorando de forma “inequívoca”, o que aparece em diferentes indicadores, como a ancoragem das expectativas do mercado — isso quer dizer que os analistas já começam a projetar dados de inflação mais alinhados à meta do Banco Central, de 3%. O Citi prevê início do ciclo de cortes da Selic já em janeiro.

Ele cita que a inflação de serviços, considerada um componente sensível ao mercado de trabalho, parece ter deixado para trás a tendência de alta e agora opera com certa estabilidade:

— O patamar da inflação de serviços ainda é bem elevado, 6%, incompatível com a meta de 3% do Banco Central, mas a trajetória ascendente parece ter se estabilizado.

Já Eduardo Miszputen, chefe de mercados globais do Citi, comentou receios de uma possível bolha no setor de tecnologia, especialmente em empresas ligadas à inteligência artificial. Ele reconhece que há um “dilema”: os preços seguem subindo, e o "P/E ratio" (que relaciona o preço da ação ao lucro da empresa) está acima do que muitos analistas consideram razoável.

— Os ativos continuam se valorizando. Alguns analistas acham que estão esticados. Poderia ter algum tipo de ajuste de preço, mas acho que é difícil dizer. Acho que existe uma preocupação, sim, mas é difícil dizer que isso é algo que poderia ser emergente ou acontecer em 2026 — disse.

Sobre o mercado acionário brasileiro, Miszputen lembrou que a Bolsa de Valores teve uma forte valorização ao longo de 2025 e ainda é considerada barata quando se observa a precificação individual das empresas. O Citi avalia que há espaço para crescimento ainda maior.

— Ela pode chegar a 180 mil, a 200 mil? Sim, pode chegar. É difícil ter uma previsão exata. Obviamente isso depende muito do ambiente macro, dos riscos da eleição, dos cenários que os investidores locais e internacionais colocam na mesa para olhar esse ativo como prioridade.

Miszputen acrescentou que a baixa participação do investidor local na bolsa continua sendo um tema relevante, mas que não deve mudar de forma decisiva em 2026. Isso porque a realocação para renda fixa e crédito continua atraente enquanto a taxa de juros for alta.

— O investidor local está muito pouco alocado na bolsa. Essa é uma outra discussão que a gente vai ter. Eu não acho que a gente vai ter essa discussão em 2026, porque muito dessa realocação do investidor local de bolsa para outros ativos, principalmente de renda fixa e de crédito, aconteceram e acontecem porque a taxa de juros é alta. Então, a taxa nominal já é alta, a taxa nominal mais um risco de crédito ainda faz o ativo mais interessante e ativos isentos ainda mais interessantes.

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