Dom, 07 de Dezembro

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TECNOLOGIA

Instagram lança campanha mais cara de sua história mirando a Geração Z

O Instagram é a terceira rede social mais usada entre adolescentes, atrás do YouTube e do TikTok, de acordo com um relatório de 2024 do Pew Research

Logo da Meta exibido em um centro de convenções em Paris Logo da Meta exibido em um centro de convenções em Paris  - Foto: Julien de Rosa/AFP

O quanto o Instagram deseja conquistar os jovens? Na última quinta-feira, o aplicativo de compartilhamento de fotos lançou a campanha de marca mais cara de sua história, segundo a Meta — e ela é voltada diretamente para a Geração Z.

“Estamos há 15 anos no ar, e acho que um dos grandes desafios que enfrentamos é: como continuar sendo relevantes?”, disse Adam Mosseri, chefe do Instagram, em entrevista.

A campanha, uma série de anúncios digitais e outdoors estrelando nomes como a cantora Rosalía e o rapper Tyler, the Creator, apresenta o Instagram como uma espécie de trampolim para criativos independentes.

(E não como aquele gigante das redes sociais cujo dono, a Meta, enfrenta um processo antitruste histórico.) É só uma das maneiras pelas quais a Meta tenta lidar com uma ansiedade antiga: o medo de que o Instagram seja deixado de lado por uma geração mais nova, que espera uma experiência nas redes mais solta e menos “perfeitinha”.

 

“Postar no TikTok é muito menos pressão”, disse Sheen Zutshi, de 21 anos, universitária em Nova York. Ela usa o Instagram principalmente para mandar mensagens diretas aos amigos, mas vê a plataforma como algo mais arrumadinho — do tipo onde alguém posta com sinceridade uma foto do céu noturno, como fez recentemente sua prima mais velha. “É muito fofa essa postagem... porque ela é millennial”, comentou.

O Instagram é a terceira rede social mais usada entre adolescentes, atrás do YouTube e do TikTok, de acordo com um relatório de 2024 do Pew Research. Numa pesquisa da primavera passada, feita pelo banco de investimentos Piper Sandler, quase metade dos adolescentes disse considerar o TikTok sua rede “favorita”.

Em entrevistas, uma dúzia de membros da Geração Z — com idades entre 15 e 26 anos — contou que ainda usa o Instagram para manter contato com amigos, paquerar, divulgar pequenos negócios e ver vídeos de receitas, mesmo se preocupando, de vez em quando, com os efeitos do app na saúde mental. Mas, entre todos os recursos da plataforma, o que menos interessava a eles era justamente aquele que fez o Instagram ficar famoso: o feed público, organizado e polido.

“A maioria dos meus amigos tem, tipo, um post só no perfil”, disse Sophia, de 15 anos, estudante do ensino médio em Arlington, na Virgínia. Ela baixou o app no mês passado só para entrar num grupo de mensagens sobre um intercâmbio.

Ela resumiu bem o paradoxo do Instagram: a Geração Z usa o aplicativo com entusiasmo para um monte de coisas — só não para o que ele foi criado originalmente. Isso é um desafio para a Meta, que há anos tenta reconquistar o público jovem enquanto apanha dos críticos, que alertam para os riscos que suas plataformas oferecem aos mais novos.

Mark Zuckerberg já havia demonstrado preocupação com a imagem do Facebook, a rede que criou em 2004. “Temos dados mostrando que muita gente vê o Facebook como algo cada vez menos relevante e acredita que nosso auge já passou”, escreveu ele num e-mail a outros executivos em 2018. O e-mail foi uma das provas apresentadas pela Comissão Federal de Comércio dos EUA no julgamento antitruste contra a Meta, iniciado em abril e ainda sem decisão final.

Com o tempo, as preocupações corporativas com a relevância migraram para o Instagram, o “irmão mais novo” e mais estiloso do Facebook — cuja compra por US$ 1 bilhão, em 2012, é um dos pontos centrais do processo. Em 2020, um memorando interno obtido pelo New York Times alertava: “Se perdermos os adolescentes nos EUA, perdemos toda a base de entrada”.

Contas teen
Mais de uma dúzia de procuradores-gerais estaduais dos EUA processaram a Meta, acusando a empresa de priorizar o engajamento em detrimento do bem-estar dos jovens. A companhia foi duramente criticada por ex-funcionários, como Frances Haugen, que testemunhou no Senado em 2021 dizendo que a empresa propositalmente mantinha as crianças viciadas nos seus serviços. Diante da pressão pública, a Meta anunciou que suspenderia o desenvolvimento do Instagram Kids — uma versão voltada para menores de 13 anos.

