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CHUVAS

Inundação persistente e bloqueios nas estradas multiplicam prejuízos na agricultura gaúcha

Perdas em armazéns e dificuldade de escoar produção afetam arroz e soja. Nas carnes, pode faltar ração. E indústria fica sem matéria-prima

Ponte inundada no Vale do Taquari, no Rio Grande do SulPonte inundada no Vale do Taquari, no Rio Grande do Sul - Foto: Defesa Civil de São Paulo/Divulgação

A decisão do governo Lula de importar 1 milhão de toneladas de arroz para mitigar os efeitos da tragédia que se abateu no Rio Grande do Sul é apenas a face mais visível do impacto que as inundações – e seus efeitos – terá sobre a economia de todo o país.

Os temporais deixaram várias cidades do estado alagadas há mais de uma semana e, mesmo com o tempo firme dos últimos dias, não é possível estimar quando a situação será normalizada e há a previsão de mais chuvas para os próximos dias. Os bloqueios nas estradas impedem o escoamento de mercadorias e a chegada de matérias-primas e multiplicam os prejuízos nas lavouras e nas fábricas.

— Temos que levar em conta não apenas a perda dos produtos, mas também as perdas decorrentes da obstrução dos canais logísticos. Alguns produtos não foram afetados pelas chuvas, mas os canais de comercialização estão impedidos — explica o professor da FGV Agro Felippe Serigati.

O Rio Grande do Sul representa de 6% a 7 % do PIB brasileiro e é um importante produtor de arroz, soja e farelo de soja. Na indústria, responde por fatia relevante da produção nacional de calçados e móveis.

Cidades turísticas, como Gramado, Canela e toda a região da Serra Gaúcha, podem levar meses para recuperar esta atividade. Analistas estimam impacto no crescimento do país e na inflação, sobretudo no preço dos alimentos.

Veja abaixo, os principais impactos na economia:

Arroz
O Rio Grande do Sul responde por 70% da produção nacional de arroz, que é muito próxima ao consumo do país - ou seja, em situações normais, o Brasil praticamente não importa o grão. O país consome e produz cerca de 10 milhões de toneladas por ano.

Ainda que grande parte da colheita já tenha sido realizada, e mesmo considerando que o arroz é um cultivo de terras baixas e molhadas (o grão resiste sob água por até 7 dias), as entidades do setor arrozeiro gaúchas estimam que o equivalente a 16,5% da safra nacional esteja sob risco, com um prejuízo de R$ 68 milhões aos agricultores.

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E principalmente, há preocupação com a situação dos armazéns, com estoques inundados, e a dificuldade de transportar o produtor para o restante do país.

Por isso, para evitar uma alta de preços a curto prazo, o governo decidiu importar emergencialmente 1 tonelada de arroz.

Antes das chuvas, a previsão era de uma safra de 7,4 milhões de toneladas de arroz no Rio Grande do Sul este ano. As perdas são estimadas agora entre 10% e 17% deste total

Soja
O Rio Grande do Sul é o segundo maior produtor de soja e o terceiro maior de farelo de soja do Brasil. São 6,7 milhões de hectares plantados no estado, e a previsão era de uma produção de 22 milhões de toneladas da commodity, ou 15% da produção brasileira.

A consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio estima que que 30% das plantações de soja ainda não tinham sido colhidas, com risco de perda de 6,5 milhões de toneladas da oleaginosa.

Por ser matéria-prima para vários produtos, como óleo de soja e alimentos industrializados, e principalmente, usado junto com o milho na ração animal, uma alta no preço da soja tem impactos em cascata.

Com as perdas no arroz, soja e milho, a consultoria LCA revisou suas estimativas de inflação para o grupo de cereais, leguminosas e oleaginosas este ano de uma variação negativa (-1,6%) para positiva (1%). Com isso, a inflação de alimentos no ano agora é estimada em 4,5% - contra 3,9% da estimativa anterior.

Milho
Antes da chuva, a expectativa era de uma produção de 5,3 milhões de toneladas no Rio Grande do Sul, ou 5% da safra nacional de milho. Grande parte já foi colhida. A consultoria Datagro agora estima uma colheita de 5,1 milhões, com prejuízos de até R$ 12 milhões para os produtores.

Carnes
O professor da FGV Agro Felippe Serigati afirma que o Rio Grande do Sul tem produção relevante de proteína animal, sobretudo suínos, frangos e ovos, e algumas granjas foram afetadas pelas inundações. Além disso, por conta das chuvas, a ração pode demorar mais para chegar até as fazendas ou chegar com custo mais elevado.

O estado, segundo relatório do Goldman Sachs, responde por 17% do total de abate nacional de suínos; 13% de frango; e 5% de bovinos.

— Em pecuária de corte, o impacto é menor. Ainda assim, tivemos perda de animais. Há rebanhos ilhados ou sofrendo com a chuva, o que pode levar à perda de peso. Mesmo levando os animais aos frigoríficos, os canais logísticos e de comercialização estão obstruídos — diz Serigati.

"O problema é provocado pela destruição da infraestrutura de estradas, pontes e acesso às propriedades. A dificuldade em conseguir chegar com ração e outros insumos essenciais às propriedades é enorme. A situação é agravada pela localização das fábricas de ração, concentradas principalmente na região do Vale do Taquari, uma das áreas mais afetadas pelas chuvas e enchentes", diz relatório da consultoria Cogo.

Varejo e comércio eletrônico
O Rio Grande do Sul é responsável por 7% das vendas no varejo brasileiro e cerca de 6% do volume no comércio eletrônico do país, segundo estimativas do Goldman Sachs.

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Prejuízos
A Confederação Nacional dos Municípios (CNM) estima perdas de R$ 435 milhões para a agricultura, de R$ 134,7 milhões para a pecuária, de R$ 92 milhões para a indústria, de R$ 37,5 milhões para comércios locais e de R$ 52,2 milhões para os demais serviços com a tragédia no RS. De modo geral, já foram contabilizados R$ 4,6 bilhões de prejuízos.

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