Dom, 07 de Dezembro

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Bicampeão mundial, parasurfista tem desafio inédito em Pernambuco

Portador de nanismo, o recifense Roberto Pino começou a competir profissionalmente aos 35 anos

Roberto Pino, parasurfista pernambucano, participa de dois campeonatos simultâneos em outubroRoberto Pino, parasurfista pernambucano, participa de dois campeonatos simultâneos em outubro - Foto: Arquivo Pessoal

“Hoje, o surfe para mim é tudo.” Com essa frase, o tricampeão brasileiro e bicampeão mundial de surfe adaptado, o parasurfista Roberto Pino, de 48 anos, sintetiza a sua relação com a modalidade em que obteve grandes conquistas ao longo dos seus 13 anos de carreira profissional. 

No começo de outubro, Pino viverá, pela primeira vez, a experiência de dois torneios no mesmo final de semana pela primeira vez. As provas ocorrem na praia de Borete, em Ipojuca, no Litoral Sul de Pernambuco.

Entre os dias 2 a 5 de outubro, Pino estará participando da categoria de baixa estatura do Campeonato Brasileiro de Parasurf, que serve como seletiva para o campeonato mundial que acontecerá em novembro deste ano. A outra disputa será a terceira etapa do Circuito Pernambucano na categoria Surf Adaptado, nos dias 4 e 5.

Em entrevista à Folha de Pernambuco, o surfista recifense contou que começou a competir apenas aos 35 anos.

Apesar de ter iniciado nas competições profissionais mais tarde, a relação do atleta com as ondas começou ainda na infância. 

Único portador de nanismo na família, Pino foi incentivado a iniciar no surfe pelos irmãos aos 7 anos durante o período em que a família morava na cidade de Belém, no Pará.

“Não tinha onda nem praia onde eu morava, mas eu morava em um condomínio que tinha uma piscina olímpica e meus irmãos já praticavam o surfe”, iniciou.

“Eles [meus irmãos] tiveram uma ideia de furar uma prancha de isopor, essas pranchas de supermercado que antigamente existiam, hoje não existem mais, [...] para eu ficar em cima da placa de isopor. E isso aconteceu várias vezes e eu fui pegando mais prática”, disse.

De volta a Pernambuco, o jovem Roberto passou a infância surfando na praia de Hotelzinho, em Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife. “Foi aí onde eu tive a minha infância toda aprendendo a surfar e treinar”, comentou.

Somente em 2012, Roberto Pino esteve em uma competição profissional pela primeira vez. Incentivado pelos amigos, o atleta decidiu participar de um campeonato no Cabo de Santo Agostinho, onde já chegou até a semifinal. 

“E nessa primeira competição minha, que eu nunca competi na minha vida, eu cheguei até a semifinal e faltou besteira para ir para a final”,  contou o atleta.

Depois da experiência inicial, o surfista não parou mais. Com uma rotina intensa de exercícios, ele treina cinco vezes por dia na Reserva do Paiva. “E passo 2 dias já estressado em casa porque não fui surfar”, brinca.

Apenas dois anos depois da estreia nas disputas, Roberto conquistou o seu primeiro título brasileiro, em 2014. Foi campeão na categoria Master - atletas entre 35 e 40 anos -, ao lado de competidores sem deficiência. Atualmente, ele é tricampeão e está em busca do tetracampeonato brasileiro.

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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Mundial
Em 2017, o convite para participar de uma competição mundial em San Diego, nos Estados Unidos, chegou faltando um mês e meio para o início das provas. Mesmo com pouco tempo de preparação, Roberto ficou em quarto lugar no torneio.

O título mundial veio em 2020, também em San Diego, mas não pode ser comemorado devido à pandemia do coronavírus. Já em 2023, foi a vez de o bicampeonato mundial ser conquistado em Los Angeles, com duas notas 10. As pontuações perfeitas são um feito raro na modalidade.

Roberto também já surfou ao lado de grandes nomes do esporte internacional, como os campões mundiais Gabriel Medina, Felipe Toledo e Ítalo Ferreira. Mas a experiência de participar de duas competições simultaneamente é inédita. 

“É a primeira vez que eu vou competir no mesmo final de semana ao mesmo tempo. Isso nunca aconteceu. Vamos lá ver se eu tenho esse esse gás ainda para competir dois campeonatos no mesmo tempo”, afirmou.

Denúncia 
Mesmo com a carreira vitoriosa, o preconceito afeta as competições de que Roberto participa. A legislação da Internacional Surfing Association (ISA) foi alterada, e a categoria de baixa estatura, a qual o surfista pertencia, passou a não existir mais.

“A gente agora tá tentando abrir o coração do ISA para ver se eles colocam uma categoria de baixa estatura só da gente. Esse é o propósito da seleção brasileira e de mais outros países”.

Família
Ao lado da esposa Maria Eliane, Roberto teve dois filhos que herdaram o amor pela modalidade. Otávio, de 18 anos, e Lara, de 16, também são portadores de nanismo e já levaram títulos de competições de surfe para casa.

Roberto Pino e os filhos Lara e OtávioRoberto Pino, surfista pernambucano, ao lado dos filhos, Lara e Otávio | Foto: Andréa Leal/Cortesia

“Desde novinho, ele [o filho Otávio] me acompanhava na praia surfando e ficavam na água brincando. Foi certo dia, ele tinha cinco anos de idade, aí eu fui fazer o teste se ele gostava de surfe e, na primeira ondinha  ele ficou em pé e ele gostou muito. E foi aí que eu comecei a treinar ele todo final de semana na beirinha do mar. E Lara, quando completou 5 anos também, eu fiz o teste também e eles pegaram um amor muito grande pelo surfe”, completou.

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