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Pesquisa

Nos salões de beleza, mulheres são maioria, mas ainda ganham 19% menos do que os homens, diz estudo

Pesquisa da consultoria Provokers aponta ainda que profissionais brancos recebem 21% mais do que negros

Embora a maioria dos profissionais cabeleireiros seja formada por mulheres, elas ainda ganham 19% menos que os homens.Embora a maioria dos profissionais cabeleireiros seja formada por mulheres, elas ainda ganham 19% menos que os homens. - Foto: Freepik

Nos salões de beleza do país, a desigualdade ainda se reflete entre a busca pelo corte ideal e a tintura certa para o cabelo. Embora a maioria dos profissionais cabeleireiros seja formada por mulheres, elas ainda ganham 19% menos que os homens.

É o que revela o estudo inédito “Na raiz do PRO – Um retrato do brilho, das conquistas e dos anseios dos profissionais cabeleireiros”, realizado pela consultoria Provokers.

O levantamento, feito a pedido da divisão de produtos profissionais do Grupo L’Oréal no Brasil, traz mais dados sobre as disparidades salariais. A diferença também aparece na cor da pele: profissionais brancos recebem 21% a mais que os negros. Já entre os recortes de orientação sexual, os heterossexuais têm renda 23% superior à dos homossexuais.

Rendimento
Ainda segundo a pesquisa, o ganho médio de um trabalhador formal de salão de beleza é de R$ 5.950. O valor está acima da média nacional per capita (por pessoa) no Brasil, que é de R$ 2.069, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A pesquisa também revelou que muitos cabeleireiros acabam se tornando donos do próprio salão, como uma renda média de R$ 11.200. Já os trabalhadores autônomos ganham R$ 4.950 por mês, em média.

A maioria (87%) diz que pretende continuar na carreira. Mas, para isso, é preciso fazer cursos de qualificação, aponta a categoria. Até por isso, 74% dos entrevistados dizem ter procurado formação na área antes de começar a trabalhar.

Perfil
Das mulheres que trabalham no setor, 52% são pretas ou pardas, e15% dos profissionais são LGBTQIAP+, o que representa um número 2,5 vezes maior em relação à participação desse grupo dentro da população em geral.

"A desigualdade salarial ainda é uma realidade que atravessa a nossa profissão e, infelizmente, reflete desigualdades que vêm de muito antes do salão", resume a hairstylist Vivi Siqueira, acrescentando: "Homens ganham mais que mulheres, brancos mais que pessoas negras. E isso precisa mudar".

A cabeleireira Leyla Maciel confirma a percepção de que a desigualdade no setor ainda é grande.

"Já notei que as mulheres brancas ganham mais porque, muitas vezes, conseguem ter acesso a uma educação melhor. Por isso, estou sempre tentando buscar nova formação, embora seja difícil ter tempo, dinheiro e achar o lugar certo", diz.

Para Joana Fleury, diretora da Divisão L’Oréal Produtos Profissionais do Grupo L’Oréal no Brasil, os dados da pesquisa são um reflexo de um problema muito maior, que é a desigualdade estrutural no país.

- O desafio da igualdade salarial é estrutural e vai além do setor da beleza. Ele reflete desigualdades históricas de gênero, raça e orientação sexual que ainda estão muito presentes na sociedade brasileira - conclui.

Leyla Maciel, cabeleireira de um salão na Tijuca, na Zona Norte do Rio, lembra que a profissão permite ganhos maiores que a média, mas é preciso correr atrás de melhores oportunidades

— Já notei que as mulheres brancas ganham mais porque, muitas vezes, conseguem ter acesso a uma educação melhor. Por isso, estou sempre tentando buscar nova formação, embora seja difícil ter tempo, dinheiro e achar o lugar certo.

Embora o setor movimente mais de R$ 130 bilhões por ano e conte com mais de 1,3 milhão de MEIs ativos, a profissão ainda carece de regulamentação. Hoje, não existe um curso superior nem técnico em cabeleireiro.

Com isso, são as próprias empresas do setor que acabam formando os profissionais — desde redes de salão até fabricantes de tinturas. Para Joana, é preciso firmar um pacto setorial pela formalização da educação de base.

— Sempre fazemos um comparativo com a gastronomia, setor que também tinha muita informalidade, mas que evoluiu, e hoje temos, inclusive, escolas internacionais atuando no Brasil e uma profissão valorizada pela sociedade em geral. A profissão de cabeleireiro reúne mais de 850 mil profissionais no Brasil. A informalidade, em parte, está ligada à ausência de uma formação técnica formal e à facilidade de entrada no mercado, que, embora democrática, dificulta a criação de parâmetros claros de remuneração e benefícios— comenta Joana.

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