Economia

Magazine Luiza compra empresas em série para criar superapp

Esse movimento tem como ponto de chegada a criação de um superapp brasileiro

Magazine LuizaMagazine Luiza - Foto: Divulgação

A compra da empresa de conteúdo Jovem Nerd pelo Magazine Luiza, anunciada nesta quarta-feira (14), é a 17ª de uma série de aquisições pela empresa de varejo em áreas diversificadas desde o início de 2020.

Esse movimento tem como ponto de chegada a criação de um superapp brasileiro. O termo faz referência a plataformas presentes no mercado chinês que reúnem em um só aplicativo serviços variados, como rede social, transações financeiras, compras, contratação de serviços e conteúdo.

Os acordos da varejista desde o ano passado incluem a incorporação de companhias com atividades em que a relação com o varejo eletrônico é mais evidente, como a Estante Virtual (comércio de livros), logística (Sinclog) e infraestrutura de comércio eletrônico (VipCommerce).
 


O Magalu também fechou negócios em áreas que vão além de sua atividade principal. Na área de conteúdo, além do Jovem Nerd, adquiriu as empresas Canaltech (tecnologia) e a Steal The Look (moda).

Ainda se aproximou do mercado de delivery de comida, com a startup Aiqfome, de cursos para a área de tecnologia, junto à ComSchool, e de serviços financeiros, após negociação com a Hub Prepaid -de serviços de conta digital e cartão pré-pago-, cuja aprovação da compra foi dada nesta quarta pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), apesar de objeções apresentadas pelo concorrente Mercado Livre.

Ana Paula Tozzi, da AGR Consultores, diz que a criação do superapp dá ao consumidor uma experiência de compra sem qualquer obstáculo. Nesses serviços, ele pode, por exemplo, estar trocando mensagens em uma rede social e, com poucos toques, comprar uma coleira em anúncio que apareceu ali.

Para Tozzi, a compra de startups permite agilizar o desenvolvimento dessas várias camadas do superapp. Além disso, o Brasil tem produzido empresas de tecnologia iniciantes em grande volume e qualidade, na avaliação da especialista. "Uma aquisição dessas é como iniciar a maratona no quilômetro 21", diz.

Por outro lado, ela ressalva que faz parte do processo de inovação que uma parte das iniciativas dê errado. "Não existe inovação sem alguma perda."

Carlos Arruda, professor da Fundação Dom Cabral, diz que os limites entre o que é uma empresa de varejo, de conteúdo e de entretenimento tendem a ficar cada vez mais difíceis de serem percebidos. Ele diz acreditar que um dos próximos mercados a serem alvo do Magazine Luiza será o de educação.

Arruda afirma que a prática de adquirir startups do mesmo mercado é frequente em setores como tecnologia e saúde, com o objetivo de permitir a incorporação de ferramentas da empresa menor.

Já a estratégia de buscar empresas de mercados diferentes costuma ter o objetivo de, com mais recursos, dar grande escala ao projeto adquirido. Porém, é frequente que a companhia menor já esteja em seu potencial máximo, e o fracasso em acelerar o crescimento leve ao fechamento dela.

Eduardo Galanternick, vice-presidente de negócios do Magazine Luiza, diz que a empresa quer viabilizar as empresas compradas sem incorporá-las. Elas seguirão com escritórios próprios, mantendo seus aplicativos e canais de vendas anteriores.

Por outro lado, passam a receber apoio de áreas do Magazine Luiza, em setores como tecnologia e marketing, e têm seus produtos incorporados ao aplicativo da varejista.

No caso da aquisição do Jovem Nerd, que não teve valor divulgado, o Magazine Luiza vê possibilidade de ampliar sua receita a partir da publicidade apresentada nos canais da produtora de conteúdo.
Para isso, o aplicativo, os podcasts e os vídeos produzidos pelo Jovem Nerd deverão servir de espaço para publicidade das companhias que vendem produtos em seu marketplace do Magalu.

Outro resultado da parceria será a integração do conteúdo produzido pelo Jovem Nerd ao aplicativo do Magazine Luiza. A estratégia, nesse caso, é aumentar a quantidade de downloads e o uso da ferramenta de vendas.
Para a consultora Tozzi, da AGR, o Jovem Nerd também permitirá ao Magazine Luiza chegar a um público consumidor, que, em sua maioria, ainda não é comprador frequente da loja.

Criado por Alexandre Ottoni e Deive Pazos, o Jovem Nerd conta com 5,5 milhões de inscritos em canais do YouTube. Seu podcast, lançado em 2006, alcançou a marca de 1 bilhão de downloads em 2019. A empresa produz conteúdo sobre temas como cinema, quadrinhos, games, ciência e história.

Galanternick diz que o principal papel do Magazine Luiza na nova parceria será apoiar o Jovem Nerd em tarefas administrativas e burocráticas, para que os responsáveis pela companhia possam ampliar sua dedicação à produção de conteúdos.

Passos, do Jovem Nerd, afirma que a parceria com o Magalu deve abrir espaço para que sua empresa passe a produzir filmes, séries e games , projetos que não eram viáveis por limitações de tempo e recursos.

RAIO-X DO MAGAZINE LUIZA
Lojas físicas 1.301
Funcionários 40 mil
Empresas vendendo no site 47 mil
Vendas R$ 14,9 bilhões
Lucro líquido 232 milhões (quarto tri de 2020)
Principais concorrentes Amazon, B2W e Mercado Livre, Via Varejo

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