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Custo de financiamento de veículos chega a 29,5% ao ano, maior patamar da história

Mesmo assim, Anfavea divulgou números positivos do setor no primeiro bimestre, com alta de vendas, produção e exportações

Fábrica da Peugeot, da Stellantis, em Porto Real, no Rio de Janeiro: setor automotivo apresesenta números positivos, apesar dos juros altos Fábrica da Peugeot, da Stellantis, em Porto Real, no Rio de Janeiro: setor automotivo apresesenta números positivos, apesar dos juros altos  - Foto: Hudson Pontes

O custo de financiamento de veículos para pessoa física está atualmente em 29,5% ao ano, o maior patamar da história, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

A entidade acompanha esse dado desde 2011 e nunca foi resgistrado um índice tão elevado, inclusive antes do início da série histórica.

No ano passado, no mesmo mês, o percentual estava em 24,5%, segundo a Anfavea. Nesse custo, estão embutidos o spread dos bancos e a taxa de juros Selic (que subiu de 10,75% para 13,25% ao ano nos últimos 12 meses).

— Essa tendência de alta precisa ser interrompida. Até agora, os números são bons, mas isso pode impactar nosso mercado — afirmou nesta sexta-feira Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, durante a apresentação dos dados do setor relativos ao primeiro bimestre.

Para Lima Leite, o aumento das vendas, da produção e das exportações nos dois primeiros meses de 2025 pode ser explicado em parte pelos ganhos de renda e redução do desemprego, refletidos no bom desempenho da economia brasileira que cresceu 3,4% no ano passado.

Ele acredita que com o avanço do chamado marco das garantias (em que o bem pode ser retomado em caso de não pagamento), o custo de financiamento tende a recuar.

— O que estamos colocando é que a taxa de juros é um incômodo neste momento. Se ela não tivesse subido, teríamos terminado 2024 com uma mercado de 3 milhões de veículos vendidos, consolidando o Brasil como um dos grandes players do setor — disse Lima Leite. No ano passado, foram vendidos 2,6 milhões de veículos, alta de 14% em relação ao ano anterior.

O presidente da Anfavea lembrou também apesar dos juros elevados, a taxa de inadimplência do setor segue baixa: 4% para pessoas físicas e 2,6% para pessoas jurídicas. Atualmente, cerca de 55% dos veículos são comprados à vista e 45% são financiados.

Números positivos em 2025
Mesmo com desafios, como concorrência dos importados chineses, juros altos e perspectiva de menor oferta de crédito, o setor automotivo começou 2025 aquecido.

As vendas no bimestre cresceram 9%, atingindo 356,2,9 mil unidades na comparação anual.

Os importados representaram 21% das vendas.

Já a produção cresceu 14,8% no período (392,9 mil unidades), também na comparação anual, enquanto as exportações tiveram alta de 54,9%, com 76,7 mil veículos vendidos no exterior, puxados pela Argentina, mas também pela recuperação de mercados como Colômbia, Chile e Uruguai.

— Os principais destinos de nossa exportações estão tendo uma reação importante. As vendas para a Argentina, por exemplo, cresceram 172% na comparação anual do bimestre. No Chile, o crescimento foi de 12% — Lima Leite.

Já as importações tiveram queda em fevereiro: de 39,3 mil unidades em janeiro para 35,9 mil unidades. Mas, no bimestre, mostraram alta de 26,2% na comparação anual chegando a 75,2 mil unidades compradas no exterior.

Dentro do Mercosul, as vendas da Argentina para o Brasil foram menores, mas as vendas de veículos chineses continuaram em alta. Por isso, o presiente da Anfavea continua insistindo com o governo que o Imposto de Importação de 35% de veículos eletrificados deve ser antecipado de 2026 para este ano.

— As discussões estão bem quentes e acreditamos que podemos ter uma resposta rápida — disse.

Trump traz incertezas
A política de tarifas do presidente dos EUA, Donald Trump, tem trazido um clima de incerteza para todos os setores da economia brasileira, incluindo o automotivo.

— O impacto dessa política para as montadoras dos EUA e do México trazem impacato também para o Brasil. Algumas estão revendo suas estratégias, já que quando se desenvolve uma nova tecnologia ela é compartilhada globalmente entre as montadoras. E nesse momento há muita incerteza — afirmou.

Ele disse que não acredita em redução do preço do aço, que poderia beneficiar o setor com possível maior oferta no mercado domésticos.

Trump subiu a tarifa do produto em 25% para todos os países.

— Não acredito nisso. Só acreditamos em montadoras fortes no Brasil, se todos os setores estiverem fortes. E aço é fundamental. Se uma siderúrgica desativa um alto-forno, o risco dele não voltar é enorme. O custo para reativá-lo é quase o mesmo de construir uma planta nova — explicou.

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