Economia

Indústria de móveis e eletrodomésticos espera crescer até 20% com novo crédito imobiliário

Setor moveleiro vê com otimismo mudanças no crédito imobiliário e estima um crescimento de 20% no faturamento das indústrias no médio e longo prazo

Projeto comprador da AbimóvelProjeto comprador da Abimóvel - Foto: Divulgação/Abimóvel

A redução dos juros dos financiamentos imobiliários anunciada pela Caixa Econômica Federal nesta terça-feira (20) pode significar a retomada de crescimento de dois setores atrelados a construção civil: o de móveis e o de eletrodomésticos.

Com queda de consumo de 1,8% em 2019, o setor moveleiro vê com otimismo as mudanças no crédito imobiliário e estima um crescimento de até 20% no faturamento das indústrias no médio e longo prazo.

Cerca de 25% dos resultados do setor, que faturou R$ 66,5 bilhões no Brasil em 2018, vem de compras para novas residências, segundo a Abimóvel (Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário). "Podemos chegar progressivamente aos R$ 85 bilhões de faturamento anual", estima Maristela Longhi, presidente da Abimóvel.



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O setor tenta sair da estagnação do consumo, provocada pela desaceleração da economia, explorando mercados de países como Estados Unidos, Peru, Chile e Uruguai. No entanto, diz Maristela, este é um mercado incipiente comparado ao mercado interno.

"De 19 mil empresas do setor, somente umas 300 exportam. O consumo interno é muito importante".

No mesmo embalo, o setor de eletrodomésticos enxerga a possibilidade de ganhar fôlego com o novo formato de financiamento imobiliário.

A estimativa é que as vendas de produtos das linhas branca (geladeira, máquina de lavar e fogão), marrom (televisão, vídeo e som) e de eletroportáteis (liquidificador, sanduicheira, batedeira) cresçam 10%, diz o presidente-executivo da Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos), José Jorge do Nascimento Junior.

"Qualquer incremento na construção civil residencial é um incremento por consequência à indústria de eletrodomésticos, principalmente para as linhas branca, marrom e portáteis. São esses também os primeiros itens que os consumidores compram: geladeira, máquina de lavar roupa, televisão, micro-ondas, liquidificador, sanduicheiras", afirma o executivo.

O impacto, porém, não será imediato; caso o novo financiamento imobiliário crescer, os ganhos para o setor virão em uma segunda etapa, quando os financiamentos, de fato, forem consolidados. "Eu dependo do sucesso e da adesão da Caixa", diz Junior.

O otimismo da Eletros é justificado pela queda de faturamento e estagnação ao longo dos anos, principalmente quando o setor de construção civil foi severamente afetado por escândalos e pela desaceleração econômica por qual o país passa.

"Chegamos no pico de 2014 e depois fomos ao fundo do poço. Hoje estamos com números de 2010. Precisamos retomar o crescimento. A gente precisa do consumo", diz o executivo.

Em 2018, foram vendidas 6,7 milhões de unidades da linha branca. Comparado com o primeiro semestre, o segmento teve uma alta de 13%. Apesar da curva positiva o setor acredita que ainda é cedo para falar em recuperação.

Financiamento imobiliário pela inflação teria sido mais caro nos últimos 15 anos; compare

Mesmo com um juro fixo de 3% ao ano mais a inflação, o novo modelo de financiamento imobiliário da Caixa teria, ao longo dos últimos 15 anos, custado mais ao consumidor que um crédito tradicional com a taxa de 8,5% mais a TR (taxa referencial).

É o que mostra a simulação feita por Marcelo Prata, fundador da Resale, plataforma que vende imóveis retomados pelos bancos.

A Caixa afirmou que o financiamento pelo novo modelo terá custo de 2,95% a 4,95% ao ano, mais a inflação. A correção pela inflação será mensal.

Segundo os cálculos de Prata, um consumidor que tivesse contratado um financiamento de R$ 400 mil teria pago ao fim de 15 anos R$ 767 mil. No sistema atual, no mesmo prazo o custo seria de R$ 737 mil.

Se há 15 anos a Caixa tivesse oferecido o novo modelo de contrato, o consumidor teria desembolsado R$ 30 mil a mais pelo mesmo financiamento. Parte da explicação é por que a inflação medida pelo IPCA oscila mais bruscamente que a TR.

A conta considera uma das taxas prefixadas cogitadas pela Caixa para o novo modelo de crédito imobiliário. Se a taxa for a 5%, a diferença ao consumidor pode aumentar.

O novo sistema está baseado, porém, na expectativa de que a inflação brasileira poderá ficar controlada daqui para frente. Isso ocorreria porque o Brasil ainda enfrenta dificuldades de se recuperar da crise econômica, e as pessoas estão sem dinheiro para consumir. A recuperação viria em um cenário pós aprovação de reformas, que ajudariam a controlar os gastos públicos e a manter a inflação controlada.

Neste ano, a previsão de economistas é que o IPCA termine o ano em 3,71%. Ao fim de 2020, a inflação deve estar em 3,90%. A longo prazo, a meta da inflação foi reduzida para 3,75% ao ano.

Ao lançar o novo financiamento, o objetivo do banco público é poder reempacotar os recebíveis como títulos de dívida, que serão vendidos no mercado a investidores.

A remuneração do investimento se assemelharia aos títulos públicos Tesouro IPCA+, que rendem uma taxa fixa e mais a variação da inflação.

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