Preços do café seguem em alta e valor pago ao produtor atinge maior patamar em 28 anos
Média da saca de 60 quilos da variedade arábica chegou a R$ 2,3 mil em janeiro
O ano de 2025 começou como terminou 2024 em relação ao café: com preços em alta e em patamares recordes. O indicador médio de preços do café arábica pagos para o produtor registrou, em janeiro deste ano, o maior patamar para esta variedade da série histórica do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), campus da USP em Piracicaba, São Paulo. A saca de 60 quilos bateu em R$ 2.301,60 em janeiro, maior valor desque que as cotações começaram a ser registradas em setembro de 1997.
O valor representa aumento de 6,8% em relação à média de dezembro, com acréscimo de R$ 146,72. Segundo pesquisadores do Cepea, os preços elevados seguem refletindo a oferta restrita tanto de arábica como de robusta no Brasil e no mundo, além do alto percentual de café já comercializado por produtores nacionais.
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Os indicadores do Cepea mostram que os preços continuam subindo. No dia 31 de janeiro, a saca de 60 quilos do café robusta chegou a R$ 2.074,00. Já a saca da variedade arábica encerrou o mês cotada a R$ 2.508,00, perto do recorde de R$ 2.550,00, alcançado em fevereiro de 2024.
Segundo dados do Cepea/Esalq, a valorização do robusta em 12 meses é de cerca de 173%, já que a mesma saca custava R$ 759 um ano atrás. No caso do arábica, a valorização é de 145%, no período — o preço estava em R$ 1.009,00 um ano atrás, segundo levantamento feito pelo pesquisador da área de café do Cepea, Renato Garcia Ribeiro.
— O preço do robusta já é recorde e o do arábica está próximo. São os preços pagos ao produtor, ou seja, pelo café verde, sem torrefação ou beneficiamento. O motivo é que o consumo não caiu, apesar da alta dos preços, e os dois maiores produtores globais, Brasil e Vietnã, vão colher menos que o normal. E os estoques estão enxutos — explica Ribeiro.
Café teve alta de 39% para o consumidor
De acordo como IBGE, o preço do café torrado e moído teve alta para o consumidor de 39,60% em 12 meses. O produto fechou 2024 em R$ 48,90 e atualmente está na casa de R$ 50 por quilo. Essa diferença entre a valorização do preço da commoditie para o produtor e para o consumidor indica que novos aumentos na ponta do consumo estão a caminho. A expectativa é de uma alta de 20% no produto este ano, segundo o mercado. O Se isso acontecer, Renato Ribeiro, do Cepea, acredita que o consumo pode cair um pouco.
O analista de café do Rabobank, Guilherme Morya, lembra em relatório que, além dos elevados patamares dos preços nos mercados globais, a valorização do dólar frente ao real brasileiro também colaborou para a alta do produto. Ele avalia que as incertezas sobre a extensão dos danos à próxima safra 2025/26 brasileira (com clima irregular em algumas regiões), continuam trazendo volatilidade ao mercado.
No Brasil, depois de quatro safras de recordes consecutivos, a colheita deve ser menor este ano. A chuva só aconteceu em outubro e começou fraca. Mesmo com a chuva atual, a safra não vai se recuperar, prevê Ribeiro, do Cepea. A colheita começa em maio e a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a produção de café no Brasil em 2025 seja de 51,8 milhões de sacas. Esse número representa uma queda de 4,4% em relação à safra anterior. Isso não gera excedente para reforçar o estoque, deixando o consumo igual á oferta.
"Em dezembro, a maioria das regiões de café arábica, exceto Guaxupé, recebeu chuvas acima da média. Em contraste, foram observados precipitações abaixo da média nas regiões de café conilon/robusta", diz o analista em seu relatório.
Exportação recorde
Já no Espírito Santo, isso não é uma grande preocupação devido aos altos volumes acumulados de chuva e há uso de irrigação. Mas Rondônia enfrenta desafios com as condições quentes e secas dos últimos meses. Tempestades de granizo isoladas no sul de Minas Gerais tiveram impactos localizados, afirma o analista do Rabobank.
"Até o momento, em janeiro, as chuvas vêm ocorrendo na maior parte das regiões produtoras de café, porém no sul de Minas Gerais o clima segue um pouco mais irregular", afirma Morya.
— O Brasil produz cerca de 60 milhões de sacas ao ano, sendo 40 milhões da variedade arábica e 20 milhões de robusta. Já o Vietnã, produz metade: 30 milhões de sacas (sendo 29 milhões de robusta e 1 milhão de arábica) — detalha Ribeiro, lembrando que a Colômbia é o terceiro maior produto global, com 12 milhões de sacas, seguida da indonésia — 10 milhões se sacas.
Em dezembro, o Brasil exportou 3,8 milhões de sacas de café. Apesar de uma queda de 22% ao mês anterior e de 8% na comparação anual, o país totalizou 50,4 milhões de sacas exportadas em 2024, um recorde, representando um aumento de 29% em relação a 2023.