Economia

'Brexit', protecionismo e eleição americana são riscos à economia mundial, diz FMI

"Esses fatores implicam em uma base modesta para o crescimento, além de incerteza substancial sobre as perspectivas econômicas futuras", indica o Fundo

Demi Lovato Demi Lovato  - Foto: Divulgação

O avanço do populismo protecionista na Europa e nos Estados Unidos está entre os fatores que agravam a instabilidade e reduzem as perspectivas de uma retomada vigorosa do crescimento econômico global, aponta o Fundo Monetário Internacional (FMI) em seu relatório anual.

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"O atual panorama é moldado por uma complexa confluência de realinhamentos, antigas tendências e novos choques. Esses fatores implicam em uma base modesta para o crescimento, além de incerteza substancial sobre as perspectivas econômicas futuras", diz o relatório Panorama Econômico Global lançado nesta terça (4).

O fundo reduziu em 0,1 ponto sua projeção de abril sobre o crescimento global em 2016 (para 3,1%), e 2017 (para 3,4%). Um dos riscos apontados pelo Fundo é o de estagnação nas economias avançadas, que tiveram suas previsões de expansão rebaixadas em 0,3 ponto percentual, para 1,6% neste ano, e em 0,2 ponto percentual, para 1,8%, em 2017.

A campanha presidencial americana e a decisão "inesperada" do Reino Unido de sair da União Europeia (Brexit), ambas marcadas por discursos contra o livre comércio, aumentam as preocupações com o crescimento mundial e indicam uma tendência perigosa, afirma o relatório.

"O Brexit e a atual campanha presidencial nos EUA ressaltaram o desgaste do consenso sobre os benefícios da integração econômica transfronteiriça. Preocupações com o impacto da competição estrangeira sobre empregos e salários num contexto de crescimento fraco aumentaram o apelo de políticas protecionistas, com ramificações nos fluxos de comércio global e a integração em geral", afirma o fundo.

Para Maurice Obstfeld, economista-chefe do FMI, o sentimento de muitas pessoas em países desenvolvidos de que a recuperação da crise de 2008 não chegou a elas mostra um impacto político negativo para a economia global.

"Para resumir, o crescimento tem sido baixo demais por tempo demais, e em muitos países seus benefícios atingiu muito poucos, com repercussões políticas que provavelmente deprimirão o crescimento global ainda mais", disse Obstfeld nos comentários de abertura da apresentação do relatório.

Embora não tenha havido sinais visíveis de desaceleração no último trimestre, o crescimento da economia global continua fraco, tanto entre países desenvolvidos como emergentes, afirma.

"De forma geral, a economia mundial moveu-se para os lados. Sem uma ação política determinada para apoiar a atividade econômica no curto e médio prazos, o baixo crescimento corre o risco de se perpetuar, com as forças econômicas e políticas negativas que está gerando", disse Obstfeld.

A estimativa é de que os países emergentes terão um ligeiro aumento no crescimento em 2016, para 4,2%, depois de cinco anos de declínio. Condições financeiras externas mais favoráveis ajudam a recuperação, indica o Fundo.

"O sentimento em relação às economias emergentes melhorou com a expectativa de juros baixos nos países avançados, preocupação reduzida com a capacidade da China de seguir políticas de crescimento e alguma firmeza nos preços das commodities", afirma o relatório.

O fundo elevou em 0,1 ponto sua projeção de crescimento da China neste ano, para 6,6%, e manteve em 6,2% a de 2017. A meta do governo chinês para este ano é de uma expansão entre 6,5% e 7%, depois dos 6,9% do ano passado, o menor em 25 anos.

Sob o título "Demanda deprimida - sintomas e remédios", o relatório do FMI ressalta o impacto da queda nas exportações para a China e países avançados das economias emergentes, responsáveis por três quartos do crescimento global.

A China é o principal destino das exportações brasileiras, e nos primeiros oito meses deste ano elas tiveram alta de 1,8% em relação ao mesmo período de 2015, o correspondente a 21% das vendas globais do Brasil.

Segundo o Fundo, a expansão dos emergentes "mais que compensa" a desaceleração na China e nos países desenvolvidos.

"Embora as perspectivas para as economias avançadas continuem apáticas, devido a tendências demográficas desfavoráveis e fraca produtividade, a projeção é de fortalecimento da expansão dos mercados emergentes no médio prazo", afirma o relatório.

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