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INOVAÇÃO

Finep destina R$ 1,3 bi para inovação em PE, BA e CE

Finep atua como secretaria executiva do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT)

Pierre Lucena, presidente do Porto DigitalPierre Lucena, presidente do Porto Digital - Foto: Divulgação

A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) destinou R$ 1,34 bilhão para projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação para as três maiores economias do Nordeste: Bahia (R$ 452,1 milhões), Ceará (R$ 564,4 milhões) e Pernambuco (R$ 323,4 milhões) entre janeiro de 2023 e março deste ano. Os recursos liberados incluem desde empréstimos até recursos não reembolsáveis liberados pela instituição para projetos escolhidos por chamada pública e que, geralmente, têm uma contrapartida da empresa beneficiada.

No Nordeste, o Estado que mais se destacou emplacando projetos na Finep foi o Ceará que conseguiu o total de R$ 564,4 milhões no período citado acima. Desse total, R$ 88,7 milhões foram de recursos não reembolsáveis, R$ 12 milhões de subvenção e R$ 463,6 milhões de operações de crédito.

Na mesma base de comparação, a Bahia registrou liberações de R$ 77,7 milhões de recursos não reembolsáveis, R$ 11 milhões em subvenção e R$ 363,2 milhões em operações de crédito. Também no mesmo período, os projetos realizos por empresas e instituições em Pernambuco obtiveram R$ 172,8 milhões de recursos não reembolsáveis, R$ 13,1 milhões de subvenção e R$ 137,4 milhões em operações de crédito.

“Somos um supermercado da inovação. Financiamos hoje o que o BNDES vai financiar daqui a 10 anos”, resume o diretor de Finanças, Crédito e Captação da Finep, Márcio Stefanni, se referindo às várias linhas nas quais a instituição pode fazer um aporte financeiro apoiando desde a pesquisa científica básica até projetos inovadores. A Finep é vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

Dos três Estados que lideraram as liberações no Nordeste, Pernambuco foi o que recebeu mais recursos destinados às universidades por causa da força dessas instituições no Estado, sendo contempladas a UFPE, UFRPE, Univasf e Unicap. No Estado, as liberações incluíram apoio ao Centro de Síntese em Mudanças Ambientais e Climáticas (Simaclin) da UFPE (R$ 9,9 milhões) e o Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste – Cetene (R$ 4,8 milhões).

Ainda em Pernambuco, foram liberados também R$ 6,5 milhões para pesquisas da UFPE voltadas ao desenvolvimento de medicamentos e inovações terapêuticas para infecções causadas pelos vírus da dengue, zika e chikungunya e o Núcleo de Empreendedorismo e Residência Profissional Tecnológica do Porto Digital com R$ 13,7 milhões.

Nos recursos não reembolsáveis, na Bahia foram liberados R$ 18,5 milhões para a expansão do Centro Nacional Multiusuário em Biodiversidade do Senai; R$ 15 milhões para o fortalecimento e ampliação do Cimatech Park; e R$ 2,4 milhões para valorização da cadeia produtiva do sisal no semiárido. Na mesma categoria, o Ceará registrou liberações de R$ 3,8 milhões para o Centro de Inovação Tecnológica do Cariri; R$ 2,3 milhões para o desenvolvimento de insumo de base proteica da castanha de caju e do amendoim da Embrapa; e R$ 2 milhões para um projeto de pesca artesanal do Instituto Federal (IFCE), entre outros.

“Somos um dos principais financiadores de parques tecnológicos e centros de inovação”, disse Márcio. Segundo ele, depois de alguns anos de desmonte, a Finep voltou a ser protagonista no apoio à inovação no Brasil, com a atual gestão recompondo a integridade do fundo que quase acabou na gestão anterior.

Principal parque tecnológico da capital recifense, o Porto Digital obteve, via edital, recursos não reembolsáveis para restaurar um prédio onde vai funcionar a parte voltada para empreendedorismo e residência digital, na Rua Maria Cesar, no Bairro do Recife. “Historicamente, o governo de Pernambuco e a Finep foram os maiores apoiadores do Porto Digital. Sempre buscamos disputar os editais da Finep”, comentou o presidente do Porto Digital, Pierre Lucena. A obra de restauração deve começar por estes dias.

