Dom, 07 de Dezembro

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Cargo de diretor de IA ganha espaço em empresas, que buscam retorno de investimentos na área

Pesquisa da IBM e da Oxford Economics em 22 países mapeou características da função, que centraliza operações de inteligência artificial

Número de empresas com esse profissional cresceu de 11% para 26% no período de um anoNúmero de empresas com esse profissional cresceu de 11% para 26% no período de um ano - Foto: Feito com IA Freepik

A corrida para transformar as aplicações de inteligência artificial em um investimento que gere retornos está criando um novo cargo no alto escalão das empresas: o Chief Artificial Intelligence Officer (CAIO), diretor de inteligência artificial.

Em um ano, o número de empresas com esse profissional cresceu de 11% para 26%.

O mapeamento faz parte de uma pesquisa da IBM, em conjunto com a Oxford Economics, divulgada nesta quarta-feira, que traz um panorama sobre o cargo em 2,3 mil empresas de 22 países, incluindo o Brasil.

Um dos desafios do profissional é buscar aplicações de IA que gerem resultado, em meio a profusão de modelos e serviços na área.

O estudo indica que organizações com esses profissionais conseguiram apresentar 10% mais retorno sobre investimento (ROI) em IA, e que 66% esperam ter um funcionário para essa função nos próximos dois anos.

Apesar de trazerem avanços, os próprios diretores da área admitem a incerteza que envolve a função. Mais da metade (68%), afirmam que iniciam projetos de IA mesmo sem saber como mensurar seus impactos.

Para Argus Cavalcante, sócio da IBM Consulting, o cargo ainda está em formação e carece de um padrão no mercado.

Ele observa também que a maioria das empresas que aposta em IA segue em fase de experimentação:

— As organizações precisam se estruturar para definir uma estratégia de adoção da tecnologia e de medição de resultados. E os objetivos mudam. Embora algumas estejam buscando mais produtividade e eficiência, há tentativa de incorporar IA dentro de um produto ou área, como RH, jurídico ou compras.

Cavalcante diz que o principal desafio das companhias é ir além dos casos de teste e da experimentação para aplicar esses sistemas em escala, com resultados mensuráveis.

A pesquisa da IBM aponta que 60% dessas organizações estão na fase de piloto da aplicação de inteligência artificial.

Desde 2023, apenas 25% das iniciativas de IA atingiram o retorno sobre investimento (ROI) esperado. Em contrapartida, os gastos com inteligência artificial têm crescido: a alta foi de 62% entre 2022 e 2025, aponta o estudo.

A pesquisa também ouviu 600 pessoas que ocupam cargos de diretores de IA.

Três quartos deles têm carreiras que vêm da área de dados, mas com alguma experiência em estratégia de negócios, operações ou inovação. Mais da metade se reporta diretamente ao CEO ou ao Conselho de Administração.

Além da gestão técnica típica de um diretor de tecnologia ou de inovação, o cargo exige domínio em dados e inteligência artificial aliado a habilidades de comunicação, negociação e integração de áreas, segundo o sócio do IBM Consulting. Gerir projetos e orçamentos, estabelecer padrões de uso e conduzir a mudança cultural necessária para ampliar a adoção da tecnologia estão no escopo da função.

O cargo pode ter outros nomes, mas, em geral, trata-se do profissional que opera como uma espécie de “sistema nervoso” que centraliza as ações relacionadas à inteligência artificial.

RH e segurança são obstáculos
Perguntados sobre as principais prioridades na função, os CAIO mencionam a estratégia de negócio, o desenvolvimento de adoção da IA e a gerência de sistemas. Garantir a conformidade com a ética e governança é o aspecto menos citado, apesar dos riscos que envolvem essas tecnologias.

— É uma prioridade baixa pelo momento de incerteza, em que todo mundo está discutindo o tema, mas não necessariamente com um arcabouço legal definido — avalia Cavalcante, líder em serviços de transformação de negócios da IBM Consulting.

O sócio da IBM Consulting no Brasil diz que, entre as grandes empresas brasileiras com as quais trabalha, a maior parte tem alguém responsável por inteligência artificial, mas não necessariamente em uma posição de diretoria.

Em outros casos, as estratégias para a tecnologia são dispersas em diferentes setores.

Segundo o estudo, 32% dos diretores de IA culpam os diretores de RH por serem os mais resistentes à expansão interna da tecnologia.

Já um quarto das iniciativas foram canceladas, adiadas ou não conseguiram escalar devido a preocupações de segurança.

A complexidade tecnológica (multiplicidade de modelos e integração com dados proprietários) e o letramento organizacional (necessidade de treinar áreas de negócio para entender termos, limites e usos da IA) também são obstáculos para a área.

Além do Brasil, o estudo avaliou empresas e profissionais de outros Estados Unidos, Japão e União Europeia, de 21 setores industriais diferentes.

Um sistema de rede neural foi aplicado para a avaliação dos resultados. A amostra incluiu empresas de grande porte, multinacionais e nacionais.

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