Louis Vuitton perde o posto de grife mais valiosa do mundo para a Hermès, da bolsa Birkin
Conglomerado LVMH, dono também da Christian Dior e Tiffany, apresentou resultados fracos por demanda menor na China e efeitos do tarifaço de Trump
O valor de mercado da grife de luxo Hermès, famosa pela cobiçada bolsa Birkin, superou o da rival LVMH, conglomerado conhecido pela marca Louis Vuitton. Nesta terça-feira, a avaliação da Hermès International atingiu 243,65 bilhões de euros (cerca de R$ 1,6 trilhão), ultrapassando momentaneamente os 243,44 bilhões de euros da LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton.
Com isso, a Hermès assumiu o posto de grife de luxo mais valiosa do mundo e de companhia de maior valor de mercado da Bolsa francesa. Passou ainda a ocupar o terceiro lugar entre as companhias mais valiosas da Europa, atrás apenas da desenvolvedora de software SAP e da farmacêutica Novo Nordisk, especializada em medicamentos que auxiliam na de peso, como o Ozempic.
Essa impressionante reviravolta ocorre após as ações da LVMH caírem até 8,4% em Paris, na esteira de resultados decepcionantes no primeiro trimestre, impactados pela desaceleração da demanda na China e nos Estados Unidos e por ameaças de uma escalada na guerra comercial.
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— Em ambientes de incerteza, as pessoas tendem a buscar qualidade, tendem a buscar segurança, e eu acredito que, no setor de luxo, a Hermès representa claramente isso — disse Jelena Sokolova, analista da Morningstar. — A LVMH é um pouco mais cíclica do que a Hermès.
Para a empresa especializada em artigos de luxo, essa virada representa uma validação da sua estratégia de permanecer independente após o acionista controlador da LVMH e bilionário Bernard Arnault revelar, em 2010, que havia discretamente acumulado uma participação significativa na icônica fabricante de lenços de seda.
O movimento de Arnault levou os membros da família Hermès a se unirem, o que acabou forçando o empresário — apelidado de “o lobo de cashmere” por suas aquisições implacáveis de marcas tradicionais — a vender suas ações alguns anos depois.
A LVMH, dona de marcas como Louis Vuitton, Christian Dior e Tiffany & Co, registrou em 2024 vendas de 84,7 bilhões de euros, com um lucro operacional de 19,6 bilhões de euros. Já a Hermès apurou vendas de 15,2 bilhões de euros e lucro operacional de 6,2 bilhões de euros no mesmo período.
A Hermès conseguiu atravessar a queda na demanda por artigos de luxo melhor do que seus concorrentes, ao atender a um público ultrarrico e cultivar um refinado senso de exclusividade e escassez controlada.
O modelo de negócios, limitado pela oferta, garante que a procura por suas bolsas — como a Birkin, batizada em homenagem à falecida cantora e atriz britânica Jane Birkin, e a Kelly, inspirada na Princesa Grace Kelly — ultrapasse sistematicamente o que é disponibilizado.
Essas bolsas podem ser vendidas por cerca de 10 mil euros em Paris, e alcançam valores muito superiores no mercado de revenda. Fundada como uma fabricante de arreios em 1837, a Hermès mantém um forte poder de precificação e listas de espera para seus produtos.
— A Hermès é vista como mais resiliente em certos contextos, especialmente em ambientes mais incertos, e é exatamente isso que está acontecendo agora — afirmou Sokolova, da Morningstar.
A avaliação da LVMH também pode estar sendo prejudicada pelo que analistas chamam de “desconto de conglomerado”, já que ativos como a Sephora operam com margens mais baixas que sua marca mais lucrativa, a Louis Vuitton.
Na segunda-feira, a LVMH divulgou resultados do primeiro trimestre bem abaixo do esperado em sua principal divisão de moda e artigos de couro. A Hermès divulgará seus números trimestrais na quinta-feira.
Embora Arnault frequentemente figure entre os primeiros colocados da lista de pessoas mais ricas do mundo — ocupando atualmente o quinto lugar no Índice de Bilionários da Bloomberg —, a família Hermès, cujo herdeiro da sexta geração Axel Dumas comanda a fabricante de selas, é a mais rica da Europa, com uma fortuna estimada em cerca de 171 bilhões de dólares (aproximadamente R$ 1 trilhão em dezembro.
Em fevereiro, o valor de mercado da Hermès chegou a ultrapassar, por um breve período, a marca simbólica de 300 bilhões de euros, mas as preocupações com uma guerra comercial prejudicaram desde então o setor de luxo como um todo.