Operadoras locais dão fôlego ao avanço do 5G no País
Livro com artigos de 42 especialistas do BNDES reúne soluções para retomar o crescimento do Brasil, da economia à cultura
Operadores locais de internet, ou provedores de pequeno porte, vêm atuando como locomotivas na expansão do acesso à banda larga no país, e devem seguir assim na implementação da rede 5G, afirmam os engenheiros Ricardo Rivera e Carlos Azen. Elas já somam seis mil empresas liderando esse serviço em pequenas e médias cidades, além de áreas rurais, respondendo por quase metade (46%) dos acessos de banda larga no Brasil.
Enquanto a gigante Claro abocanha 42,2% dos municípios com mais de um milhão de habitantes, naqueles com uma população de até 500 mil, a liderança é dos provedores regionais, destacam os especialistas. No leilão do 5G realizado ano passado empresas desse grupo, como Sercomtel, Brisanet e Coud2U, adquiriram frequências da rede de telefonia de quinta geração.
— Já temos provedores regionais com faturamento superior a R$ 1 bilhão, grupos que foram para a Bolsa. A grande maioria dos municípios no país tem como líder em banda larga uma operadora de pequeno porte. É fenômeno único no mundo. Em outros países de grande dimensão territorial, como Estados Unidos e China, há muito investimento estatal onde as grandes não vão — pontua Rivera.
Os dois especialistas assinam o capítulo “Telecomunicações: perspectivas para o Brasil na era do 5G”, que integra o livro “O labirinto visto de cima: saídas para o desenvolvimento do Brasil” (Editora Lux, 320págs., R$ 70), organizado pelos economistas Fabio Giambiagi e Ricardo Barboza.
A obra reúne artigos escritos por mais de 40 especialistas — de macroeconomia à cultura, passando por infraestrutura — e que são funcionários do BNDES, instituição que está completando 70 anos. Todos, porém, escrevem seus artigos em “caráter pessoal e cidadão”, não se tratando de uma obra do banco, diz Barboza:
— Há um ponto subjacente ao livro que é a ideia de que o Brasil parou de crescer nos últimos 40 anos. Então, ele traz um conjunto de caminhos apontados por especialistas que discutem isso dia a dia, sobre como vencer desafios para romper esse ciclo e retomar o desenvolvimento. É uma forma de colocar o dedo nas feridas já identificadas e listar soluções que podem ser adotadas.
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Em ano de eleições presidenciais, Giambiagi reforça o esforço para colaborar com a construção de políticas públicas eficientes:
— O livro traz uma agenda de propostas e soluções que pode ser abraçada por praticamente todo o espectro político. Após a polarização dos últimos anos, é preciso tentar definir um conjunto de políticas com um razoável grau de consenso, sobretudo em áreas que são centrais para o país — diz ele, destacando a vantagem de contar com uma equipe de funcionários públicos qualificados e técnicos nas mais diversas áreas para atuar nessa direção.
Desafios em telecom
Em telecomunicações, para embarcar com agilidade no 5G, o Brasil terá três desafios pela frente. O primeiro é investir na modernização na rede.
Depois, como o retorno a esse investimento vai pedir mais que receita vinda de uso de dados e voz, englobando negócios conectados, incluindo Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês), será preciso desenvolver um largo sistema de inovação no setor e, em paralelo, ampliar ao máximo a base de pessoas conectadas.
— A conectividade é um fator de ampliação da lacuna de acesso que temos num país de tamanho continental e grande desigualdade de renda e oportunidades. O avanço digital pode potencializar esse abismo. O 5G tem de vir logo e para todos. Quem sair na frente vai desenvolver modelos de negócios que vão derivar dessa nova tecnologia. Ter uma rede ampla que possamos experimentar melhor para alcançarmos ganhos econômicos, sociais e ambientais — diz Rivera.
Azen acrescenta que a Anatel, agência reguladora do setor, tem papel fundamental no processo pela determinação de contrapartidas como as estabelecidas no leilão do 5G, que vão resultar em digitalização das escolas e conectar as rodovias federais à Internet.
Para impulsionar as empresas, eles sugerem a ampliação de crédito às companhias de telecomunicações, com condições adequadas, como caminho para reduzir o custo de investimento. A dificuldade de rentabilibilizar aportes, como ocorre hoje, leva as grandes empresas a expandirem suas redes e serviços nas áreas de maior renda, densidade populacional e, por isso, de melhor retorno.
Outra alavanca seria o uso de debentures incentivadas das empresas para investir em redes de telecomunicações. Um mercado com novos atores, como as operadoras de pequeno porte, e os operadores de infraestrutura compartilhada também impulsionam o desenvolvimento da rede.