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NEGÓCIOS

Ozempic ameaça mercado bilionário de outros medicamentos, como cardiovasculares e para diálise

Ações de farmacêuticas rivais caem. Seguradora prevê queda de 10% nas vendas de tratamentos para doenças cardíacas, setor que só nos EUA fatura US$ 250 bilhões por ano

Novos medicamentos eficazes contra a obesidadeNovos medicamentos eficazes contra a obesidade - Foto: Reprodução Internet

O Ozempic é, sem dúvida, o medicamento mais famoso do mundo, um tratamento para diabetes que se transformou em uma alternativa rápida e eficaz para a perda de peso e cujas vendas dispararam nos últimos meses, mesmo em meio às dificuldades de garantir seu fornecimento.

Sua chegada ao mercado já acendeu o alerta para grandes fabricantes de alimentos, com analistas prevendo queda nas vendas. E isso pode ser só o começo.

Estudos recentes começaram a revelar outros benefícios do Ozempic e de medicamentos similares. Eles parecem ter um efeito protetor sobre o coração, fígado e rins. Além de ajudar na perda de peso, o que por si só reduz o risco de muitas doenças. Há sinais de que poderiam ajudar até mesmo a aliviar os sintomas do Alzheimer.

Isso é uma má notícia para uma ampla gama de fabricantes de medicamentos e dispositivos. Por exemplo, os americanos gastam cerca de US$ 250 bilhões por ano tratando doenças cardiovasculares, a principal causa de morte nos EUA. Isso inclui o que seguradoras e pacientes pagam por medicamentos para pressão arterial, cirurgia de bypass e dispositivos cardíacos implantáveis, como marcapassos.

Analistas da Wells Fargo Securities estimam que a nova geração de medicamentos do tipo do Ozempic poderia reduzir o mercado de tratamentos para doenças cardiovasculares em cerca de 10% até 2050.

Quando a Novo Nordisk anunciou em 10 de outubro que a eficácia do Ozempic no tratamento da doença renal era tão conclusiva que estava encerrando um estudo antecipadamente, isso provocou uma queda de US$ 3,6 bilhões nas ações dos provedores de diálise Fresenius Medical Care AG e DaVita Inc.

"Quase histeria"
Mas analistas alertam que há um certo exagero na reação dos mercados:

“Chegamos a um ponto de quase histeria em relação ao impacto (desses medicamentos)”, escreveu, em relatório recente, Matthew Taylor, um analista que cobre ações de dispositivos médicos para a Jefferies LLC. "A carnificina (em ações) na medtech tem sido notável, ampla, quase indiscriminada, afetando nomes que aparentemente não têm nenhuma ligação imediata (com o Ozempic)".

Apenas seis anos após sua introdução, o Ozempic já se tornou um dos medicamentos prescritos mais vendidos nos EUA, de acordo com a Symphony Health, e a Eli Lilly & Co. tem aspirações ambiciosas para seu medicamento concorrente, o Mounjaro. Quanto mais usos aprovados para diferentes tratamentos as empresas puderem obter enquanto seus medicamentos estiverem protegidos por patentes, melhor para os negócios.

O Ozempic foi aprovado para o tratamento do diabetes nos EUA em 2017, seguido pelo Mounjaro em 2022.

Em 2021, a Novo lançou uma versão de alta dose do Ozempic especificamente para a obesidade, chamada Wegovy. Devido à escassez do Wegovy e às semelhanças entre os medicamentos, o Ozempic e o Mounjaro também têm sido amplamente usados para a perda de peso, mesmo que sejam aprovados nos EUA apenas para o tratamento de diabetes.

O Mounjaro ainda é um medicamento relativamente pequeno para a Lilly, com cerca de US$ 480 milhões em vendas no ano passado, em comparação com US$ 880 milhões para o Wegovy e US$ 8,5 bilhões para o Ozempic. A Lilly espera que seu medicamento seja aprovado para a perda de peso ainda este ano, e isso pode ser apenas a ponta do iceberg.

"Isso é uma biologia transformadora" diz Richard DiMarchi, professor da Universidade de Indiana que passou mais de duas décadas na Lilly.

Os gastos com medicamentos movimentam cifras bilionárias nos EUA. Veja, abaixo, o tamanho desse mercado:

Alzhemeir: US$ 321 bilhões

Doenças cardiovasculares: US$ 251 bilhões

Diabetes: US$ 237 bilhões

Tratamentos para obesidade: US$ 173 bilhões

Doenças renais: US$ 125 bilhões

Doença hepática não alcoólica: US$ 103 bilhões

Tratamento para vícios: US$ 35 bilhões

Parkinson: US$ 25 bilhões

Custo ainda alto dos novos medicamentos
O Wegovy mostrou reduzir o risco de ataques cardíacos e derrames em 20% em pessoas com sobrepeso e histórico de problemas cardíacos. A Novo e a Lilly também estão realizando estudos para determinar se essa classe de medicamentos é eficaz contra a esteato-hepatite não alcoólica, uma forma grave de doença hepática.

Estima-se que mais de 64 milhões de pessoas nos EUA tinham doença hepática gordurosa não alcoólica em 2016, com custos médicos diretos anuais de cerca de US$ 103 bilhões, ou mais de US$ 1.600 por paciente.

Mesmo se os medicamentos forem aprovados para novos usos, ainda existem alguns obstáculos. O maior deles é o custo. O preço de referência do Ozempic é cerca de US$ 900 por mês e do Wegovy é mais de US$ 1.000. Isso é muito mais caro do que outros medicamentos cardíacos.

Seguradoras teriam que tratar numerosos pacientes com o Wegovy por anos a um custo total de US$ 1,1 milhão apenas para prevenir um ataque cardíaco, derrame ou morte cardiovascular, de acordo com uma análise recente da empresa de dados Airfinity Ltd. Especialistas dizem que os custos começarão a diminuir à medida que mais medicamentos do tipo do Ozempic estiverem disponíveis.

Cientistas acreditam também que essa classe de medicamentos poderá, no futuro, ajudar no tratamento da doença de Alzheimer ou do Parkinson, que custam cerca de US$ 350 bilhões por ano ao sistema de saúde dos EUA.

A Novo está testando se o ingrediente ativo no Ozempic ajuda pacientes em estágios iniciais da doença de Alzheimer. Esse estudo deve ser concluído em 2026.

Os outros ensaios clínicos das empresas abrangem uma variedade de condições, desde osteoartrite do joelho até apneia do sono. Ao mesmo tempo, pesquisadores externos estão cada vez mais entusiasmados com relatos de pessoas que usam o Ozempic e que não têm mais desejo por álcool, cigarros ou outras substâncias aditivas.

Sucesso similar ao Viagra
Lorenzo Leggio, um pesquisador nos Institutos Nacionais de Saúde, compara o desenvolvimento do Ozempic ao do Viagra. O medicamento para disfunção erétil foi originalmente desenvolvido pela Pfizer Inc. para pressão alta e dor no peito, mas os pesquisadores descobriram seu outro uso por acidente durante os ensaios clínicos. Ele acabou batendo o recorde de crescimento de vendas iniciais mais rápidas para um medicamento com prescrição.

Com a ampla adoção do Ozempic e formulações ainda mais potentes no horizonte, os especialistas dizem que as descobertas mais interessantes podem estar por vir.

"Há uma tremenda quantidade de inovação e novas informações que estamos examinando ao longo da próxima década" diz Daniel Drucker, um professor da Universidade de Toronto que ajudou a descobrir como esses medicamentos funcionam.

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