Trump "pausa" tarifas por 90 dias, mas intensifica guerra comercial com a China
País foi o mais atingido, com um aumento de 104%, que acabou ficando em 124%
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O presidente americano, Donald Trump, deu uma guinada em sua guerra comercial nesta quarta-feira (9), ao anunciar uma “pausa” de 90 dias nas tarifas aplicadas para demonstrações de países, com exceção da China, sobre as quais imporá taxas de 125% em resposta à retaliação de Pequim.
"É preciso ser flexível", justificou o republicano a jornalistas na Casa Branca.
Ele descobriu que seu anúncio de uma ocorrência tarifária generalizada na semana passada "assustou um pouco" os investidores e os deixou "febris".
Trump admitiu estar acompanhando de perto o mercado de títulos do Tesouro dos EUA, considerado um valor-refúgio, que vem sofrendo nos últimos dias.
Em sua plataforma Truth Social, o presidente acusou a China de considerar uma “falta de respeito” e puniu o país com tarifas alfandegárias de 125%, “com efeito imediato”.
“Esperamos que, num futuro próximo, a China perceba que os dias de enganar os Estados Unidos e outros países já não são sustentáveis ou aceitáveis”, acrescentou.
Horas depois de zombar de seus parceiros comerciais, dizendo que estavam "ele beijando o traseiro" para negociar acordos "sob medida", Trump escondeu parcialmente.
Como mais de 75 países solicitaram negociações, ele autorizou "uma pausa de 90 dias e uma tarifa recíproca beneficiária reduzida durante esse período, de 10%, também com efeito imediato".
Ele os premiou por, segundo ele, não terem retaliado.
E Wall Street respondeu aos novos anúncios. Os índices Dow Jones e Nasdaq dispararam.
O industrial Dow Jones subiu 7,9%, o ampliado S&P 500 subiu 9,5%, e o tecnológico Nasdaq avançou 12,2%. O preço do petróleo, deprimido pelo risco de recessão, começou a subir.
Uma "estratégia"
Horas antes da reviravolta, o presidente havia recomendado aproveitar a queda das bolsas para “comprar” ações.
As pesquisas mostram uma crescente desconfiança dos norte-americanos em relação ao seu presidente imprevisível, mas seus apoiadores pretendiam defendê-lo.
“Essa foi a estratégia dele desde o início”, afirmou o secretário do Tesouro, Scott Bessent, sobre o presidente, que aposta nas tarifas para reduzir o déficit comercial, equilibrar as contas públicas e relocalizar diversas atividades industriais.
Um dos seus assessores mais próximos, Stephen Miller, elogiou a "estratégia magistral" e a "ousadia" de Donald Trump, que, segundo ele, teve como efeito "isolar" Pequim.
O republicano gerou pânico no mundo inteiro ao anunciar, há uma semana, tarifas alfandegárias sobre produtos de 60 parceiros comerciais.
A China foi a mais atingida, com um aumento de 104%, que acabou ficando em 124%.
Essas tarifas pagas em vigor por apenas cerca de doze horas antes de serem suspensas — com exceção de Pequim.
A China respondeu aos impostos de Trump anunciando que aumentaria as suas tarifas alfandegárias sobre produtos dos Estados Unidos para 84%, em vez dos 34% inicialmente previstos, a partir de quinta-feira às 04h01 GMT (01h01 em Brasília).
A União Europeia, sujeita desde meados de março a tarifas norte-americanas de 25% sobre aço e alumínio, apresentou nesta quarta-feira suas primeiras contramedidas contra mais de 20 bilhões de euros (R$ 133,7 bilhões) em bens “fabricados nos Estados Unidos”.
A lista inclui produtos agrícolas como soja, aves e arroz. Também prevê taxas de até 25% sobre madeira, motocicletas, produtos de plástico e equipamentos elétricos.
Riscos para o comércio
Mas Bruxelas disse estar disposto a suspender as medidas "a qualquer momento" para alcançar um acordo "justo e equilibrado" com Washington.
Resta saber como Pequim reagirá ao ataque de Donald Trump, que garantiu que a China “quer” um acordo, mas não “sabe muito bem como o fará”.
A guerra comercial mundial gera temores de aumento da inflação, queda no consumo e não crescimento.
Ela poderia reduzir o comércio de bens entre as duas maiores economias do mundo “em até 80%” e eliminar “quase 7%” do PIB global a longo prazo, alertou nesta quarta-feira a diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Ngozi Okonjo-Iweala.
Além disso, não está descartada uma escalada diplomática entre China e Estados Unidos, cuja relação já é tensa.
Pequim instou quarta-feira seus cidadãos a nesta tomarem atitudes extremas caso viajem aos Estados Unidos.

