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VIAGENS

Fluxo de turistas estrangeiros para os EUA cai 10% em março; banco prevê perda de US$ 90 bi este ano

Chegada por via aérea teve forte queda no mês passado

Terminal 1 do aeroporto JFK, de Nova York, a ser inaugurado em 2026 Terminal 1 do aeroporto JFK, de Nova York, a ser inaugurado em 2026  - Foto: Divulgação

A economia dos Estados Unidos deve perder bilhões de dólares em receitas em 2025 devido à queda no turismo estrangeiro e a boicotes a produtos americanos, somando-se a uma lista crescente de obstáculos que mantêm elevado o risco de recessão.

As chegadas de não cidadãos aos EUA por via aérea caíram quase 10% em março em relação ao ano anterior, segundo dados publicados na segunda-feira pela Administração de Comércio Internacional. O Goldman Sachs Group Inc. estima que, em um cenário pessimista, o impacto este ano da redução das viagens e dos boicotes pode totalizar 0,3% do Produto Interno Bruto, o que equivaleria a quase US$ 90 bilhões.

O turismo estrangeiro tem sido um fator positivo para os EUA nos últimos anos, à medida que o fim das restrições da era da pandemia de Covid impulsionou uma retomada das viagens internacionais. Mas muitos potenciais visitantes estão repensando seus planos de férias em meio ao aumento da hostilidade nas fronteiras, às crescentes tensões geopolíticas e à incerteza econômica global.

Um deles é Curtis Allen, um videomaker canadense que cancelou uma viagem de férias aos EUA após o presidente Donald Trump impor tarifas punitivas ao seu país e sugerir que o Canadá deveria se tornar o 51º estado americano. Allen e sua parceira já fizeram várias viagens de acampamento ao Oregon ao longo dos anos, mas este ano vão viajar pela Colúmbia Britânica.

— Não é que vamos ficar em casa — disse Allen, de 34 anos. — Vamos gastar o mesmo dinheiro, só que em outro lugar.

A hesitação de Allen vai além disso. Ele cancelou sua assinatura da Netflix e está evitando ativamente produtos americanos no supermercado.

— Agora a gente leva o dobro do tempo, porque fica olhando de onde vieram os produtos —contou.

Viajantes internacionais gastaram um recorde de US$ 254 bilhões nos EUA no ano passado, segundo dados da ITA (Administração de Comércio Internacional). No início de 2025, as perspectivas eram positivas: a ITA projetava, em março, que os EUA receberiam 77 milhões de visitantes este ano, quase alcançando o recorde de 2019, antes de avançar para um novo pico em 2026.

Mas essas estimativas foram divulgadas pouco antes de relatos de detenções rigorosas em aeroportos dos EUA — envolvendo viajantes de países como França e Alemanha — ganharem destaque na mídia. Enquanto isso, os canadenses — o maior grupo de turistas estrangeiros nos EUA — estão preferindo ficar em casa, à medida que Trump intensifica os ataques à economia e à soberania do país.

Quase US$ 20 bilhões em gastos com varejo por turistas internacionais nos EUA podem estar em risco, segundo uma análise da Bloomberg Intelligence.

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Os primeiros sinais de retração já estão aparecendo. Passagens aéreas, tarifas de hotéis e preços de aluguel de carros caíram em março, conforme relatório mensal de preços ao consumidor do Departamento de Estatísticas Trabalhistas dos EUA, publicado em 10 de abril. Economistas do Goldman Sachs e do HSBC Holdings disseram que a queda na demanda — inclusive de viajantes estrangeiros — provavelmente teve impacto.

Omair Sharif, presidente da Inflation Insights, destacou que a queda nas tarifas de hotéis foi puxada por uma redução de quase 11% no Nordeste do país, possivelmente resultado da diminuição de turistas canadenses na região.

— Dado o que sabemos sobre o quanto as viagens canadenses caíram, isso é potencialmente preocupante para essa região — disse Sharif.

Temporada de verão
O momento é “muito interessante” para a Rainbow Air Helicopter Tours, em Niagara Falls — que acabou de investir US$ 25 milhões em um novo prédio, na ampliação da frota e em uma atração de realidade virtual para a movimentada temporada de verão — disse Patrick Keyes, gerente de vendas e marketing da empresa:

— Estamos esperando para ver as consequências.

As reservas de voos do Canadá para os EUA caíram 70% até setembro, em comparação ao mesmo período do ano passado, segundo um relatório da OAG Aviation Worldwide. Enquanto isso, as reservas de verão de turistas europeus em hotéis da rede Accor SA também caíram 25% — o que o CEO Sébastien Bazin atribui à repercussão negativa das detenções nas fronteiras, que estariam desviando turistas para outros destinos.

"Anúncios de tarifas dos EUA e uma postura mais agressiva em relação a aliados históricos prejudicaram a imagem global do país", disseram os economistas do Goldman Sachs, Joseph Briggs e Megan Peters, em relatório de 31 de março.

“Esse fator adverso é mais um motivo — além dos impactos negativos diretos das tarifas e da queda nas exportações por retaliações estrangeiras, que já estão incluídos em nossa previsão para o PIB dos EUA — para acreditarmos que o crescimento do PIB americano provavelmente ficará abaixo das expectativas de consenso em 2025”, afirmaram.

Apesar das perspectivas desfavoráveis, a comissão de turismo do Oregon — conhecida como Travel Oregon — continua empenhada em atrair visitantes estrangeiros, segundo o CEO Todd Davidson.

Sua equipe acabou de retornar de uma viagem para promover o estado em uma conferência de turismo de aventura em Vancouver e, nas próximas semanas, receberão parceiros de vendas e marketing de países como Reino Unido, Índia e Brasil.

Ao mesmo tempo, também estão considerando se será necessário ajustar a estratégia para focar mais nos visitantes domésticos, à medida que a situação evolui.

— O Oregon não está — e não vai — tirar os olhos desses mercados internacionais — disse Davidson. —Estaremos aqui quando nossos visitantes internacionais sentirem que é hora de voltar.

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