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No furação da crise no INSS, novo ministro da Previdência tenta se desvincular do 'padrinho' Lupi

No dia a dia passou a compartilhar a rotina nas redes sociais

O ex-deputado do PDT Wolney Queiroz é atual secretário-executivo do ministério da previdênciaO ex-deputado do PDT Wolney Queiroz é atual secretário-executivo do ministério da previdência - Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

Wolney Queiroz se equilibra entre o entusiasmo de ter chegado no topo de sua trajetória política, como ministro da Previdência, no olho do furação da maior crise do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: as denúncias de descontos indevidos em benefícios pagos pelo INSS.

Com a tarefa de encontrar uma solução que recomponha o dinheiro desviado de aposentados e pensionistas e esfrie a temperatura do escândalo, ele tenta se desvencilhar lentamente da gestão anterior, de Carlos Lupi, de quem foi braço-direito, enquanto buscando mostrar ao presidente Lula que tem estatura para o cargo.

— Não tenho como negar que é o melhor momento da minha vida na política chegar a ser ministro, e num governo do presidente Lula, mas o momento é delicadíssimo. Tenho que mostrar para a sociedade que tudo vai ser apurado — resumiu Wolney ao Globo.

Nessa tarefa, tem despachado diariamente do Palácio do Planalto, e todas suas ações passam pelo aval da Casa Civil. Em uam dessas ações, inicou os processos de mudança em relação ao seu antecessor revogando uma portaria que tirava poderes do presidente do INSS.

No dia a dia, passou a compartilhar a rotina nas redes sociais. Em uma das primeiras publicações como ministro, fez questão de dizer que sua atuação anterior era “mergulhada na parte burocrática do ministério”.

A aliados no governo e amigos, Wolney tem dito que tinha autonomia limitada como secretário-executivo e que Lupi conduzia diretamente as nomeações-chave. Ao Globo, afirmou desconhecer quem indicou o ex-procurador-geral do INSS Virgilio Oliveira Filho e o ex-diretor de Benefícios André Fidelis, ambos investigados no suposto esquema dos descontos em aposentadorias e pensões, o que ambos negam.

Como secretário-executivo, Queiroz afirmou que só levou para o ministério três pessoas: seu motorista, sua secretária e Osório Chalegre Oliveira, adjunto. No meio de idas e vindas ao Palácio do Planalto para acertar, por exemplo, o plano de ressarcimento às vítimas das fraudes, começou a mudar a estrutura do ministério. Demitiu Marcelo Panella, que ocupava a chefia de gabinete de Lupi e é tesoureiro nacional do PDT.

Carreira no Congresso
Queiroz chega ao cargo de ministro aos 52 anos tendo como única experiência prévia no Poder Executivo os dois anos como secretário-executivo da pasta da Previdência sob a batuta de Carlos Lupi. Sua carreira política foi quase totalmente dedicada ao Legislativo. Disputou todas as eleições de sua trajetória pelo PDT de Leonel Brizola e de seu pai, José Queiroz, o Zé, que foi deputado estadual em Pernambuco e prefeito de Caruaru por quatro mandatos. A cidade é a quarta maior do estado em população, com 378 mil habitantes.

Wolney entrou na política no início dos anos 1990. Foi eleito vereador de Caruaru aos 20 anos, em 1992, na mesma eleição em que seu pai conquistou o segundo mandato como prefeito. Dois anos depois, foi eleito deputado federal. Antes de terminar o mandato na Câmara Municipal, em 1994, foi eleito deputado federal. Não conseguiu se reeleger em 1998, mas assumiu o cargo no fim da legislatura como suplente. Reelegeu-se a partir de 2006 por quatro mandatos consecutivos.

Na Câmara, ganhou reputação de bom trânsito entre diferentes bancadas. É amigo, por exemplo, dos deputados Arthur Lira (PP-AL), Lindbergh Farias (PT-SP) e de Orlando Silva (PC do B). Membro do chamado baixo clero durante boa parte de sua atuação parlamentar, ganhou relevância em seu último mandato, quando foi líder do PDT e, em 2022, da oposição ao governo de Jair Bolsonaro.

Em 2022, chegou a trabalhar abertamente contra a candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República e defendeu que o PDT apoiasse Lula já no primeiro turno. Apesar dessa atuação no Legislativo, não se reelegeu: obteve 63.242 votos, quase 20 mil a menos do que na eleição anterior. Na campanha, declarou à Justiça Eleitoral guardar R$ 431 mil em espécie.

No Parlamento, votou contra o teto de gastos e a reforma trabalhista do governo Michel Temer. No governo Bolsonaro, deu votos contrários à Reforma da Previdência, defendida por especialistas como necessárias para equilibrar as contas dos regimes de aposentadorias.

Queiroz é presidente estadual do PDT em Pernambuco e já teve atritos com Carlos Lupi em disputas locais. Em 2024, foi contrário ao apoio articulado por Lupi à governadora Raquel Lyra (PSDB), adversária histórica de sua família. Wolney e Lyra têm como base o município de Caruaru.

Wolney também é empresário e hoje é sócio de uma distribuidora e uma administradora de imóveis.

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