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AVIAÇÃO

Fusão de Gol e Avianca ainda tem perguntas sem respostas. Entenda a negociação

Acionistas de ambas as empresas criaram o Grupo Abra para unificar as duas aéreas

AviancaAvianca - Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

A decisão dos acionistas das companhias aéreas Gol e Avianca de criar o Grupo Abra para unificar o controle das duas empresas deixou uma série de perguntas ainda sem resposta, mas especialistas dizem que a união deve ser benéfica para as empresas, que ganham tamanho e poder de barganha na negociação de contratos de manutenção e leasing, por exemplo.

Para o consumidor final, o negócio pode baratear o preço de alguns trechos, mas no longo prazo a tendência pode ser de alta nas passagens.

Não, ao menos por enquanto. Segundo o anúncio feito por Avianca e Gol na quarta-feira (11), o Grupo Abra passará a controlar as duas empresas, mas os negócios continuarão separados e os atuais executivos das linhas aéreas seguem no comando das companhias.

O Abra será uma holding, uma sociedade sediada no País de Gales, no Reino Unido, e que terá como sócios a família Constantino, sócia majoritária da Gol, e os controladores da Avianca, entre os quais estão Roberto Kriete, a aérea americana United e os fundos Kingsland e Elliott, presidido por Paul Singer e que era o maior credor da Avianca Brasil.

Não, são empresas distintas, embora ambas já tenham tido como acionistas majoritários e controladores os irmãos Germán e José Efromovich. A Avianca Brasil, cujos donos eram os Efromovich, foi à ruína em 2019 por não pagar o leasing de aeronaves e ter seus aviões tomados pelos arrendadores na Justiça.

 A empresa teve a falência oficialmente decretada em julho de 2020 e tinha um passivo superior a R$ 2 bilhões. Avianca quer reduzir tarifa: na classe econômica, cadeira não vai mais reclinar e empresa quer cobrar por comida

A Avianca que participa da fusão é a empresa aérea de origem colombiana, que tem 102 anos de existência e que atualmente tem sede no Reino Unido. A aérea tem historicamente mais da metade do mercado aéreo colombiano e também faz voos domésticos no Equador.

Também é a uma das companhias aéreas mais importantes da América Central, com operações relevantes em El Salvador.

Os irmãos Efromovich deixaram o controle da Avianca colombiana em maio de 2019, quando deixaram de pagar um empréstimo de US$ 456 milhões contraído com a aérea americana United e cuja garantia era o direito de voto das ações ordinárias da Avianca.

À época, a United executou a dívida e tirou o poder dos Efromovich na empresa. A United, então, passou o direito de voto dos papéis ao Kingsland.  A Avianca colombiana também passou por dificuldades, mas já na pandemia.

A empresa pediu recuperação judicial nos Estados Unidos, em maio de 2020. Após sair do processo de insolvência, no fim de 2021, a aérea fechou o capital e mudou a estrutura societária. Não está clara, hoje, qual é a participação atual dos Efromovich na empresa.

Se a fusão for aprovada, sim. O anúncio da operação já falava que os passageiros de ambas as companhias aéreas poderão ter acesso a uma malha maior, resultado da combinação entre os negócios, e poderão resgatar seus pontos tanto no programa de fidelidade Smiles, da Gol, quanto no Lifemiles, da Avianca.

Sim. Segundo André Castellini, sócio da consultoria Bain&Company, especializada em aviação, as operações de Gol e Avianca hoje têm baixíssima sobreposição e são complementares.

Embora a criação da holding que controle as duas empresas não signifique, ao menos por enquanto, a fusão operacional das duas marcas, cria possibilidades de combinação de rotas para os passageiros.

A Avianca tem 130 rotas atualmente e planeja chegar às 200 até 2023 e tem voos, a partir da Colômbia, a diversas cidades dos Estados Unidos, como Fort Lauderdale, Miami, Nova York, Orlando e Washington. Castellini afirma que essas rotas poderão aumentar a conectividade para os passageiros da Gol, por exemplo.

Ainda não está claro qual é o efeito nos preços. O anúncio da fusão afirma que o Grupo Abra nascia para buscar sinergias e redução de custos para Gol e Avianca. Para Castellini, é improvável que o preço das passagens suba especialmente porque as malhas das duas empresas são complementares, e não sobrepostas.

Isso significa que não há a redução do nível de concorrência entre as companhias aéreas domésticas no Brasil.

Para o advogado Thomas Felsberg, especialista em leasing, a união das empresas sob uma mesma holding deve trazer uma série de reduções de custo, inclusive no arrendamento das aeronaves e na negociação de contratos de manutenção e combustível.

O especialista ressalta, no entanto, que essas sinergias devem vir apenas no médio prazo, uma vez que os contratos de arrendamento de aeronaves atuais seguem vigentes.

Ex-conselheiro: Mudança em estatuto para controlar preços da Petrobras prejudicaria sociedade - Entre as maiores despesas das companhias aéreas, estão o combustível e o leasing. Uma união entre as duas empresas deve fortalecer o fluxo de caixa e dar ao grupo melhores condições de crédito na negociação de novos arrendamentos de equipamentos no futuro - explica.

Para Salvatore Milanese, da Pantalica Partners, no entanto, a consolidação no médio e no longo prazo tende a elevar os preços das passagens.

- Esse é um setor que sofreu muito na pandemia e que tem margens muito apertadas. Sempre foi um segmento mais propenso a ter fusões e aquisições porque o ganho de escala faz com que as empresas diluam seus custos, mas quanto mais oligopolizado é o mercado, mais altos os preços das passagens ficam - explica ele.

- Não sabemos quanto o preço do petróleo vai baixar, o que é decisivo para as companhias aéreas. No Brasil, há ainda outros componentes de inflação que pressionam o caixa. As sinergias, nesse caso de Avianca e Gol, podem até existir, mas são limitadas porque as empresas não operam nos mesmos mercados.

Eles estão, por enquanto, somando a participação de mercado da Gol no Brasil e da Avianca em outros mercados latino-americanos para criar uma companhia panamericana. Mesmo com essa união, o grupo ainda será pequeno se comparado às grandes aéreas globais, como United, Delta e American Airlines - diz ele.

As empresas esperam que isso ocorra ainda neste ano. A união precisa receber o aval de órgãos reguladores do setor aéreo e de defesa da concorrência em diversos países, inclusive provavelmente nos Estados Unidos, afirma a advogada Paula Salles.

No Brasil, o Grupo Abra precisará da aprovação da Anac e do Cade (órgão antitruste brasileiro). Neste último, como há baixa sobreposição de rotas entre as empresas, é possível que o processo siga o chamado rito sumário, segundo Paula. Nesse caso, a decisão poderia sair em até 45 dias.

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