Economia

Crise na produção de carne nos EUA pode abrir espaço para exportações do Brasil

Os EUA são líderes mundiais da produção de carne bovina, enquanto o Brasil é o maior exportador, com vendas que atingiram o recorde de US$ 7,5 bilhões no ano passado

Exportação de carne para os EUAExportação de carne para os EUA - Foto: Pixabay

A crise na produção de carne em meio à pandemia nos Estados Unidos deve fazer com que empresas americanas se voltem ao mercado interno, abrindo mais espaço para as exportações do setor no Brasil. Diante do fechamento de dezenas de frigoríficos nos EUA desde o início da crise, especialistas afirmam que a carne brasileira pode ser uma opção segura quando os principais concorrentes mundiais enfrentam situações dramáticas na área de alimentos.

De acordo com relatório do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC, na sigla em inglês), 115 instalações de processamento de carne e aves relataram casos de Covid-19 espalhados por 19 dos 50 estados americanos até o fim de abril. Entre os 130 mil trabalhadores desses locais, houve 4.913 diagnósticos confirmados e ao menos 20 mortes.

As maiores companhias de carne do mundo estão entre as que fecharam plantas nos EUA e reduziram a produção vertiginosamente por causa da doença entre os funcionários. Entre elas, estão Tyson Foods, Smithfield Foods e JBS USA. Os EUA são líderes mundiais da produção de carne bovina, enquanto o Brasil é o maior exportador, com vendas que atingiram o recorde de US$ 7,5 bilhões no ano passado.

Em termos gerais, a China é a maior produtora, com cerca de 125 milhões de toneladas por ano. O país asiático consome mais carne suína do que toda a produção de carne americana e ainda importa grande quantidade de carne bovina e frango, terreno no qual o Brasil poderia ampliar sua já forte atuação. Na origem da pandemia, os chineses são os únicos entre as grandes economias globais que devem experimentar um crescimento neste ano, de 1,2%, após terem alcançado cerca de 6% em 2019.

A recuperação deve ser de 9,2% em 2020, segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional), enquanto a retomada nos EUA será mais lenta, na casa de 4,7%.
Professor de agronegócio global do Insper, Marcos Jank diz que o Brasil não está imune a problemas nos frigoríficos, mas hoje é capaz de suprir a queda de produção mundial e se beneficiar da alta do câmbio nas exportações, além da reabertura da economia chinesa. "O Brasil pode e deve dar o recado ao mundo de que tem produção para exportação segura. Nossos concorrentes estão em situação muito difícil."

Além dos americanos, Jank cita Austrália, Argentina e a própria China como países que tiveram problemas na produção de carne no passado, culminando com a Covid-19 invadindo os frigoríficos em 2020. Em nota à Folha de S.Paulo, a JBS USA reconhece que a produção diminuiu em algumas instalações por causa da pandemia, mas diz que a empresa continua a atender o mercado interno.
"O sistema agrícola americano é extremamente resiliente e, enquanto algumas empresas fecharam temporariamente, a indústria da carne vai continuar a atender às necessidades domésticas devido à queda nas exportações e na demanda por serviços de alimentos."

Apesar de estar em rota crescente na curva da pandemia, com mais de 115 mil casos e quase 8 mil mortes, o Brasil adotou rapidamente medidas de prevenção na indústria de carne, como o uso de máscaras e o distanciamento entre trabalhadores, o que não ocorreu nos EUA. Com mais de 1,2 milhão de diagnósticos e 71 mil vítimas, o país e seus produtores demoraram a agir.

Pelo menos 20 frigoríficos americanos fecharam durante a pandemia -alguns deles somente no fim de abril–, e muitos estão operando com baixa capacidade.
Além disso, há muito desperdício de produtos, como frangos e suínos, por exemplo, que precisam ser sacrificados e descartados por falta de mão de obra ou de consumidores.

A JBS fechou quatro plantas nos EUA. A Smithfield Foods, cinco. A Tayson Foods, por sua vez, fechou três de suas seis principais plantas no país e as que permanecem abertas, operam apenas parcialmente. O presidente do conselho da Tyson Foods, John Tyson, disse em comunicado na semana passada que "a cadeia de oferta de alimentos [dos EUA] está se rompendo" e que haverá "disponibilidade limitada de nossos produtos no mercado" enquanto as plantas não reabrirem.

Preocupado com os danos econômicos em sua campanha à reeleição, Donald Trump decidiu intervir. Em meio ao aumento de preços da carne no mercado e a escalada do desemprego no país, o presidente assinou uma ordem executiva para que os frigoríficos se mantenham abertos. Baseado no Ato de Defesa da Produção, criado em 1950 para garantir a produção nacional, Trump quer evitar problemas de abastecimento, mas a Tayson afirma que a medida não deve adiantar.

Nesta segunda (4), em conversa com investidores, a cúpula da empresa afirmou que sua produção de carne de porco já havia despencado 50%, diante de projeções de analistas de que as perdas podem ser ainda maiores. A ordem de Trump dá às empresas cobertura legal e proteção contra ações de responsabilização caso trabalhadores peguem o vírus por terem que se manter em serviço.

Especialistas afirmam que ainda é difícil saber qual será impacto da ordem do governo na produção de carne do país. Um dos termômetros pode ser o preço e a disponibilidade dos produtos nas prateleiras. Por enquanto, quem tiver menos danos na cadeia produtiva e souber aproveitar os vácuos deixados pelos americanos conseguirá se posicionar como agente capaz de garantir a segurança de alimentos no mundo diante de uma crise sem precedentes, segundo Jank.

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