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Economia

Destituição de superintendente abre crise entre funcionários e direção do BNDES

As divergências envolvem o modelo de venda de ações que estão hoje na carteira da instituição

BNDESBNDES - Foto: Arquivo / Agência Brasil

A destituição de uma superintendente da área jurídica do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) abriu uma crise entre a direção do banco e seus empregados. As divergências envolvem o modelo de venda de ações que estão hoje na carteira da instituição.

Nesta segunda (7), a AFBNDES (Associação dos Funcionários do BNDES) organiza assembleia para questionar a direção sobre o afastamento de Luciana Tito, funcionária de carreira que ocupava a superintendência da área Jurídica Operacional.

"As circunstâncias do afastamento recente de uma das mais respeitadas advogadas do Banco da superintendência jurídica operacional confirmam que a governança do banco está sob sério risco e nos deixa seguros sobre a necessidade de demandar publicamente explicações", disse, em nota, a instituição.

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Ela teria perdido o cargo por discordar da inclusão de ações da União hoje em mãos do BNDES em oferta pública que será realizada pela Caixa Econômica Federal para vender ações do Banco do Brasil, que hoje estão em fundos do FGTS e na tesouraria do próprio BB.

A operação foi anunciada na quinta (3) e vai movimentar 132,5 milhões de ações do Banco do Brasil, em um valor estimado pelo fechamento de quarta (2) em R$ 5,75 bilhões.

A superintendente do BNDES foi destituída no mesmo dia do anúncio da oferta. Segundo a AFBNDES, a superintendente foi destituída "por não se dobrar a pressões que comprometeriam a governança da instituição".

A União repassou os papéis do BB ao BNDES justamente para que fossem vendidos, mas os trâmites burocráticos internos não foram cumpridos a tempo de acompanhar a oferta da Caixa.

A associação acusa a gestão atual de "violar o conhecimento técnico" ao optar por venda de ações em ofertas públicas mesmo em casos em que seria recomendável a venda em mesa de operações, isto é, em pequenas operações de acordo com o desempenho da bolsa.

O modelo de oferta pública, diz e entidade, só seria recomendado em caso de grandes volumes de ações, que impossibilitassem a venda em mesa.

Ao contrário, é prejudicial ao BNDES, por representar custos com comissões a bancos e gerar perda de valor das ações assim que a oferta é anunciada.

Há no banco, porém, a preocupação com os efeitos de uma aceleração na velocidade de oferta de ações, um dos compromissos assumidos pelo presidente do BNDES, Gustavo Montezano, ao assumir o cargo, em julho.

Ele substituiu Joaquim Levy, primeiro presidente da instituição no governo Jair Bolsonaro, demitido por insatisfação do governo com relação aos processos de venda de ações e abertura da "caixa-preta do BNDES".

Ao fim de junho, a carteira do BNDESPar tinha R$ 107 bilhões em ações de empresas listadas em bolsa de valores.

A maior parte desse valor está concentrada em Petrobras (R$ 51,6 bilhões). Vale (R$ 16,8 bilhões) e JBS (R$ 12,3 bilhões) também são relevantes.

"Infelizmente, somos levados a acreditar que, assim como no caso da 'caixa-preta', o compromisso de Montezano revela-se estar integralmente alinhado com os comandos do governo federal, mesmo que isso implique em ações que prejudiquem os interesses do banco", afirmou a AFBNDES.

"Se no tema da "caixa-preta" ele não hesitou em permitir a instrumentalização político-eleitoral do BNDES, no tema da BNDESPar, a indicação é que também não hesita em desrespeitar critérios técnicos e executivos", completou.

No fim de agosto, a abertura de informações sobre compradores de jatos executivos com dinheiro subsidiado foram usadas por Bolsonaro para atacar adversários políticos, como o governador de São Paulo, João Dória, e o apresentador Luciano Huck. O banco ainda não respondeu ao pedido de informações sobre o tema.

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