Esportes

Botões que transformam vidas

Ainda assim, uma brincadeira, inventada na década de 30, segue viva. Nela, as mãos é que assumem o protagonismo.

Vereador do Recife Ivan Moraes Filho (PSOL)Vereador do Recife Ivan Moraes Filho (PSOL) - Foto: Beto Figueiroa/Divulgação

 

Adaptar a paixão pelo futebol por meio de outras atividades é um costume antigo. Uma “simulação” responsável pela criação de derivados, como o futsal, além de jogos eletrônicos que tentam copiar através da tecnologia a emoção que somente uma bola nos pés poderia provocar. Com tantas opções, a competição por um espaço no coração daqueles que são apaixonados pelo esporte é árdua. Ainda assim, uma brincadeira, inventada na década de 30, segue viva. Nela, as mãos é que assumem o protagonismo.

Os gráficos, digamos, são de um realismo que os games jamais conseguirão imitar. Você pode comandar o jogador que quiser, com o time que preferir. Basta ter concentração, habilidade e um conjunto de botões que “obedeça” aos comandos. Neste fim de semana, essa “brincadeira” foi levada a sério, com a disputa do 43° Campeonato Brasileiro de Futebol de Mesa (regra toque 1), realizada na Centauro do Shopping Rio Mar, no Recife.

E não são apenas os mais velhos, acostumados a um tempo em que esse tipo de jogo era o mais popular, os únicos adeptos. Jovens também escolheram o botão. Não só como esporte, mas também como um transformador de personalidade.

Quem é Igor Francisco? Hoje, a resposta tem a inclusão de adjetivos como “educado” e “estudioso”, além de uma breve explicação sobre a boa relação com a avó, com quem vive na cidade de Aliança, no interior de Pernambuco - a mãe dele mora no Recife e o pai já faleceu. Mas os elogios são recentes.

“Eu era muito rebelde, costumava brigar e tirar nota ruim. Aí um amigo meu chamou para jogar futebol de mesa. Eu não conhecia o que era. Só queria jogar bola e videogame. Fui aprendendo e hoje eu gosto muito”, contou o jovem de 14 anos.

Igor e outros sete adolescentes que estreiam amanhã nas categorias júnior e infantil treinam no Clube Municipal de Aliança, sob os olhares do professor Antônio Ribeiro, de 53 anos. “Tirando dois ou três, o resto dos garotos que eu ensino aqui são de origem humilde. Sei que existe o risco de alguns deles seguirem o mau caminho, por isso tento ensinar não só o futebol de mesa, mas também mostrar a importância da educação”,

disse o treinador. “Aqui, eu só aceito quem tira nota boa na escola e quem respeita a família. Costumamos dar um troféu no final do ano para o aluno mais comportado, mais inteligente e mais disciplinado no jogo e na vida”, completou.

A única lamentação de Ribeiro recai no pouco investimento que a modalidade recebe. “Infelizmente a prefeitura (de Aliança) não tem condições de nos bancar.

Dos oito que estamos enviando para a competição, cinco deles vão por conta da ajuda da Confederação Brasileira de Futebol de Mesa. Os outros três eu mesmo resolvi as questões de alimentação, material e transporte”, explicou. “O importante é que estamos, com o esporte, mostrando um novo mundo para esses jovens. Muitos chegavam aqui agressivos e, com o passar do tempo, mudaram de personalidade. Os pais vivem dizendo que notam uma evolução no antes e depois do aprendizado no futebol de mesa”, concluiu.

Mais de 200 botonistas na disputa por título

Milhares de praticantes, alto grau de com­petitividade e disputas acirradas. Para quem está jogando o Brasileiro Individual Liso, futebol de mesa é mais do que um passa­tempo. Desde a última sexta-feira, 235 jogadores brigam pelo título nacional. Número que fez desta edição a maior de todos os tempos.

Além das categorias individuais (Especial, Sênior, Master, Júnior e Infantil), acontecerá também a competição por seleções, com dez estados inscritos. De acordo com a Confederação Brasileira de Futebol de Mesa (CBFM), o esporte já conta com 17 mil atletas e 154 clubes afiliados, entre eles dois de Pernambuco: Santa Cruz, atual campeão estadual da modalidade, e o Sport.

A modalidade disputada é a “1 T”, também conhecida como “baiana”. Os botões são lisos e os jogadores podem dar apenas um único toque na bola por vez. A regra se diferencia dos outros dois modelos, chamados “paulista” e “carioca”. No primeiro, o técnico pode dar três toques com cada jogador (botão), totalizan­do doze ao todo, antes de arriscar um tiro ao gol adversário. No segundo, o número de toques cai para um por peça, chegando ao máximo de três. O tamanho da mesa também varia para cada categoria, com a de um toque sendo maior que a de três e 12 toques.

Custos
Um time de futmesa pode custar entre R$ 180 e R$ 250. As maletas, objetos que os jogadores usam para guardar os botões, varia de R$ 250 a R$ 450. A régua, usada para mover as peças, entre R$ 10 e R$ 20. Para ter um campo completo em casa, o botonista precisará desembolsar cerca de R$ 1,4 mil. Por isso, a maioria dos jogadores se reúnem em clubes filiados na federação local para disputar jogos.

 

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