Economia

Empresas brasileiras já se preparam para escassez de matéria-prima chinesa

Com a paralisação da produção nas empresas chinesas devido ao surto de coronavírus, companhias brasileiras já começam a se preparar para atrasos no recebimento de matérias-primas e produtos vindos do país asiático

CoronavírusCoronavírus - Foto: Divulgação

Com a paralisação da produção nas empresas chinesas devido ao surto de coronavírus, companhias brasileiras já começam a se preparar para atrasos no recebimento de matérias-primas e produtos vindos do país asiático.

A Flextronics, responsável pela fabricação de celulares Motorola, é uma das que já se organiza para uma eventual falta de produtos. A companhia enviou uma carta ao SindMetal (Sindicato dos Metalúrgicos de Jaguariúna) na última sexta-feira (31), informando a necessidade de realizar férias coletivas para a produção entre os dias 17 e 26 de fevereiro.

"Em decorrência da grave crise de saúde que acomete a China, em razão do coronavírus, a solicitante esclarece que os produtos utilizados em sua manufatura são importados do referido país e, em razão do grave quadro internacional poderá ter suas atividades fabris suspensas pela falta de matéria-prima", diz trecho do documento.

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A reportagem entrou em contato com a Motorola e a Flextronics, mas não obteve um posicionamento até a finalização deste texto. A interrupção da produção também está sendo discutida pela Samsung. A empresa enviou ao Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas uma proposta de paralisação de três dias na próxima semana devido à falta de materiais chineses.

Segundo o presidente do sindicato, Sidalino Orsi Júnior, o plano é que os funcionários trabalhem só na segunda e terça-feira da semana que vem e, posteriormente, dois dos três dias de descanso sejam recompensados em dois sábados de reposição. "O problema é como fica a vida dos trabalhadores, porque sabemos que o coronavírus não acaba amanhã. É uma situação ruim porque as pessoas têm vida, mexe na rotina delas. Fora que faixa etária deles é baixa, e a rapaziada gosta de sair em fim de semana", diz.

A Samsung solicitou que a reportagem entrasse em contato com a Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), mas a entidade não respondeu até a publicação deste texto. O impacto também deve ser sentido na importação de painéis solares. Daniel Pansarella, diretor de vendas no Brasil da chinesa Trina Solar, uma das maiores fabricantes do produto no mundo, diz que a demora da saída das placas já está programada no calendário da empresa no Brasil.

"Estamos prevendo um atraso de duas semanas, devido à indisponibilidade da logística na China, que não permite as matérias-primas chegarem nas fábricas e impede o deslocamento de produtos para o porto", afirma. "Já estamos pensando em uma contingência de recuperação, fazendo embarques adicionais".

Pansarella afirma, porém, que se a situação não se normalizar e houver atrasos adicionais, a indisponibilidade da matéria-prima pode afetar o preço do produto final por aqui. Na avaliação de Leandro Barreto, sócio da consultoria Solve Shipping, o impacto pode ser grande porque as regiões que tiveram o Ano-Novo chinês prolongado são responsáveis por 90% das exportações do país.

"Os navios que saíram na semana do feriado até estavam cheios, mas os que saem de lá essa semana, nós percebemos que estão mais vazios", diz. Barreto afirma também que as importações devem ser impactadas nas próximas semanas, enquanto as exportações para os chineses já começam a sentir efeito da menor demanda por lá.

"O desabastecimento para a Zona Franca de Manaus, para indústria automobilística ou para o comércio popular, nós só vamos sentir o impacto depois do Carnaval. Mas na exportação, nós já sentimos a demanda mais fraca, porque lá fora eles não estão comprando." O vice-presidente da Hapag-Lloyd, Luigi Ferrini, diz que o impacto pode ser minimizado quando a produção voltar à normalidade, com as embarcações aumentando suas cargas. Agora se a paralisação se estender, Ferrini afirma que a situação exigirá atenção. "Se isso continuar, o potencial de reação nos portos para embarcar vai ser cada vez menor. A situação agravada vai acabar afetando os preços."

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