Suspensão do acordo de grãos pela Rússia não deve ter grande impacto nos preços, diz diretor da CNA
Segundo Bruno Lucchi, preço do milho já está muito baixo. Fertilizantes são uma 'incógnita'
O diretor-técnico da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno Lucchi, disse, nesta terça-feira (18), que a suspensão, pela Rússia, do acordo que permite a exportação de grãos ucranianos por meio de um corredor humanitário no Mar Negro não terá impacto significativo nos preços dos produtos que mais interessam ao Brasil: o milho e, em menor proporção, o trigo. Por iutro lado, segundo Lucchi, o que acontecerá com os fertilizantes ainda é "uma incógnita".
Em julho do ano passado, a Rússia assinou um acordo, intermediado pela ONU, que criou um corredor humanitário, para que a Ucrânia pudesse vender 32 milhões de toneladas de grãos para países pobres e em desenvolvimento. Do total, 51% foram milho, 27% trigo, 11 produtos de girassol e 11% outros alimentos. Porém, Moscou decidiu suspender o trato, sob a alegação de que 36% e 49% de milho e trigo, respectivamente, foram para nações desenvolvidas.
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Bruno Lucci explicou que o impacto será pequeno no mercado interno e não deverá ter reflexo significativo na inflação, porque o preço do produto está bastante reduzido. No Brasil, a cotação da saca de 60 quilogramas, que há um ano era de R$ 82,36, caiu para R$ 54,52, uma queda de 34%. Em estados como o Mato Grosso, o preço da saca chega a R$ 29.
— O milho é usado, principalmente, como ração para animais. E preço do produto está muito baixo — afirmou.
Ele destacou que, além da safra recorde no Brasil, há uma oferta mundial de 314 milhões de toneladas, ante 286 milhões de toneladas em 2022. Caso falte o produto ucraniano, os exportadores brasileiros podem mais vender no mercado externo e compensar as perdas que tiveram com a queda dos preços.
— Por outro lado, países importadores, como China e Espanha, poderão comprar mais do Brasil — acrescentou Lucchi.
Outro fator é que a Ucrânia teve problemas com a safra, devido à falta de insumos causada pela guerra. No ano passado, disse o economista da CNA, os ucranianos exportaram 28 milhões de toneladas de milho e, em 2023, a previsão é de 19 milhões de toneladas.
No caso do trigo, o Brasil tem outros fornecedores, como Estados Unidos, Canadá e Argentina. Lucchi não acredita em reajustes generalizados nos preços.
Quanto aos fertilizantes, ele avalia que é impossível fazer qualquer estimativa neste momento. Lembrou que houve problemas de abastecimento em 2022 e que possivelmente os preços de adubos e defensivos podem aumentar. Mas isso aconteceria, em maior intensidade, se houvesse conflito no Mar Negro.
— Não apenas os fertilizantes ficariam mais caros, mas também o frete e o resseguro. O que vai acontecer com os fertilizantes é uma incógnita — afirmou.
Segundo Lucchi, a Rússia foi responsável por 25% do total de fertilizantes importados pelo Brasil — quase tudo é comprado no exterior. Entre outros países fornecedores, estão China, Canadá, EUA e Marrocos.