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Fiz da minha vida uma missão: pôr-me sempre a serviço de Pernambuco e do povo pernambucano

Sua morte, no último sábado, deixará uma lacuna política como poucas para o Estado

Marco MacielMarco Maciel - Foto:

"Fiz da minha vida uma missão: pôr-me sempre a serviço de Pernambuco e do povo pernambucano", disse Marco Maciel, em seu discurso de despedida do Senado Federal, em 2010. A declaração marcou o fim do último mandato eletivo que consta em sua longa biografia e oferece uma perspectiva daquilo que sempre foi o norte da trajetória política do líder pernambucano. Maciel nunca esqueceu suas origens e sempre se pautou por elas. Sua morte, no último sábado, deixará uma lacuna política como poucas para o Estado. Ele deixou a viúva Anna Maria Maciel e filhos.

Movimento estudantil
Foi da inspiração do movimento estudantil que assumiu seu primeiro cargo público em 1966, na Assembleia Legislativa de Pernambuco, como deputado estadual pela Arena . O líder começou e terminou sua carreira no Legislativo. Um movimento que não pode ser interpretado como uma mera coincidência. O estilo macielista encontrou no Parlamento seu ambiente mais propício. Era lá que a arte do diálogo e da conciliação era posta em prática. Em sua trajetória política, Marco Maciel ocupou diversos cargos de relevo. No Executivo, chegou a ser governador de Pernambuco, ministro e vice-presidente da República, mas foi no Legislativo que Marco Maciel atuou nos bastidores de alguns dos episódios mais importantes da história do País.

Líder do governo
E mesmo quando não fez história, ele foi a própria história. Em seu primeiro mandato, Marco Maciel já dava sinais do político prodígio que viria a ser, ao ser convidado pelo então governador Nilo Coelho para ser líder do Governo na Casa. O cargo, que exige grande capacidade de articulação e conhecimento, geralmente é oferecido para lideranças experientes, mas foi confiado ao jovem líder promissor. Para responder ao desafio, Marco Maciel ofereceu dedicação integral ao trabalho.

Câmara dos Deputados
Ao chegar à Câmara dos Deputados, foi mais uma vez história, ao se tornar o parlamentar mais jovem a presidir a Casa, aos 36 anos. Em 1970, ele foi indicado pelo presidente da República, Ernesto Geisel, para o posto. Foi na passagem pelo comando da Casa que Marco Maciel enfrentou um dos pontos mais críticos de sua carreira. Uma derrota do projeto de reforma judiciária do Governo na Câmara Federal incitou a ira dos militares que deram como uma resposta a edição do pacote de abril. Um dos atos mais duros do regime, a medida fechou temporariamente o Congresso Nacional. "Ele teve um certo ônus porque era o presidente da Câmara, mas não tinha muito o que fazer. Era uma decisão de força, todos passaram por isso naquela época", avalia o ex-ministro José Jorge.

Reabertura
Se Marco Maciel encarou um dos mais duros golpes para a democracia, ele também teria uma participação estratégica no período de reabertura política. O pernambucano foi um dos principais articuladores do período de transição entre o regime militar e a volta da democracia. Considerado um conservador de perfil moderado, Maciel rompeu com o PDS, sucessor da Arena, ajudando a criar o PFL (hoje Democratas), que se alinhou com Tancredo Neves contra Paulo Maluf na eleição indireta para suceder o presidente militar João Figueiredo.
Com a vitória da chapa, Marco Maciel acabou virando ministro da Educação do Governo de Sarney, que assumiu a presidência após a morte de Tancredo Neves. Em seguida, acumulou passagens pelo Executivo, incluindo a vice-presidência da República.

União por Pernambuco
Sua volta ao Congresso se deu na costura de uma chapa histórica para a política pernambucana. A aliança liderada por Jarbas Vasconcelos como governador e Sergio Guerra e Marco Maciel para o Senado foi um dos maiores movimentos do xadrez político do Estado. Era o auge da chamada União Por Pernambuco, projeto que rivalizou por muitos anos com PSB e PT na conjuntura local.
Eleito senador, Marco Maciel foi oposição na Casa Alta ao Governo Lula. Manteve, na bancada antagonista do Congresso por oito anos, seu conhecido estilo articulador e discreto, mais voltado para os bastidores.  
Com o enfraquecimento do projeto da União por Pernambuco e a popularidade em alta da esquerda, acabou derrotado na sua última eleição para o Senado em 2010. Em uma despedida discreta, como era sua marca registrada, Marco Maciel entrou para a história como um dos principais e mais marcantes parlamentares de sua geração.

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