Galípolo reafirma compromisso do BC com meta de inflação e diz que instituição "não briga com dados"
Presidente do Banco Central respondeu crítica de Gleisi Hoffmann e afirmou que decisões do Copom são baseadas em evidências
O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, reafirmou nesta quarta-feira que o compromisso da instituição é com a meta de inflação de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
Ele destacou que as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) são guiadas por dados.
Galípolo também respondeu às declarações da ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, que criticou publicamente o BC após a última reunião do Copom, quando o colegiado decidiu manter a taxa básica de juros em 15% e indicou a permanência nesse patamar por período prolongado.
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“Eu acho que deixou a desejar, entendeu? O Galípolo. Deixou a desejar”, afirmou Gleisi, em entrevista à Agência Estado. Questionado, Galípolo respondeu:
— Já comentei algumas vezes que eu realmente entendo que é absolutamente legítimo todos os ramos da sociedade poderem se manifestar sobre a política monetária e emitir opiniões sobre isso. Todo mundo pode brigar com o Banco Central, o Banco Central que não pode brigar com os dados. O Banco Central não pode brigar com os dados. Talvez, de todas as instituições públicas que existem, o Banco Central seja aquele que tem um objetivo mais claro de todos, porque a gente tem uma meta que é absolutamente exposta e explícita.
O presidente do BC reiterou que está “bem claro” o motivo pelo qual a taxa básica permanece em nível restritivo. Sobre o papel da política fiscal na dinâmica da inflação, Galípolo disse que não cabe ao Banco Central ser “comentarista de outras dimensões da política pública ou da política econômica”.
— A bola que eu tenho que estar de olho sempre é a inflação. Então, o que importa para a gente é como é que a política fiscal ou a percepção existente sobre a política fiscal afeta a inflação corrente, as expectativas de inflação e outros ativos que podem ter desdobramento para o que é a inflação. A gente já tem bastante trabalho aqui com o que é mandato do Banco Central, para a gente poder ficar comentando qualquer outro ramo aqui.
Galípolo enfatizou ainda que a comunicação do BC tem se apoiado exclusivamente em dados, e que as mensagens da instituição não indicam movimentos futuros, mas apenas refletem a leitura atual do cenário econômico. Segundo ele, o Banco Central procura manter uma postura “humilde e modesta diante da incerteza”.
Na ata referente à última reunião do Copom, que aconteceu na semana passada, o BC disse considerar o nível atual dos juros, mantido por “período bastante prolongado”, suficiente para cumprir a meta de inflação.
O colegiado não deu ainda sinais claros de quando começaria a reduzir a Selic. O BC também escreveu na ata que seguirá acompanhando o ritmo da atividade econômica, fundamental na determinação da inflação.
O diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, disse que o ambiente externo segue marcado pela incerteza, influenciado pelas tarifas comerciais dos Estados Unidos, pela situação fiscal de economias emergentes e desenvolvidas, e pelas dúvidas sobre as próximas decisões do Federal Reserve (Fed) após o shutdown do governo americano.
No Brasil, disse que a atividade econômica desacelerou, embora o mercado de trabalho siga aquecido.
— Essa desaceleração é mais forte nos setores menos cíclicos da economia no segundo trimestre. Outro tema é a taxa de desocupação, que manteve a trajetória de queda e atingiu o mínimo histórico.
Galípolo e Guillen ressaltaram que as estimativas sobre o impacto da ampliação da isenção do Imposto de Renda para R$ 5 mil ainda são preliminares. Na ata da última reunião do Copom, consta que a instituição incorporou a reforma do Imposto de Renda (IR) às suas projeções.
— Por que a gente usa a palavra preliminar? É, de novo, o que a gente vem comentando sobre ter uma atitude humilde, modesta e transparente sobre as incertezas que temos hoje — disse Galípolo.