No ano passado, o Instagram lançou as chamadas “Contas Teen”, com configurações de privacidade mais rígidas e ferramentas de supervisão para usuários com menos de 18 anos. Segundo Mosseri, essas mudanças foram bem recebidas pelos adolescentes, embora tenham causado uma leve queda no crescimento e no engajamento desse público. “Quer dizer, não foi nada drástico, mas no curto prazo, doeu um pouco”, afirmou.

De acordo com Mosseri, a nova campanha não é uma jogada esperta para inflar os números entre os jovens, mas uma tentativa de responder a uma “mudança de paradigma” na forma como a Geração Z já está usando o Instagram.

Segundo os dados da empresa, os jovens quase não postam no feed principal do app, disse ele. Mas compartilham mais Stories — que somem após 24 horas — e trocam mensagens diretas, visíveis apenas para quem recebe. Adolescentes americanos mandam, em média, três vezes mais mensagens por dia do que os adultos, de acordo com a Meta.

“Eles são muito cuidadosos com o que compartilham e com quem compartilham”, afirmou Mosseri.

Na quinta-feira, ele anunciou que o Instagram começaria a testar novos recursos para tornar a plataforma menos pressionadora — como a possibilidade de adicionar um post ao perfil sem que todos os seguidores vejam. Também anunciou o Drafts, um novo programa de apoio criativo e financeiro para criadores de conteúdo.

Mas será que qualquer movimento grandioso voltado aos jovens não vai provocar desconfiança entre os críticos da empresa? “Não acho que isso vá contra o trabalho que temos feito para manter o Instagram seguro”, disse Mosseri.

'Os jovens não são bobos'
Por mais que o Instagram pinte suas atualizações como altruístas, no fim das contas o objetivo é sempre manter os usuários no app por mais tempo, diz Zamaan Qureshi, cofundador da ONG Design It For Us, que defende políticas para proteger crianças e adolescentes na internet.

“Os jovens não são bobos, sacam tudo isso rapidinho”, comentou Qureshi, de 22 anos. Ele disse que os lançamentos anteriores de recursos como os Stories e os Reels foram imediatamente identificados pelos jovens como cópias de outras redes, que já vinham dominando a atenção da faixa etária.

Apesar disso, essas ferramentas acabaram sendo bem populares entre os jovens. E o Instagram tem se beneficiado de uma relativa estabilidade num cenário caótico das redes sociais, observa Jennifer Grygiel, professora de comunicação da Universidade de Syracuse. O futuro do TikTok nos EUA é incerto. A compra do Twitter por Elon Musk mergulhou a plataforma no caos. E o Facebook continua “completamente fora de moda”.

O Instagram pode não empolgar a Geração Z, diz Grygiel, mas “virou um padrão meio esquisito — para o bem ou para o mal”.

Muitos dos jovens ouvidos dizem que o Instagram perde feio para o TikTok como motor da cultura pop — mas mesmo assim, continuam abrindo o app várias vezes ao dia. Vários relataram viver uma negociação constante: tentar aproveitar o lado bom da conexão com os outros, sem abrir mão demais do tempo ou da privacidade.

Simon Myers, de 26 anos, consultor em Seattle, contou que abre o aplicativo praticamente todos os dias, mesmo sem postar no feed desde 2020. Usa principalmente para ver notícias esportivas, vídeos curtos de música e esquetes de comédia. “Tem um medo de que, se você mostra demais da sua vida, pode acabar se expondo e sendo passado pra trás”, explicou.

Mosseri afirmou que o aplicativo conta hoje com vários sistemas sobrepostos para identificar golpistas e adultos com comportamento predatório. E que continuam testando novos recursos voltados para quem quer compartilhar conteúdo de forma mais privada.

Jackie Arcara, de 22 anos, disse que usa o app como ferramenta criativa e de comunicação desde a quarta série. (A idade mínima para criar uma conta é 13 anos, mas crianças frequentemente driblam essa exigência.) Hoje, ela tem uma conta para trocar memes por DM com amigos e outra voltada para divulgar seu brechó em Milwaukee.

Ela também consome muitos Reels. “Geralmente de noite, quando eu penso: ‘Preciso dormir’”, contou. “E aí passam três horas e eu ainda tô vendo Reels de gente limpando a calçada com jato d’água.”

Violet Paull, de 18 anos, universitária em Massachusetts, ficou tão incomodada com o tempo que passava no app que decidiu apagá-lo em março. Rolagens infinitas faziam com que se sentisse mal com a própria vida — especialmente quando influenciadoras fitness diziam que o começo da pandemia era “o momento perfeito pra começar a treinar e ficar bem magrinha”.

Ela diz que ficou mais feliz depois que saiu da plataforma. Mas aí começou um estágio de verão — e todo mundo trocava... perfis do Instagram.

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