Nizan: "É hora da estratégia"
No Recife para participar de evento com líderes empresariais, Nizan Guanaes visitou a Folha de Pernambuco
Aos 64 anos como ele gosta sempre de lembrar, o estrategista de comunicação Nizan Guanaes – que já foi considerado um dos cinco brasileiros mais influentes do mundo pela revista “Financial Times” – está à frente, hoje, da N Ideias, empresa com apenas duas pessoas na equipe: ele mesmo e uma assistente. No Recife para participar do Almoço dos CEOs - um encontro com 250 líderes empresariais promovido pelo Experience Club Nordeste – Guanaes visitou ontem (17) a Folha de Pernambuco, quando recebeu do presidente do Grupo EQM, do qual faz parte a Folha de Pernambuco, Eduardo de Queiroz Monteiro, a medalha de 130 anos da Usina Cucaú e Companhia de Melhoramentos de Pernambuco.
Juntamente com o presidente, estavam a sua esposa, Cláudia Portela; a diretora administrativa e de marketing do jornal, Mariana Costa; a editora-chefe da redação, Leusa Santos; além dos diretores do grupo Leonardo Monteiro, Joanna Costa, Paulo Júlio, Eduardo Cunha e Joni Ramos, a arquiteta Flávia Monteiro, o advogado Renato Rissato e demais jornalistas da empresa de comunicação. Em um bate-papo totalmente descontraído, quando demonstrou ser fã da cantora britânica Dua Lipa, um dos maiores nomes da comunicação brasileira falou sobre temas como marketing, inovação, economia e até um pouco sobre política.
Estratégia
Ao ser questionado sobre o grande desafio das marcas atualmente, o estrategista é enfático ao colocar que as mudanças dos últimos anos foram radicais. “O grande desafio das marcas hoje é identificar uma ‘dor’ que o consumidor tenha. Antigamente, um produto criava uma necessidade. Hoje é uma necessidade que cria o produto. É preciso olhar para a sociedade e resolver problemas”, analisa.
Sobre a N Ideias – a qual se dedica integralmente desde 2018 – Guanaes reflete que ela tem sido, talvez, o maior sucesso da sua história – logo ele que colecionou sucessos e prêmios ao longo da carreira como publicitário. “A N Ideias é completamente disruptiva e ela sou eu. Hoje estou completamente focado em estratégia. Acho que houve a era da propaganda e agora é a era da estratégia”, conta o empresário.
“O que é estratégia? Antigamente, você falava para o especialista em marketing: estou com dor de dente e o publicitário respondia: o remédio é anúncio. Todos os problemas eram respondidos com anúncios. O mundo não é mais assim. Agora, o anúncio pode ser, por exemplo, uma embalagem, um evento ou uma experiência. Então, o papel do estrategista é dizer qual é o seu jogo. Eu tenho poucos clientes na N Ideias. Mas eles me ligam de manhã, tarde e noite. E eu respondo imediatamente. Estratégia é isso. É você se posicionar”.
Inovação
Se teve um assunto em que Nizan Guanaes não escondeu seu entusiasmo foi seu ingresso no mundo das startups – onde tem atuado como investidor. “Eu fui escolhendo as coisas com o seguinte critério: que fossem simples e que sejam tão óbvias que até eu consigo entender”, brinca. Entre as escolhidas estão, por exemplo, a Trybe, uma escola de programação na qual o aluno só começa a pagar depois que estiver empregado; a Mossa, que atua no mercado de crédito de carbono e Mottu - que aluga motos para motoristas de aplicativos.
Entre os investimentos realizados no segmento, ele conta que algumas estão no caminho de se tornarem unicórnios – que no jargão da área de tecnologia são aquelas empresas avaliadas em mais de um bilhão de dólares antes de abrir seu capital em bolsas de valores. Seu objetivo agora é estruturar um fundo de investimento para realizar esses investimentos e poder ter gestão sobre eles.
“As empresas me procuram e eu vou escolhendo de acordo com o que eu entendo. A vida inteira eu trabalhei com isso. Então, eu vejo muito claro onde cada uma delas vai dar. Eu já fui locutor de rádio e sei identificar um sucesso. E também aprendi uma coisa a duras penas: você pode ter o melhor negócio do mundo. Mas se não tiver o gestor, não adianta. E eu gosto de quem trabalha sábado e domingo. Quem não é obcecado, não vai acontecer”.
Pernambuco
Como um dos maiores nomes do marketing no País, o baiano Nizan Guanaes fez uma análise pragmática sobre o “produto” Pernambuco. “Pernambuco precisa saber se vender. Desde sempre foi um estado mais low profile. A Bahia é mais exibida’, brincou o soteropolitano para depois completar: “Se eu fosse o Recife, estaria no mundo inteiro em road shows dizendo que é a capital tecnológica do Brasil. Montava um board de especialistas para capitanear esse trabalho”. E ainda lembrou: “Não tem nada mais regional, joguem global”
Desigualdade
Para o empresário, a polarização que existe no Brasil está acontecendo no mundo todo. “E o pano de fundo disso é a desigualdade que é absurda. Acho a iniciativa privada importante, acho legítimo quem construiu seu dinheiro como aconteceu com boa parte das pessoas da área de tecnologia. Mas o que me incomoda é a desigualdade com o resto da população. Não podemos, simplesmente, olhar a tecnologia tirando emprego, montando empresas que não pagam impostos e os estados assistindo a isso”, alerta. Em sua opinião, as redes sociais acentuam essas diferenças, fazendo com que muitos exponham sua vida ‘feliz’, enquanto os outros assistem ‘a festa do lado de fora’. “O Brasil e Estados Unidos são os dois países mais desiguais das Américas”.
Política
Deixando claro que suas análises não são partidárias e sim, novamente, estratégicas, Nizan Guanaes falou um pouco sobre a política e as eleições deste ano – que, em um artigo recente, ele considerou que será “uma ópera, onde não vai caber música de elevador”. “O momento é quente e no mundo. O que estamos vivendo aqui aconteceu nos Estados Unidos, acabou de acontecer na França (referindo-se à disputa eleitoral entre o presidente reeleito Emmanuel Macron e Marine Le Pen)”. Além disso, Guanaes colocou sua preocupação sobre o fato de a política não atrair a população mais nova. “Os jovens estão comandando a economia brasileira. Mas eles não têm a menor representatividade na política. Toda vez que eu começo a falar de política no meu grupo de Harvard, eles não querem nem saber”, contou o, hoje, aluno de uma das universidades americanas de maior prestígio no mundo. Ao citar o atual cenário político do Brasil, o estrategista afirmou que “a terceira via não compareceu ao baile”.