Mulheres ganhariam mais R$ 834 por mês se fossem remuneradas por trabalho domésticos
Estimativa é do Instituto Locomotiva, que projeta que a remuneração seria equivalente a uma massa de rendimento anual de R$ 905 bilhões
Se o trabalho doméstico fosse remunerado no Brasil, as mulheres ganhariam, em média, R$ 834 a mais por mês.
O cálculo foi feito pelo Instituto Locomotiva com base em dados do IBGE.
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O levantamento estima que essa remuneração resultaria em uma massa de rendimento anual de R$ 905 bilhões.
O valor foi calculado com base no tempo médio que mulheres brasileiras com 14 anos ou mais dedicam a atividades domésticas, como limpeza e preparo de refeições, segundo a edição das Estatísticas de Gênero do IBGE.
De acordo com o instituto, elas passam, em média, 21,3 horas por semana nesses afazeres — o dobro do tempo dedicado pelos homens.
O cálculo tomou como referência o valor médio pago por hora ao trabalho doméstico remunerado no Brasil, com base nos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) do quarto trimestre de 2024.
Medir o impacto econômico dessa atividade é como “acender uma luz numa sala escura”, diz o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles.
Ele argumenta que, ao quantificar esse valor, a pesquisa evidencia que o trabalho doméstico não remunerado é uma atividade essencial para economia, mas que não é dividida de forma equilibrada:
— Precisamos avançar para uma realidade onde cuidar da casa e da família seja visto como responsabilidade de todos, e não um "favor" ou algo excepcional quando realizado pelos homens — afirma Meirelles, que acrescenta que uma divisão mais justa do trabalho doméstico traria impacto positivo na economia ao liberar potencial produtivo das mulheres.
O tema costuma entrar em discussões que envolvem a equidade de gênero na economia.
A Organização Mundial do Trabalho (OIT) estima que 748 milhões de pessoas no mundo estejam fora da força de trabalho formal devido a responsabilidades de cuidado. Dessas, 708 milhões são mulheres.
Percepção dos brasileiros
O Locomotiva também analisou a percepção dos brasileiros sobre a divisão do trabalho doméstico.
Segundo o levantamento, nove em cada dez brasileiros concordam que as mulheres se preocupam mais do que os homens com a rotina de cuidados com a casa e os filhos.
A mesma proporção (91%) também reconhece que as mulheres se sentem exaustas em razão do acúmulo de jornadas.
O levantamento aponta ainda que 85% das mulheres declaram ser as principais responsáveis pela organização da casa, enquanto apenas 54% dos homens dizem o mesmo.
A disparidade se repete no preparo de refeições (81% das mulheres contra 52% dos homens), na faxina (79% contra 44%) e na lavagem de roupas (80% contra 42%).
A pesquisa ouviu 1,2 mil pessoas entre 7 e 20 de janeiro, em todas as regiões do país. Meirelles ressalta que a desigualdade do trabalho doméstico não remunerado é fruto de hábitos culturais e estruturais.
— Essa percepção cria uma situação injusta, onde as mulheres têm uma jornada dupla ou até tripla: trabalho fora, trabalho em casa, e planejamento mental constante das tarefas domésticas, o famoso "cansaço mental" — avalia ele.
Para Meirelles, uma divisão mais equilibrada teria efeitos como mais renda disponível, maior consumo e até maior crescimento econômico.