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ECONOMIA

Dólar sobe, petróleo se mantém em alta e Bolsas caem com tarifaço de Trump

Presidente dos EUA anunciou sobretaxas para México, Canadá e China e promete taxas para União Europeia. Países prometem retaliar

Bolsa de ValoresBolsa de Valores - Foto: Canva/Reprodução

Os mercados começam a semana sob impacto da guerra tarifária deflagrada por Donald Trump no fim de semana. Com ordens executivas que autorizam sobretaxas a partir de terça-feira para produtos de México, Canadá e China, o republicano deve causar impacto em Bolsas, petróleo, câmbio e juros: a moeda americana disparou, o petróleo se mantém em alta e as ações despencaram.

Um índice do dólar subiu 1%, atingindo seu nível mais alto em mais de dois anos, após o anúncio do tarifaço de Trump ao Canadá, México e China. O dólar canadense caiu para seu nível mais fraco desde 2003. O euro despencou, aproximando-se da paridade com o dólar, depois que Trump afirmou que as tarifas sobre produtos europeus “serão tomadas em breve".

A liquidação se espalhou por diversas classes de ativos nesta segunda-feira, com ações globais e futuros de ações dos EUA em queda. Fabricantes de automóveis, ações de tecnologia e mineradoras lideraram uma queda de 1,6% no índice de referência Stoxx Europe 600. O Bitcoin despencou, enquanto o petróleo bruto subiu e os metais industriais caíram.

 

A rápida escalada das tensões representa o ato mais abrangente de protecionismo tomado por um presidente dos EUA em quase um século, dado seu efeito cascata sobre tudo, desde a inflação até a geopolítica e o crescimento econômico.

Trump disse que planeja ter conversas na segunda-feira com Canadá e México antes da entrada em vigor das tarifas, que estão programadas para entrar em vigor nesta terça-feira, dia 4 de fevereiro, a menos que um acordo de última hora seja alcançado.

No domingo, a presidente do México Claudia Sheinbaum criticou a decisão do presidente americano Donald Trump de impor tarifas de 25% sobre produtos importados do país vizinho. Em um vídeo de pouco mais de oito minutos, Claudia alega que a medida prejudicará ambas as economias, e principalmente os próprios consumidores americanos, e propôs uma negociação entre os dois países.

— Ele parece um jogador de pôquer apostando todo o seu dinheiro na primeira mão — disse Steven Englander, chefe global de pesquisa de câmbio do G-10 no Standard Chartered Plc, à Bloomberg TV nesta segunda-feira. — O mercado simplesmente não estava preparado para isso.

Impulsionando a alta do dólar está a expectativa de que as tarifas alimentem pressões inflacionárias e mantenham as taxas de juros dos EUA elevadas, ao mesmo tempo que prejudiquem mais as economias estrangeiras do que os Estados Unidos, aumentando o apelo do dólar como porto seguro.

Os temores de que essa medida aumente as pressões sobre os preços também estimularam uma alta nos rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA de dois anos.

— O medo de um aumento nas tarifas pode desacelerar a atual recuperação e causar uma volatilidade significativamente maior — disse Guillermo Hernandez Sampere, chefe de negociação da gestora de ativos MPPM GmbH. —A experiência mostra que não há vencedores em guerras comerciais.

Moedas de mercados emergentes, como a rúpia indiana e o peso mexicano, registraram grandes perdas, enquanto o rand sul-africano enfraqueceu após Trump criticar as políticas de expropriação de terras do país.

Os traders estão atentos a grandes oscilações nos ativos considerados mais vulneráveis a uma guerra comercial. Embora a China devesse estar entre os mais afetados, o mercado acionário de Hong Kong reabriu após um feriado de vários dias pelo Ano Novo Lunar com queda de 0,04%, caindo menos do que os do Japão (-2,66%) Coreia do Sul (-2,52%) e Taiwan (-3,53%). O mercado acionário da China continental reabrirá só na quarta-feira.

A China está ansiosa para retomar as negociações comerciais e está preparando uma oferta inicial para tentar evitar aumentos tarifários ainda maiores e novas restrições tecnológicas, informou o Wall Street Journal. Após a publicação da reportagem, o yuan offshore (negociado fora da China Continental) reduziu parte das perdas.

Na Europa, as ações estão em queda, com a Bolsa de Londres caindo 1,27%, a Bolsa de Frankfurt com perda de 1,84% e a de Paris recuando 1,77%.

Em resposta ao anúncio dos EUA, Canadá e México prometeram retaliações. O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, revelou uma tarifa retaliatória de 25%, enquanto a líder mexicana, Claudia Sheinbaum, prometeu impor tarifas em retaliação.

O Ministério do Comércio da China emitiu um comunicado prometendo “contramedidas correspondentes”, sem dar detalhes, e afirmou que entrará com uma queixa na Organização Mundial do Comércio.

O anúncio das tarifas também provocou um aumento no preço do petróleo de referência dos EUA, o West Texas Intermediate (WTI), já que as tarifas sobre importações do Canadá e do México ameaçam desestabilizar o altamente integrado mercado de petróleo da América do Norte e elevar os preços da gasolina para os motoristas americanos. A possível interrupção no fornecimento de petróleo dos EUA fez com que o desconto do WTI em relação ao Brent diminuísse.

O petróleo tipo Brent, referência mundial, estava sendo negociado a US$ 76,85 o barril, uma alta de 1,56% nesta segunda-feira, enquanto o barril do tipo Texas, referência nos EUA, estava cotado a US$ 74,33, uma alta de 2,48%.

— Os mercados financeiros podem passar por um doloroso processo de ajuste nas próximas semanas, à medida que os participantes começam a levar o presidente a sério e literalmente — disse Karl Schamotta, estrategista-chefe de mercado da Corpay, em Toronto.

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