Entregadores

Paralisação nacional de entregadores por aplicativos pede por direitos básicos

Nesta quarta-feira (1º), entregadores por app de todo o país irão paralisar as atividades para provar sua importância diária e pedir por melhores condições de trabalho

Entregador segue trabalhando durante a pandemiaEntregador segue trabalhando durante a pandemia - Foto: Leo Malafaia / Folha de Pernambuco

Uma das muitas mudanças provocadas pela pandemia do novo coronavírus, nesses últimos meses, foi a dependência - grande - de entregadores. O delivery usando moto ou bicicleta se tornou a única forma de manter boa parte do comércio por causa da necessidade de isolamento social. Dentre os meios usados para compras, os aplicativos de entrega como Rappi, Ifood, Uber Eats, James, entre outros, fazem com que o produto chegue à nossa casa com segurança. Mas, diferente do que possa parecer, ao solicitar uma entrega por aplicativo não é o software de entrega que permite nossa estada em casa. É o entregador. É uma pessoa que diariamente se expõe aos mais diversos riscos para garantir o nosso isolamento ganhando, muitas vezes, “R$ 2,50, R$ 3,50 por taxa de entrega” de acordo com Rodrigo Lopes, presidente da Amap-PE (Associação dos Motofretistas de Pernambuco).

De acordo com os motofretistas, o valor das entregas caiu desde a chegada do novo vírus. No cenário de isolamento, devido à alta taxa de transmissão da doença, além de precisar trabalhar mais de 10 horas por dia para conseguir alcançar um salário mínimo, os entregadores também ficaram desassistidos com relação ao uso de equipamentos de proteção e higiene individual. Essa foi “a gota d’água” para dar início a uma série de demandas da categoria. Diversas organizações de entregadores por aplicativo entraram em consenso sobre a necessidade de uma paralisação nacional, programada para esta quarta-feira (1º). O #brequedosapps pede por aumento no valor das corridas e pacotes, aumento do valor mínimo por entrega e fim dos bloqueios e desligamentos arbitrários. Os entregadores também lutam pelo fim do sistema de pontuação e implantação de seguro de roubo, acidente e vida e auxílio durante a pandemia no caso de contágio pela Covid-19.

Em Pernambuco, a paralisação será realizada também de forma presencial. Os motofretistas irão se concentrar diante do Centro de Convenções do Estado, em Olinda, a partir das 8h, de onde sairão em marcha lenta em um percurso traçado pela Amap-PE.

Os trabalhadores do setor de entrega são categorizados como microempreendedores, mas, quando vinculados a um aplicativo, eles precisam comprovar documentação, estabelecer vínculo com a empresa, bater metas de trabalho e prestar contas (como qualquer trabalho formal). A falta de um mecanismo que garanta uma maior segurança para o entregador também aflige toda a categoria. Além de trabalhar em um veículo vulnerável, o motofretista por aplicativo não tem segurança em caso de roubo, acidente ou doença. A Amap-PE estima que existam atualmente cerca de 50 mil motofretistas que trabalham por aplicativo em Pernambuco.
 

Entregadores por aplicativo pedem por mais direitos

“Este momento de pandemia serviu para provar e mostrar que a categoria é importantíssima para todos. Todo segmento hoje que está funcionando, está trabalhando por delivery. A mão de obra principal do aplicativo é nossa. O aplicativo tem que valorizar mais ainda a categoria. Não é pra pagar o valor que ele quer, da forma que ele quer. Não é chegar e bloquear o motofretista a hora que ele quiser. Nós precisamos de respeito, precisamos ser ouvidos, precisamos de diálogo", defende Rodrigo Lopes. Segundo o presidente da Amap-PE, as empresas de app de entrega "bloqueiam o motofretista sem dar uma justificativa": "Nós precisamos ser mais reconhecidos também pelo governo. A luta é pelo aumento, pelo respeito, pelo reconhecimento”, explica.


Já imaginou a vida de um entregador?

Júnior

“Eu me inscrevi em todos os aplicativos e não fui aceito. Então, eu tive que alugar uma conta, eu rodo com uma conta alugada”, conta Júnior, que também trabalha usando uma moto alugada. “Eu pago ao rapaz R$ 150 por semana pela moto e mais R$ 100 da conta”.

O dia de trabalho de Júnior começa às 10h. Por volta das 13h, ele faz entrega para um comércio específico, durante toda a tarde. À noite, trabalha numa pizzaria, que paga R$ 100 por semana pelas quatro horas diárias trabalhadas no período. Ao largar do bico na pizzaria, por volta da 0h, ele volta a rodar pelo aplicativo até 3h da manhã. E, assim, trabalhando mais de 15 horas por dia - 6 apenas por aplicativo -, Júnior se mantém como provedor financeiro da família, com companheira e dois filhos. “O aplicativo paga pouco mesmo, a diária eu fecho, nos dias em que pego muita corrida mesmo, com R$ 50 a R$ 60”, relatou.

De acordo com o motofretista, as corridas não apresentam um aumento financeiro em relação ao risco que o entregador passa. “Tem dia que eu faço corrida de madrugada mesmo, corrida de 5 quilômetros, por R$ 5”, disse. Júnior destacou que algumas pessoas fazem questão de pagar um valor a mais para o motoqueiro. “Tem entrega que a galera faz questão mesmo e pagar R$ 3 ou R$ 4. Às vezes, eu mesmo peço em casa e dou um valor para o motoqueiro porque sei a dificuldade que a gente passa. Passamos por chuva, por dentro de lugares perigosos, subimos e descemos escadarias, saímos no sol quente. A gente se arrisca muito”, completou.

Mateus

“Eu faço entrega por aplicativo há 3 meses, comecei por conta do desemprego. Fui demitido no início da pandemia do coronavírus”, confessou Mateus.

Mesmo com pouco tempo de trabalho como entregador, Mateus já conseguiu sentir todas as dificuldades da categoria. “As empresas não pagam um valor justo para o entregador. É um dinheiro muito esforçado e você só é pago a partir do momento em que você sai do estabelecimento para o cliente. Indo buscar o produto no estabelecimento não recebemos nada. Eu acho isso muito injusto para o entregador”, contou.

De acordo com o recém-chegado motofretista, a categorização do entregador como microempreendedor é inadequada. “É óbvio que não é um empreendimento. É mais por necessidade. As empresas de aplicativo deveriam ter um vínculo maior com o entregador. São eles que dependem da gente e nós dependemos dos clientes”, completou.

Conversando às 18h, Mateus estava desde a manhã na rua, tendo feito apenas duas entregas durante todo o dia: “A média do que eu tiro por mês é R$ 500. É raro chegar até um salário mínimo”. Ele usa apenas um tipo de aplicativo para entregas.

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