O executivo considera importante o uso de recursos da área de C&T no Nordeste. Segundo ele, “isso é essencial porque a gente tem uma concentração imensa de recursos em Rio e São Paulo, principalmente em São Paulo. E acrescenta: “a gente precisa ter balanceamentos regionais, porque senão, com a reforma tributária, a gente já vai ver a indústria toda se transportando pra Manaus – por conta do incentivo fiscal – e pra São Paulo por causa da infraestrutura”.

As linhas disponíveis na Finep

Finep atua como secretaria executiva do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), sendo responsável pela parte operacional do fundo. “Quando é infraestrutura da pesquisa, atuamos com convênios com universidades e Instituições Científicas e Tecnológicas (ICTs). Vai virar produto, mas ainda é muito arriscado, temos a subvenção econômica não reembolsável destinadas às empresas. E também temos o crédito – em condições adequadas – para aqueles produtos que podem ir ao mercado”, resume Stefani. Nas três modalidades, os recursos saem de fonte própria e do FNDCT.

Ainda entre os Estados do Nordeste, quem liderou as operações de crédito quem foi o Ceará com projetos como os de provimento de serviços móveis com maiores velocidades e de suporte à operação 5G da Brisanet (R$ 180 milhões); o projeto de inovação em sustentabilidade para reúso de água, redução de combustíveis fósseis e processo de rejeitos industriais da Cimento Apodi (R$ 168,7 milhões); e o projeto de conservação do material genético para desenvolvimento de camarão da Aquafort (R$ 5,1 milhões).

Em Pernambuco, este instrumento de apoio já beneficiou empresas como Atel (R$ 800 mil), Pernambuco Química (R$ 10 milhões) e MV Informática (R$ 38,9 milhões). Stefanni argumentou que a competitividade dos financiamentos aumentou depois da Lei 14.554/2023, que substituiu a TJLP pela TR para indexação das operações. Esta alteração fez o crédito oferecido pela Finep ficar mais barato.

Com investimentos da ordem de R$ 80 milhões por ano em tecnologia e inovação, a empresa MV já fez alguns projetos com recursos emprestados pela Finep. No final de 2024, a empresa conseguiu um empréstimo no valor de R$ 98 milhões para um projeto que será desenvolvido em quatro anos. A empresa vai desenvolver soluções na área de saúde que consigam trazer um ecossistema integrado de toda o setor.

A empresa também venceu um edital para receber recursos não reembolsáveis da ordem de R$ 30 milhões no qual a companhia vai entrar com uma contrapartida de R$ 20 milhões. “Este projeto faz parte de um arranjo produtivo no qual vão participar a Universidade Federal do Piauí mais duas empresas na área de Inteligência Artificial (IA) e tecnologia para desenvolver uma solução na área de saúde”, explicou o diretor de Tecnologia e Produto da MV, Andrey Abreu.

Sem entrar em muitos detalhes por causa da estratégia da empresa, as soluções a serem desenvolvidas vão usar IA e trazer um ecossistema integrado de toda a área de saúde indo desde antes da hora que o paciente está em casa ao pós hospitalar. Segundo Andrey, isso vai possibilitar a informação do paciente em toda a cadeia de saúde com uma jornada fluida.

Os ganhos podem ser muitos. Por exemplo, ele cita que se um médico pediu um exame, o paciente não vai precisar fazer de novo o mesmo exame, caso faça uma consulta em outro médico.

As soluções a serem desenvolvidas vão deixar a jornada mais digital e menos burocrática. “Mais de 60% do tempo do médico são gastos com burocracia”, disse Andrey. Segundo ele, a MV está engajada para ajudar o Brasil a ser mais digital na área de saúde em 10 anos. “Isso vai resultar numa saúde mais acessível e mais digital”, comentou.

Cerca de 60% dos hospitais do Brasil usam alguma solução da empresa que impacta um terço da população brasileira. A empresa tem sede no Recife e atua em mais 10 países da América Latina, além do Brasil.

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